5 dicas para interpretar poesias para o vestibular

Confira como interpretar poesias para o vestibular e pratique

5 dicas para interpretar poesias para o vestibular

 

Poesia. No dicionário: composição em versos livres, geralmente providos de rima, com associações harmoniosas de palavras, ritmos e imagens.

A poesia é um tipo de texto literário muito presente no vestibular – toda edição da Fuvest, por exemplo, tem pelo menos um livro no formato de coletânea de poesias na lista de leitura obrigatória.

Ela tem uma linguagem diferente dos textos em prosa, o que causa uma certa preocupação nos alunos. Esse é o seu caso? Então, relaxe! Hoje vamos contar 5 dicas para interpretar de forma assertiva as poesias no vestibular.

1. Leia no mínimo duas vezes a poesia

Essa dica é geral e serve para todos os tipos de texto: leia sempre no mínimo duas vezes o texto. Leia, na verdade, quantas vezes for necessário para entender a poesia. “Ah, mas eu não tenho tempo no vestibular”. Já pensou não atingir a nota de corte por uma questão? Pois é.

Fazendo apenas uma leitura, a gente acaba deixando passar algum ponto importante, principalmente no caso das poesias que expressam informações subjetivas.

2. Identifique as figuras de linguagem

Outro passo muito importante é prestar atenção nas figuras de linguagem – será justamente aí que você encontrará algumas informações implícitas no texto. Preste atenção nas metáforas, nas antíteses ou em qualquer outra figura de linguagem que aparecer no poema.

Ter o conhecimento dessas figuras e saber interpretá-las é essencial para você conseguir fazer uma boa interpretação do texto.

3. Não deixe a sua opinião interferir na interpretação

Justamente por se tratar de um texto com muita subjetividade, não deixe a sua opinião e concepção sobre determinado tema interferir na interpretação da poesia. Leia sempre de modo neutro em relação ao ponto de vista do poeta, sem carregar preconceito sobre o assunto abordado.

Essa parece uma dica simples, mas é algo que fazemos no automático, sem perceber. Se o poema retrata o amor incondicional e você não acredita nesse tipo de amor, não se deixe levar pela sua natureza e entenda a posição do autor.

4. Conheça brevemente a vida dos autores

Essa dica é uma extensão das dicas anteriores. Procure conhecer a história de vida dos poetas – principalmente os mais abordados no vestibular. Saiba onde ele nasceu, quais as suas principais características como pessoa e como autor de textos. Confira os temas mais abordados em seus textos.

Ele é pessimista? Tem uma visão idealizada das coisas? Relata sempre problemas sociais? Respondendo essas e outras perguntas, você terá informações complementares que te ajudarão a interpretar as poesias.
5. Mantenha o hábito de leitura e interpretação de poesias

Por fim, mantenha o hábito de leitura de poesias. Ler é uma das formas mais naturais para ficar íntimo da linguagem e suas particularidades.

Quando já estiver habituado, leia uma poesia e faça a sua interpretação sobre o texto. Depois que você colocar no papel tudo sobre aquele poema, procure uma análise na internet ou livros sobre aquela poesia que você leu. Confira se as suas ideias batem, veja o que outra pessoa conseguiu perceber e complemente suas informações.

Fazendo isso com frequência você vai exercitar, se familiarizar e interpretar de forma natural no momento da prova.

Carlos Drummond de Andrade é um dos poetas mais citados no ENEM
Foto: reprodução/divulgação

Que tal praticar?

Vamos fazer a interpretação de um poema de Carlos Drummond de Andrade, chamado “Poema de Sete Faces”.

POEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Carlos Drummond de Andrade. ANDRADE, C. D. Poesia até agora. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1948.

Análise:

A primeira coisa que podemos perceber é que no “Poema de Sete Faces”, Carlos Drummond de Andrade fala sobre a sua vida – é um poema biográfico. Em exatas sete estrofes, ele conta desde seu nascimento, passa pela adolescência (fase dos desejos), até retratar a sua vida adulta. Mais do que isso, ele deixa claro o seu modo de ver a vida.

Esse poema foi publicado em 1930 em seu primeiro livro “Alguma Poesia”. Seus versos são livres e misturam uma linguagem oral com erudita – ele menciona palavras em francês, como gauche.

Ele aborda, de uma forma sombria, o seu modo de ser, como se ele fosse predestinado desde sempre a ser uma pessoa desajeitada, errante e amaldiçoada por um anjo do escuro.

“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida”

Nesse momento ele já descarta implicitamente a possibilidade de uma visão romântica e esperançosa da vida. Ele mostra-se torto desde seu nascimento, longe da figura abençoada e iluminada.

“As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos”

Logo na segunda estrofe, ele cita os desejos – muito presentes na juventude. Nesse momento ele faz uma crítica aos fatos que são escondidos durante à noite. Se não fossem os sentimentos repreendidos e camuflados pelas pessoas, a sexualidade representada dos homens, a noite poderia ser tranquila e azul. Mas não é.

“O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada”

Na terceira estrofe, ele se refere às pessoas apenas como número, citando suas pernas – o que fica claro a visão de massa. São pernas de todas as cores, de diversas raças e etnias. Há tanta gente, mas tanta solidão ao mesmo tempo.

“O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode“

Em seguida, ele desenha uma imagem na mente do leitor, descrevendo uma pessoa séria, forte, de pouca conversa, que se esconde atrás de seus óculos e bigode. Mas será que essa pessoa é forte assim? Ou muitas vezes nos fazemos passar por uma imagem para ter mais respeito? Essa máscara que adotamos pode ser um mecanismo de defesa.

“Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco”

Na quinta estrofe ele decide questionar por que Deus o deixou viver no mundo das sombras, já que ele sabia que era fraco. É nesse momento em que ele demonstra-se indignado.

“Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração”

Um pouco antes de encerrar o texto, ele mostra o tamanho de sua solidão e tristeza. O mundo é vasto, porém seu coração é mais. Ele se vê sem opção para sair daquela condição – já não vê formas de se endireitar e deixar de ser torto.

“Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.”

Em sua última estrofe, Carlos Drummond de Andrade revela que tudo o que foi dito pode ter sido escrito num momento em que estava bebendo – e que, além de ter a possibilidade de álcool ter intensificado a sua visão naquele momento, a bebida pode ter dado coragem para se expressar em seu poema.

É por tudo isso que o “Poema de Sete Faces” só reforça a visão pessimista e negativa do homem, adotada por Drummond.

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