Arcadismo: o que é, características e mais!

Conheça o Arcadismo, movimento literário que renovou a Europa e o Brasil no século XVIII, pregando a simplicidade, e aprenda os principais autores e obras.

Arcadismo: o que é, características e mais!

O movimento literário denominado Arcadismo emerge em uma das mais importantes e efervescentes épocas da História do Brasil, a Inconfidência Mineira.

Também chamado de Neoclassicismo, por retomar os conceitos e valores da Antiguidade Clássica, esse estilo de época e seus principais autores merecem a atenção do vestibulando. Por isso, preparamos este material, com tudo o que você precisa saber sobre o que foi o Arcadismo e as principais características do movimento, que podem ser cobrados no Enem e em outras provas.

O que é Arcadismo?

Para começar, é preciso entender o que é Arcádia, de onde se origina o nome dessa escola literária, para compreender os fundamentos do movimento. Arcádia é um lugar imaginário, em que reinam a felicidade e a alegria. Foi descrito em vários mitos gregos e retomado por autores de diferentes períodos, passando a designar as escolas literárias.

Especialmente no Arcadismo, os valores da simplicidade e da busca de uma vida feliz e tranquila — em contraposição ao tumulto das grandes cidades que se formavam na Europa na segunda metade do século XVIII — eram ressaltados pela burguesia. Essa classe social criticava os abusos e o estilo de vida da nobreza e do clero.

Por isso, prezavam por um estilo de vida mais comedido, sem excessos e próximo à natureza, ambiente perfeito para colocar em prática seus valores. Vale comparar Barroco e Arcadismo para verificar as diferenças em relação à forma e ao conteúdo dos textos literários.

Enquanto a arte barroca lidava com a polaridade (homem x Deus, céu x inferno etc.) e a riqueza de detalhes, o Arcadismo desconstruiu valores que predominaram por quase três séculos e passou a valorizar a pureza, a perfeição da Arte e as formas simples.

Características do Arcadismo

As características dessa escola literária se desenvolveram em função de um contexto histórico marcado pela ascensão do Iluminismo e pela presença marcante do racionalismo. O mundo fervilhava com novas descobertas e com o progresso da ciência.

O pensamento burguês sobrepunha-se à decadência da nobreza e de seus ideais. Na Literatura, as principais características do Arcadismo são:

  • valorização da mitologia grega (inclusive com autores adotando pseudônimos de pastores gregos);
  • inspiração na teoria do Bom Selvagem, de Rousseau, segundo a qual “o homem nasce bom e puro, mas a sociedade o corrompe”;
  • nativismo;
  • presença de temas relacionados ao pastoralismo e ao bucolismo (valorização da vida no campo).

Arcadismo em Portugal

A Arcádia Lusitana foi fundada em Portugal em 1756, inaugurando o período do Arcadismo naquele país. Consistia em uma reunião de escritores e artistas com o objetivo de discutir Arte. O movimento era tão organizado que tinha até um estatuto e um lema: Inutilia truncat — em português, “acabem com as inutilidades”.

Seus principais autores pregavam o fim do rebuscamento sintático, tão marcante nos textos do Barroco, e isso se refletia em textos simples, sem exageros. A escrita era simples em termos de forma e de conteúdo.

Arcadismo no Brasil

O Arcadismo no Brasil teve início em 1768, também com a fundação de uma arcádia, a Ultramarina. Seus valores eram semelhantes aos pregados em Portugal, com a diferença de que havia um forte apelo nacionalista e nativista, haja vista o momento político vivido na Colônia.

Por isso o Arcadismo brasileiro ficou tão ligado aos Inconfidentes e a Tiradentes — muitos deles membros da Arcádia —, que tiveram influência no movimento de Independência do Brasil, em 1808.

A Literatura seguia os ideais portugueses, ou seja, os autores usavam pseudônimos e idealizam uma vida perfeita no campo, junto à natureza, onde se chegaria próximo à perfeição. Os versos eram simples, sem muitas inversões sintáticas.

Porém, é importante ressaltar que essa proximidade com a natureza se dava no plano das ideias, apenas nos textos. Na realidade, os poetas moravam nas cidades, exerciam suas profissões e, muitos deles, tinham até posses.

escrevendo carta arcadismo

Principais autores do Arcadismo

Os autores do Arcadismo são conhecidos principalmente pelo hábito de adotar um pseudônimo. Eles não usavam os próprios nomes para assinar seus escritos, mas uma espécie de codinome. E, ainda, nomeavam da mesma forma, as amadas.

Os principais autores do Arcadismo são:

  • Tomás Antônio Gonzaga, autor de Marília de Dirceu;
  • Cláudio Manuel da Costa, que escreveu Obras poéticas;
  • Gonçalves de Magalhães, autor de Suspiros poéticos e saudades.
  • Basílio da Gama, que, diferentemente de seus colegas, optou por outro gênero literário e fez o poema épico O uraguai;
  • Santa Rita Durão, responsável pela escrita de Caramuru, outro poema épico.

Arcadismo: Literatura

Vamos conhecer um pouco da Literatura produzida nesse período? A seguir, você lerá o clássico trecho que inicia a obra Marília de Dirceu, dividida em três partes, e cada uma, por sua vez, dividida em liras.

Na Lira I, o pastor Dirceu (pseudônimo de Tomás Antônio Gonzaga) mostra a Marília (na verdade, Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, noiva do poeta) suas próprias qualidades e as vantagens de abraçar a vida no campo:

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,

Que viva de guardar alheio gado;

De tosco trato, d’ expressões grosseiro,

Dos frios gelos, e dos sóis queimado.

Tenho próprio casal, e nele assisto;

Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;

Das brancas ovelhinhas tiro o leite,

E mais as finas lãs, de que me visto.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

Perceba que ele usa a primeira pessoa (eu) e intitula a amada como segunda pessoa, chamando-a pelo vocativo. Ele afirma que tem uma casa para morar, que tem seu próprio gado para cuidar e que, apesar de ser meio “bronco”, vive muito bem alimentado e vestido. E prossegue:

Eu vi o meu semblante numa fonte,

Dos anos inda não está cortado:

Os pastores, que habitam este monte,

Com tal destreza toco a sanfoninha,

Que inveja até me tem o próprio Alceste:

Ao som dela concerto a voz celeste;

Nem canto letra, que não seja minha,

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

Nessa estrofe, Dirceu continua enaltecendo a vida que leva: compõe músicas e toca instrumento tão bem que causa inveja aos outros pastores, como Alceste (pseudônimo de Cláudio Manoel da Costa). E, sendo tão bem dotado, quer convencer Marília a ficar com ele:

Mas tendo tantos dotes da ventura,

Só apreço lhes dou, gentil Pastora,

Depois que teu afeto me segura,

Que queres do que tenho ser senhora.

É bom, minha Marília, é bom ser dono

De um rebanho, que cubra monte, e prado;

Porém, gentil Pastora, o teu agrado

Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

Nesse trecho, ele coloca aos pés dela todas as suas posses e diz que nada tem valor se não for do agrado da amada.

Esse período literário é marcado pela valorização da beleza, dos ideais clássicos e simples. Para os poetas do Arcadismo, tudo que fosse simples seria belo e, consequentemente, levaria à felicidade.

Por isso, não podemos deixar de ressaltar o grande slogan do movimento, o Carpe diem. Essa expressão latina que significa “curta o dia”, “aproveite o momento” foi lembrada no filme Sociedade dos poetas mortos (1990).

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