Romantismo no Brasil: tudo sobre um movimento literário, artístico e filosófico

Entenda o que foi o romantismo no Brasil, quais suas principais características e em como pode cair na sua prova!

Romantismo no Brasil: tudo sobre um movimento literário, artístico e filosófico

O tema sobre o Romantismo no Brasil é um dos favoritos do Enem e da Fuvest. Ele foi, não somente um movimento artístico (como nas artes plásticas e no teatro), mas também filosófico, combinando o racionalismo formal com uma visão mais emocional, enfatizando o “eu”, a criatividade e o valor subjetivo da arte.

Além disso, o movimento foi crucial para revolucionar a prosa e a poesia brasileira, influenciando nas próximas manifestações culturais.

Se você vai prestar esses vestibulares e quer saber quais são os principais assuntos que você tem que conhecer: desde os principais autores até identificar textos de cada uma das fases do romantismo. Está preparado? Então vamos lá!

O que foi o Romantismo no Brasil

O impulso do Romantismo surgiu como um contraponto da intensa racionalização e mecanização provenientes da revolução industrial. Ele é marcado por um ambiente intelectual de grande rebeldia, oposição à realidade social e inconformismo às regras que determinavam o fazer artístico, principalmente na literatura. Para explicar o que foi o Romantismo no Brasil, primeiro vamos entender suas origens.

Com foco nas emoções e expressão da subjetividade, o Romantismo literário abriu espaço para que o artista criasse livremente, o que também refletia o cenário externo, aquilo que acontecia na esfera social. Originalmente surgido na Alemanha, que estava se formando como nação, o Romantismo teve bases nacionalistas e se mostrou como espaço para a religação à natureza e também à essência humana.

Como você verá a seguir, esse contexto foi um marco em comum para o Brasil, que passava justamente pelo processo de independência de Portugal.

Contexto histórico do Romantismo no Brasil

A melhor forma de conhecer uma escola literária é acompanhando o cenário da época. Com o contexto histórico do Romantismo no Brasil, você percebe que ele foi uma necessidade que caminhou ao encontro da independência do nosso país. Após o grito da independência em 1822, surge uma nova mentalidade no povo brasileiro, que deseja reforçar a nova realidade, negando tudo o que tinha origem na cultura portuguesa.

Além disso, o país atravessava um momento marcado por reformas políticas, ânimo de liberdade, necessidade de construção dessa nova nação e, principalmente, destaque para o nacionalismo e valorização da nossa pátria. Semelhante ao contexto histórico do Romantismo europeu, a situação, ao mesmo tempo em que criava uma certa insegurança em relação ao novo modelo, também inspirava com os novos ares.

Um marco que aponta para o início do Romantismo no Brasil foi o livro “Suspiros Poéticos e Saudades” de Gonçalves de Magalhães, no ano de 1836. Veja o trecho inicial do prefácio, que expõe como o Romantismo não está ligado a um lugar ou vertente específica, mas principalmente ao compromisso do escritor consigo, não podendo ser as obras julgadas pela forma e, sim, sentidas pelo leitor.

“Lede

Pede o uso que se dê um prólogo ao livro, como um pórtico ao edifício; e como este deve indicar por sua construção a que divindade se consagra o templo, assim deve aquele designar o caráter da obra. Santo uso de que nos aproveitamos para desvanecer alguns preconceitos, que talvez contra este livro se elevem em alguns espíritos apoucados.

É um livro de poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora sentado entre as ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço; ora na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus e os prodígios do cristianismo; ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre túmulos; ora, enfim, refletindo sobre a sorte da pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida. São poesias de um peregrino, variadas como as cenas da natureza, diversas como as fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento e se ligam como os anéis de uma cadeia; poesias d’alma e do coração, e que só pela alma e o coração devem ser julgadas ”

Características do Romantismo no Brasil

Com relação aos aspectos que marcam a literatura desse movimento, podemos destacar como principais características do Romantismo no Brasil:

  • o rompimento com a cultura precedente, a escola literária do Arcadismo com o predomínio da racionalidade, ciência e cultura pagã;
  • a subjetividade e valorização das expressões dos sentimentos e manifestações do eu;
  • a arte voltada para o povo, surgimento de um público consumidor da cultura (com o surgimento de tecnologias que agilizavam a produção, surgiram os folhetins);
  • a liberdade e originalidade, com a criação da forma livre de regras;
  • a idealização da mulher, muitas vezes culminando no amor platônico;
  • o indianismo, no qual o índio é apresentado como herói;
  • a evasão, ou um escape (escapismo) do mundo real;
  • o patriotismo, com expressões de nacionalismo chegando à sua forma exacerbada, que é o ufanismo;
  • a religiosidade, na qual o escritor ou poeta se sustenta como resposta para a insegurança e incerteza, além do contraponto ao cientificismo presente no Neoclassicismo (ou Arcadismo);
  • a exaltação da natureza.

Fases do Romantismo no Brasil

No Brasil, o Romantismo durou de 1836 a 1881, dividido em 3 gerações. Esse foi o primeiro movimento a autenticar a literatura nacional brasileira, contribuindo para a criação de uma identidade cultural própria do nosso país.

Romantismo no Brasil primeira geração

O Romantismo no Brasil, primeira geração, está muito ligado ao ufanismo, uma vez que o país tinha se tornado independente recentemente. Outra temática muito explorada nessa época é o indianismo, apresentando o índio como elemento de ligação à pátria e à natureza (e riquezas naturais) próprias do Brasil. O foco foi um resgate da essência história e cultural do país.

O trecho a seguir do poema I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, marca bem a característica indianista:

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo Tupi.

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci:

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.

Segunda geração do Romantismo no Brasil

Já a segunda geração do Romantismo no Brasil, também conhecida como mal do século, recebeu grande influência da poesia de George Gordon Byron, ou Lord Byron. A melancolia e o pessimismo ganham destaque e o medo, o sofrimento e os vícios são temas abordados nessas produções. A fuga da realidade se apresenta com um saudosismo à infância, exaltação da morte e no medo do amor.

Também conhecida como Ultrarromantismo, nessa fase do movimento romântico os autores já não tinham tanta afinidade com o nacionalismo. Houve maior exacerbação dos sentimentos, levando a um egoísmo.

Com relação à mulher, que até então era retratada de forma respeitosa (com o amor puro e cortês — presente desde o Trovadorismo), agora tem um novo papel. A partir de então, o poeta demonstra certa sensualidade em relação à mulher, para a qual ele sugere ter desejos sexuais, mas percebe que não é digno de tocá-la. A poesia Visões da Noite, de Fagundes Varela, faz parte dessa etapa:

Visões da noite

Passai, tristes fantasmas! O que é feito

Das mulheres que amei, gentis e puras?

Umas devoram negras amarguras,

Repousam outras em marmóreo leito!

Outras no encalço de fatal proveito

Buscam à noite as saturnais escuras,

Onde, empenhando as murchas formosuras,

Ao demônio do ouro rendem preito!

Todas sem mais amor! sem mais paixões!

Mais uma fibra trêmula e sentida!

Mais um leve calor nos corações!

Pálidas sombras de ilusão perdida,

Minh’alma está deserta de emoções,

Passai, passai, não me poupeis a vida!

Terceira geração do Romantismo no Brasil

Entre 1870 e 1881 manifestou-se a terceira geração do Romantismo no Brasil. Inspirada nas produções do escritor francês Vitor Hugo, essa fase também foi nomeada como Geração Condoeira, em atribuição ao Condor (águia, falcão), que tem uma visão mais ampla, simbolizando que nessa etapa os poetas haviam alcançado a maturidade e liberdade fundamentais para suas produções.

Historicamente, o Brasil estava vivendo um momento de pensamentos em favor de um Brasil republicano (consequentemente, o fim da monarquia) e com foco no abolicionismo, promovendo o final da escravidão (que começou em 1850, se concretizando em 1888). Dessa forma, o nacionalismo brasileiro deixa de ser representado apenas pela cultura europeia e indígena, integrando-se também o reconhecimento pela identidade negra.

Por um lado, a poesia do Romantismo no Brasil, 3ª geração, estava empenhada em denunciar as condições de trabalho dos escravos e a realidade social e econômica no país e, por outro, surgiu também uma nova representação da mulher. Agora, ela deixa de ser algo puro, quase divino como na primeira geração ou apenas sensual, como na segunda, para uma relação erótica e a consumação do amor.

O poeta Castro Alves foi um dos principais autores do Romantismo no Brasil, tanto para uma abordagem abolicionista, sendo também conhecido como poeta dos escravos. Com poemas como O Navio Negreiro, no qual apresentamos um trecho do quarto canto, a seguir:

IV

Era um sonho dantesco… o tombadilho  

Que das luzernas avermelha o brilho. 

Em sangue a se banhar. 

Tinir de ferros… estalar de açoite…  

Legiões de homens negros como a noite, 

Horrendos a dançar…

Negras mulheres, suspendendo às tetas  

Magras crianças, cujas bocas pretas  

Rega o sangue das mães:  

Outras moças, mas nuas e espantadas,  

No turbilhão de espectros arrastadas, 

Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente… 

E da ronda fantástica a serpente  

Faz doudas espirais … 

Se o velho arqueja, se no chão resvala,  

Ouvem-se gritos… o chicote estala. 

E voam mais e mais…

Presa nos elos de uma só cadeia,  

A multidão faminta cambaleia, 

E chora e dança ali! 

Um de raiva delira, outro enlouquece,  

Outro, que martírios embrutece, 

Cantando, geme e ri!

Romantismo no Brasil autores e obras

Um assunto que tem grande chance de cair no Enem, o movimento literário romântico foi marcado pela prosa e poesia. Confira a seguir algumas informações sobre o Romantismo no Brasil, autores e obras.

Principais autores do Romantismo no Brasil

  • Gonçalves de Magalhães: poeta responsável por trazer o Romantismo para o Brasil;
  • Gonçalves Dias: importante poeta indianista e nacionalista, da primeira geração do Romantismo brasileiro;
  • Álvares de Azevedo: representante da segunda fase do Romantismo, expressava a angústia e melancolia da geração;
  • Casimiro de Abreu: assim como Álvares de Azevedo, também apresentava um subjetivismo exacerbado e grande melancolia. Entretanto, foi considerado como um poeta inocente, por retratar mais o saudosismo à infância;
  • Junqueira Freire: poeta também da segunda fase do Romantismo, tinha como marca a grande angústia e relação com a morte;
  • Fagundes Varela: inspirado na poesia de Lord Byron, abordava a angústia, a melancolia e o desengano;
  • Castro Alves: conhecido como Poeta dos Escravos, foi da 3ª geração do Romantismo. Ele contribuiu tanto com a denúncia em relação aos escravos, quanto escreveu poemas que apresentam a nova representação da mulher;
  • Tobias Barreto: poeta também da 3ª fase do Romantismo, abordava a escravidão e defendia a liberdade religiosa;
  • Bernardo Guimarães: boêmio e defensor do byronismo, contribuiu principalmente para a prosa romântica;
  • José de Alencar: um dos principais escritores em prosa do Romantismo brasileiro;
  • Franklin Távora: importante escritor da prosa romântica, foi responsável por introduzir o Romantismo regionalista no nordeste;
  • Machado de Assis: escritor que pertenceu ao final do Romantismo e início do movimento literário subsequente, o Realismo.

Principais obras do Romantismo no Brasil

Confira agora os principais romances e livros de poesia produzidos durante este movimento literário.

Romantismo no Brasil — poesia

  • Suspiros Poéticos e Saudades;
  • Os Mistérios;
  • Primeiros Cantos;
  • Últimos Cantos;
  • As Brasilianas;
  • Canção do Exílio;
  • Lira dos Vinte Anos;
  • As Primaveras;
  • Meus Oito Anos;
  • Noturnos;
  • Anchieta ou O Evangelho nas Selvas;
  • Diário de Lázaro;
  • O Navio Negreiro – Tragédia no Mar;
  • Espumas Flutuantes;
  • Vozes d’África;
  • Os Escravos;
  • Obras Poéticas;
  • Que Mimo;
  • O Gênio da Humanidade;
  • A Escravidão.

Romantismo no Brasil — prosa

  • O Ermitão de Muquém;
  • O Garimpeiro;
  • Lendas e Romances;
  • O Seminarista;
  • A Escrava Isaura;
  • O Cortiço;
  • Ubirajara;
  • Iracema;
  • O Guarani;
  • Lucíola;
  • A Viuvinha;
  • O Tronco do Ipê;
  • Ressurreição;
  • A mão e a luva;
  • Helena;
  • A Moreninha;
  • Memórias de um Sargento de Milícias;
  • O Noviço;
  • O Cabeleira;
  • O Matuto;
  • Inocência.

Viu como o movimento romântico foi muito importante para a literatura como também arte e filosofia no nosso país? O Romantismo no Brasil representou historicamente três grandes momentos que foram: o fim do Brasil Colônia e início do Brasil Império, a luta contra a escravidão e a favor do Brasil República. Marcado pelo sentimentalismo exacerbado e fim da preocupação com a forma, essa é uma matéria com grande possibilidade de ser abordada no Enem.

Se você gostou do texto e está pronto para testar seus conhecimentos, faça nossos exercícios sobre o Romantismo e comprove esse assunto que você acabou de ver!

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