FCMMG 2007

Zzzzzzzzzzzzz


Os britânicos adoram conselhos. Não desses que as campanhas institucionais divulgam pela televisão (“Cuidado, não beba”), ou os amigos dão no botequim (“Vai, pede mais um chope, rapaz!”), mas aqueles em que vários indivíduos se reúnem, em caráter oficial, ou por aí, a fim de executar ou estudar determinado assunto.

 

Por aqui, tem conselho de tudo. O Conselho do Sono é um bom exemplo. As regras do cronista medíocre ditam que, a esta altura das ponderações, estando eu na Grã-Bretanha, deveria abrir um parágrafo e citar o Cisne de Avon, o Bardo Imortal e outros lugares-comuns, mais conhecido como Shakespeare: “Dormir, sonhar talvez”. Sem etcéteras.

 

Tento a originalidade e me agarro a Cervantes: “Bendito aquele que inventou o sono, o manto que cobre todos os pensamentos humanos”. 

 

No que então, finalmente, acordado e aceso, vou ao assunto. O Conselho do Sono (Sleep Council) em pesquisa recente revelou que, entre a população destas ilhas, há profundas diferenças, e dorme-se de acordo com a profissão praticada.

 

No alto da lista, estão esses magníficos dorminhocos que são os advogados. Dormem uma média de sete horas e quarenta minutos por noite. Vinte por cento deles chegam às dez horas de sono. Deve ser bom, embora cansativo, ser advogado.

 

No penúltimo lugar da lista, estão – vejam vocês – os ilustres parlamentares. Não vão além das cinco horas e vinte minutos por noite. Quem foi que disse que política não é profissão de sacrifício? O Conselho do Sono, no entanto, não conta as cochiladas tiradas por eles no decorrer de chatíssimos papos ou discussões nas câmaras, tanto a
dos Comuns quanto a dos Lordes.

 

Em último lugar da lista dos que se entregam aos braços de Morfeu (resolvi não poupar lugar-comum ou frase-feita), estão os médicos, cuja vida profissional exige a decantada (olha outro lugar-comum) eterna vigilância na espera da ambulância (só para – quase – rimar).

 

O Conselho do Sono, de posse desses dados fascinantes, chega à conclusão de que todo mundo, não importa a profissão, precisa de uma boa noite de sono, embora não mencione se com ou sem sonho, já que isso é com outro conselho.

 

E por falar em conselho, olha a marmelada aí, digo eu, indo agora de gíria antiga. O Conselho do Sono é subsidiado pela Federação Nacional de Camas. Como todos sabem, uma boa noite de sono tem de se passar em cama com colchão, lençol e travesseiro.

 

Menos no caso excepcional de nossos nordestinos, esses fortes, que preferem uma boa rede. Que, entre outras coisas, tem a vantagem de só ser montada com imensa dificuldade no plenário de uma câmara.

(LESSA, Ivan . O luar e a rainha São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p.285)

 

 

É CORRETO afirmar que, entre os recursos empregados no desenvolvimento do texto, NÃO se inclui:

Escolha uma das alternativas.