FCMMG 2008

A raiva é uma das várias reações naturais do ser humano a uma situação de estresse, mas também pode ser a ponte para futuras preocupações, como crescentes problemas de saúde. Esse e outros desdobramentos da pesquisa que transformou no centro de sua carreira acadêmica estão sendo apresentados pelo psiquiatra norte-americano Redford Williams durante o congresso da Isma (International Stress Management Association), que termina hoje em Porto Alegre.

 

Autor, entre outros livros, de "Anger Kills and Lifeskills" (algo como "a raiva mata e habilidades da vida", escrito em parceria com sua mulher, Virginia Williams), o pesquisador - formado pela Universidade Yale, atualmente professor de psiquiatria e de ciências do comportamento e diretor do centro de pesquisa nessa área da Universidade Duke, na Carolina do Norte - detalha suas investigações sobre o papel de fatores de ordem psicossocial para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e outras enfermidades.

 

O pesquisador vem se concentrando especialmente em averiguar que variáveis genéticas tornam determinadas pessoas mais propensas a adoecer em decorrência da exposição a um excesso de estresse. "O uso de critérios genéticos deve melhorar a sensibilidade e a especificidade com que os clínicos podem identificar os indivíduos com o risco mais elevado e, portanto, com maior probabilidade de se beneficiar de intervenções comportamentais", justifica, no material do congresso.

 

Também na pauta de Williams estão estudos sobre mecanismos que levam a hostilidade a evoluir para a adoção de comportamentos de risco (fumo, alto consumo de álcool, descontroles emocionais etc) e a ocasionar mudanças no corpo humano (como em relação à pressão arterial, ao sistema imunológico e ao metabolizante).

 

"Em primeiro lugar, precisamos aumentar nossa consciência em relação ao que pensamos e sentimos quando estamos vivendo circunstâncias desgastantes no cotidiano. Depois, temos de avaliar essas reações à luz dos fatos objetivos dessa situação e então podemos tomar uma decisão racional sobre se devemos reduzir nossa raiva ou tomar medidas para modificar aquilo que está nos estressando", afirmou à Folha.

 

Entender é simples. Difícil, apontam os números, é fazer: de acordo com a Isma, hoje o estresse atinge 70% dos brasileiros, índice semelhante aos registrados ao redor do mundo. "O que temos identificado é que, apesar de hoje haver mais informação e milhares de estudos sobre como lidar com essa questão, os níveis de estresse estão aumentando", afirma a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma no Brasil.

 

Williams propõe um passo-a-passo que inclua, além da objetividade, realismo - outra palavra-chave para que as emoções possam ser mais bem administradas e que cada um possa exercer um "controle de danos", como descreve, frente a momentos desagradáveis do dia-a-dia.

 

Para o pesquisador - que chega ao Brasil também com o desejo de implantar no país uma filial da Sociedade Internacional de Medicina do Comportamento, da qual é presidente-, é recomendável ter em mente sempre um plano de ação.

 

"Quando alguém diz que somos estúpidos por querer assistir a um filme em particular, por exemplo, podemos pedir a essa pessoa que pare de usar tais termos para designar as escolhas de lazer que fazemos. Mas, se estamos parados no meio de um engarrafamento, temos de saber que não há nada que possa ser feito e que precisamos relaxar e diminuir esses níveis de adrenalina que prejudicam a saúde", diz. "Do que estamos tratando aqui é de controle de danos: algo estressante aconteceu e você precisa administrar suas reações e às vezes mudar a situação."

 

Outras táticas podem ser usadas, ensina o psiquiatra, não somente para lidar melhor com momentos estressantes mas mesmo para evitar que cheguem a acontecer: "Falar claramente, ser um bom ouvinte, praticar a empatia - para entender de onde os outros estão vindo - e buscar oportunidades para injetar elementos positivos nos relacionamentos diários" são algumas delas.

 

Além do impacto da raiva sobre a saúde humana, o congresso da Isma, que traz como tema desta sétima edição "Trabalho, Estresse e Saúde: Gerenciamento Eficaz - Da Teoria à Ação", ainda coloca em discussão as conseqüências de um ambiente estressante para a produtividade e para as condições físicas e emocionais do trabalhador.

 

Dentro dessa linha, outro entre os 30 convidados a dissertar sobre os mais novos estudos em desenvolvimento na área, o psiquiatra norteamericano Richard Rahe - um dos pioneiros na formulação de testes sobre estresse - leva ao evento uma pesquisa que indica como as empresas podem diminuir seus custos com saúde e de que forma alguns estabelecimentos da Califórnia conseguiram reduzir em até 34% o número de consultas médicas por parte de seus funcionários.

 

A administração de fobias sociais também ganha destaque. Em apresentação que acontece no evento gaúcho e se repetirá em agosto em Budapeste, a Isma divulgará as conclusões de um trabalho de três anos, realizado junto a 150 pessoas entre 25 e 60 anos e que resultou no desenvolvimento de um tratamento cognitivo-comportamental para profissionais que têm medo de falar em público.

(Denise Mota. "Equilíbrio". Folha de São Paulo, 28 de junho de 2007, p.5)

 

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