FCMMG 2012

BRASIL PERGUNTA: DEVEMOS FABRICAR A BOMBA ATÔMICA?


Resposta à pergunta do leitor Milton Guarnieri – Recife - Pernambuco


SIM


Porque a tecnologia necessária à fabricação de uma bomba atômica é a mesma que se utiliza para fins pacíficos, objetivando o desenvolvimento. Impõe-se, neste setor, uma política nacionalista. Para nós, que lutamos por um mundo melhor, não há outra alternativa: é impossível o humanismo sem desenvolvimento; o desenvolvimento sem tecnologia alheia, e ficar sujeitos ao controle de outros povos e outros interesses. Num mundo dividido em nações, renunciaremos a essa categoria e aceitaremos a condição de senzala, se não tivermos uma definida consciência nacional. Temos como poucos as condições para sermos uma grande potência. Não nos faltam técnicos de valor,
principalmente no setor nuclear, e dispomos de reservas apreciáveis de minerais atômicos. Poderemos, pois, atingir tranquilamente o progresso que a ciência moderna promete aos povos capazes e corajosos. Livremo-nos dos complexos coloniais e de inferioridade e seremos uma das maiores nações do mundo. Para isso urge libertarmo-nos da subserviência de alguns e da ignorância de muitos. Só não seremos o que todos sonham se não quisermos ou não soubermos. Não vemos razão para que os povos que ainda não possuem armas atômicas – por iniciativa da Rússia e dos Estados Unidos, que já as têm – assumam compromisso de não construí-las, quando os outros não
desistem de continuar a fabricá-las. É a tentativa de paralisar a nossa procura de desenvolvimento. Estamos na civilização atômica. Se perdermos a corrida, renunciaremos, definitivamente, às nossas possibilidades de plena realização. Somos pacifistas, mas não abrimos mão de estudos e manipulações científicas que se entrelaçam, quer para fins bélicos ou pacíficos. No mundo atual, para o país ser respeitado, e estar seguro, não podem ter um simples depósito de armas obsoletas. Devemos lutar também para termos armamento atualizado, obtido com tecnologia própria; não se compreende segurança nacional com dependência estrangeira nesse setor. E segurança nacional
com armas clássicas não passa, hoje, de simples passatempo de crianças grandes. Não nos convém abandonar nenhuma linha, nenhum caminho que nos conduza ao progresso que queremos deixar aos descendentes de nossa geração.


Ivete Vargas
Deputada Federal (MDB, S. Paulo)

 

NÃO


A bomba atômica não é um elemento efetivo de segurança nacional. Seu emprego como argumento dissuasório, ainda que discutível, só vale no plano das suas grandes potências nucleares, que não são grandes porque têm a bomba atômica, mas têm a bomba atômica porque são grandes. Nas mãos de potências menores, a bomba atômica perde muito desse sentido e representa mais um risco de guerra do que uma garantia de paz. Sua presença no arsenal de países mal organizados e, portanto, sem a infraestrutura não só militar, como civil, que dá o sentido pleno da segurança nacional, é uma tentação perigosa de querer compensar o desequilíbrio efetivo por uma ação de surpresa. A bomba atômica adquire nesse caso um sentido de intenção ofensiva. Não vejo como qualquer razão de
segurança nacional poderia levar o Brasil de hoje a uma aventura e ao mesmo tempo inútil. A bomba atômica também não é condição necessária para o desenvolvimento nuclear de um país. Apesar de certas pessoas – que deveriam demonstrar menos ignorância e mais senso – terem afirmado que o Brasil só entrará na era atômica quando fabricar a bomba, um país pode e deve realizar seu desenvolvimento no sentido de tirar da energia nuclear os inúmeros benefícios que ela pode proporcionar, sem se empolgar pelo prestígio ilusório e perigoso de sua capacidade de fazer mal. Trabalhando para utilizar ao máximo a energia nuclear em atividades pacíficas, conseguiremos com maior economia e segurança atingir o estágio de desenvolvimento que nos permitirá, se a tanto
formos obrigados, a construir a bomba atômica. Nessa ocasião, o problema não será mais odesenvolvimento científico, técnico e econômico, mas simplesmente de ordem moral. E é nesse plano que está a decisão futura. Atualmente falta muita coisa ao Brasil, além da bomba atômica. Muita coisa mais simples, mais útil e menos perigosa, que nos pode ser proporcionada pela energia nuclear. E creio que, mercê de Deus, lhe falta principalmente o desejo de acrescentar aos tormentos da humanidade mais uma fonte de inquietação e desesperança.


Almirante Otacílio Cunha
Presidente do Centro Brasileira de Pesquisas Físicas
FONTE: REVISTA REALIDADE – Número 16 – Julho de 1967

 

 

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