FGV-RJ 2012

OS CAVALINHOS CORRENDO...


- Eu não queria que terminasse assim.
Ouvi muitas vezes a frequentadores de cinema esse comentário ao filme a que acabavam de assistir. A fita lhes agradara até certo trecho, ia tudo muito bem... mas findava de um jeito que desiludira o espectador. E, mais poderosa que tudo, erguia-se, dura e inflexível, a sua inconformação:
- Eu não queria que terminasse assim.
Isto me ocorre a propósito de um poema - o “Rondó dos Cavalinhos”, de Manuel Bandeira. Também na poesia, que é vida, e vida funda, há da parte do leitor o direito de querer torcer a direção das coisas, para ajeitá-las ao mundo particular da sua sensibilidade. O leitor de poesia pode muito bem não querer que o poema tenha acabado assim... E pode até não querer que o poeta haja sentido ou pensado assim como pensou ou sentiu.
Este último caso é o meu em relação àquele poema de Bandeira. Uns versos batizados “Rondó dos Cavalinhos” e que principiam desta maneira:
“Os cavalinhos correndo”...
- que lembrança viriam suscitar em mim? A de uma corrida de pequenos cavalos, ou mesmo de cavalos grandes liricamente reduzidos a cavalinhos? Não. O que esses versos num momento me trouxeram aos olhos foram os cavalinhos do carrossel, aqueles cavalinhos de pau, firmemente presos, e em que, no entanto, a gente realizava as mais prodigiosas viagens, imensas viagens circulares obrigadas a música de harmônica, e com paisagens humanas – pessoas que em redor nos fitavam, encantadas, talvez invejosas.
Ora, a imaginação, escanchada nesses cavalinhos da meninice não quis mais apear-se, não ouviu o apito que anunciava o fim da corrida. A corrida era longa, muito longa, sem fim: “Os cavalinhos correndo”... E, ao passo que o mundo se enchia desse lirismo infantil, a gente grande, os homens feitos e práticos, alheios a cavalinhos, comiam, grosseiros como cavalões: “E nós, cavalões, comendo”...
Ora, Manuel Bandeira, o suposto dono do poema, disse-me que este nada tem que ver com os cavalinhos de carrossel; refere-se aos cavalos do Jóquei Clube. Os versos foram escritos após um almoço de despedida a Alfonso Reyes no restaurante do hipódromo da Gávea. Enquanto se banqueteavam, os cavalões assistiam à corrida dos cavalos de carne e osso, a alguma distância. Naturalmente a distância, aliada à ternura pelos bichos que se matavam para gozo ou proveito dos homens, apequenava-os poeticamente em cavalinhos. E, vendo aquilo, Bandeira teria começado a ver também o mundo correr, girar, como giravam os animais na pista.
Assim, ou mais ou menos assim, se formou o poema na fantasia de Bandeira. São estes os seus cavalinhos.
Assim como assim, se há um poema carregado de sugestões líricas bastantes para lhe assegurarem grande colaboração leitores, será esse “Rondó dos Cavalinhos”.
Aurélio Buarque de Holanda. http://www. Academia.org.br/abl . Adaptado.

 

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