FGV-RJ 2013

CAPÍTULO 73 - O Luncheon*


O despropósito fez-me perder outro capítulo. Que melhor não era dizer as coisas lisamente, sem todos
estes solavancos! Já comparei o meu estilo ao andar dos ébrios. Se a ideia vos parece indecorosa, direi que ele
é o que eram as minhas refeições com Virgília, na casinha da Gamboa, onde às vezes fazíamos a nossa
patuscada, o nosso luncheon. Vinho, frutas, compotas. Comíamos, é verdade, mas era um comer virgulado de
palavrinhas doces, de olhares ternos, de criancices, uma infinidade desses apartes do coração, aliás o
verdadeiro, o ininterrupto discurso do amor. Às vezes vinha o arrufo temperar o nímio adocicado da situação.
Ela deixava-me, refugiava-se num canto do canapé, ou ia para o interior ouvir as denguices de Dona Plácida.
Cinco ou dez minutos depois, reatávamos a palestra, como eu reato a narração, para desatá-la outra vez.
Note-se que, longe de termos horror ao método, era nosso costume convidá-lo, na pessoa de Dona Plácida, a
sentar-se conosco à mesa; mas Dona Plácida não aceitava nunca.

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
(*) Luncheon (Ing.): lanche, refeição ligeira, merenda.

 

Uma palavra, própria da língua escrita, foi empregada figuradamente, no texto, para caracterizar uma ação não verbal. Ela aparece no seguinte trecho:

Escolha uma das alternativas.