FGV 2007

Ver é muito complicado. lsso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à fisica.
William Blake* sabia disso e afirmou: " A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema. 
(Rubem Alves. "A complicada arte de ver". Folha de S. Paulo, 26.10.2004)

*William Blake (1757-1827) foi poeta romântico, pintor e gravador inglês. Autor dos livros de poemas Song of Innocence e Gates of Paradise.

As palavras que são acentuadas graficamente pelas mesmas regras de "fácil", "científica" e "Moisés", respectivamente, são:

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