UFLA 2014
LIRA 77
Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro,
fui honrado pastor da tua aldeia;
vestia finas lãs e tinha sempre
a minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado,
nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
de mor rebanho ainda ser o dono;
prezava o teu semblante, os teus cabelos
ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo
além de um puro amor, de um são desejo.
Se o rio levantado me causava,
levando a sementeira, prejuízo,
eu alegre ficava, apenas via
na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
de ver-te aos menos compassivo o rosto.
Propunha-me dormir no teu regaço
as quentes horas da comprida sesta,
escrever teus louvores nos olmeiros,
toucar-te de papoulas na floresta.
Julgou o justo Céu, que não convinha
que a tanto grau subisse a glória minha.
[...]
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: Ática, 1999.
Sobre a poesia de natureza pastoral, como é o caso de Marília de Dirceu, é correto dizer que ela propõe uma visão alegórica ou “fingida” das coisas. Nesse sentido, no poema, observa-se:
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