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  1. 31

    UFRGS 2011

    Assinale a alternativa correta, sobre o romance O Filho Eterno, de Cristóvão Tezza.

  2. 32

    ACAFE 2015

    Sobre a obra Agosto, de Rubem Fonseca, é correto o que se afirma em:

  3. 33

    FCMMG 2008

    FALÊNCIA MÚLTIPLA - Alô? - E aí, Guilhermão, beleza? - Tamo aí. - Ué, que voz é essa, meu? - Farinstringovocalite oculta superior. - Que que é isso? - Um agrupamento sintomático das cordas vocais... - Ih, eu heim? Tá arrumando o quê? - Tô aqui lendo umas bulas... - Bulas? Larga disso, meu. Squash, cinco horas? - Dá não. - Cinco e meia, então? - Não, não rola, não. - Ué, por quê? Que que houve? - Lembra daquele inchaçozinho na lateral do meu tornozelo? - Sim, e daí? - Sabe o que é, na verdade? Espondiloartropatia soronegativa. - Como é que é? - É isso mesmo, espondiloartropatia. - Que droga é essa, ô Guilhermão? - Uma degeneração da coluna vertebral. Complicadíssimo! Ramifica até no tornozelo! - Que é isso? Mas, então, um tenizinho dá, né? Duplinha no saibrozinho relax, seis horas? Joguinho light... - Ih, rapaz, no way. Sabe aquelas manchas no meu couro cabeludo? - Pô, Guilhermão, e eu vou lá ficar reparando na sua careca, pô? - Então, artrite psoriática crônica irremissível. - Como é? Artrite o quê? - Psoriática crônica irremissível. Provocou uns inchaços nas articulações dos meus dedos do pé. - Mas o que tem a ver a mancha na careca com o inchaço nos dedos? Não tô entendendo... - Também não. Diz o médico que é a mesma doença, psoríase nas articulações. - Porra, que droga, hein? - Uh! - Mas então, pedalar dá, né? Não tem impacto! Cinco horas? Se quiser, te pego aí. Tô de Van hoje... - Quem dera! - O que foi agora? - Austarotrombose servofrontal menisquiana. - Mas, que merda, Guilhermão! Essa droga pega, é? - É uma descamação da cartilagem protetora do menisco. Tá doendo sem parar... - Que saco, pô! Então sobrou piscina, né? Vamos lá no Minas. À tardinha, lá fica vazio. Crowzinho básico e peito? - Otite. - O quê? - Estou absolutamente proibido de nadar. Tô com otite externa acentuada e micose nos dois ouvidos. Água, nem pensar. - Pô, é só tapar os ouvidos com silicone. - Sou alérgico a silicone. Coça até sangrar! - Porra, que saco, hein? Vou te falar, viu? Então vamos fazer o seguinte: vamos esquecer esse papo de esporte e vamos logo pra birita; que tal um scottish no Pizzarela? - Impossível. Tô com colienlite imunocéptica centrífuga no duodeno. - Como é que é essa droga aí? - Isso mesmo. Oito antibióticos por dia. Nada de drinques por seis meses. - Mas que merda! Escuta aqui, já pensou na possibilidade de você ser de outro planeta? Só pode! Que saco, hein? Porra! - Se fosse, eu tava perdido. Quem ia me tratar? - Sei lá, alguém lá da Nasa, alguma merda de arqueólogo... - Taí, por que você não vem aqui pra casa, pra gente jogar dama? - O quê? Jogar dama? Na sua casa? Não dá. Não dá mesmo! No way! - Ué, não dá por quê? - Falência múltipla do meu saco! (KAVERA. Bazófias peristálticas - crônicas de botequim. São Paulo: Marco Zero, 2005. pp.43-45)   O texto NÃO se caracteriza por conter:

  4. 34

    FCMMG 2007

    PARAÍSOS ARTIFICIAIS   Combalido por terrível gripe, arrastei entre gemidos e lamúrias quatro dias de calvário – uma eternidade. Preso à cama com a fraqueza de famélicas crianças africanas, senti no meu frágil corpo as mesmas dores dos trucidados pela Inquisição e ardi com a febre que queima os pecadores no inferno – fácil ver que não tem limites a minha teatral autopiedade diante do mais trivial desconforto. Nenhuma mulher deixaria de ir à praia com a mesma gripe e, no seu peculiar estoicismo, ainda debocharia do meu queixume de condenado à morte. Tanto sofrimento contaminou tudo o que disse, pensei e escrevi naqueles dias, e expôs vergonhosa nódoa na resistência e bravura que se atribui aos homens. Admito, com o cinismo dos covardes, que resisto com rara galhardia à dor moral, mas, à dor física, me torno um verme – eu e os bravos da terra. A dor me faz paciente obediente, leitor atento de bulas, pontual usuário da medicação, além de anotar sugestões de amigos que ligam para saber do meu estado – “Muito mal; não pode ser só gripe, é muito mais grave, temo até que a minha hora esteja chegando” – e nunca deixam de sugerir a última novidade suíça, americana ou amezinha da tia Filó, de Cachoeira de Macacu. De tão ligado em remédio percebi o óbvio, mas que ainda não notara: a insana voracidade com que se usa remédio. O que se guardava no armário de banheiro, para uso eventual, agora está à mão em bolsos e bolsas, como cigarros e chicletes. Dor de cabeça ou muscular, resfriado, azia, má digestão, a pílula vai do bolso à boca sem interromper o papo. Droga virou dropes. A doença se banalizou – por isso não dão a mínima para a minha gripe! Ninguém mais fica cansado, mas estressado; não se tem medo, tem-se fobia. Alguém fica triste? Nunca, fica deprimido. Estados e emoções, antes normais aos seres humanos, ficaram démode. Agora, se fica logo doente: a patologia tomou o lugar da saúde. A clássica cólica mensal, nascida com Eva, hoje TPM – mal grave, de repercussões emocionais, aceito como atenuante criminal, requer Buscopan na bolsa. Se o incômodo for inoportuno, pode-se antecipar, adiar e até erradicar a menstruação. Executivo que não perde oportunidade de negócio leva no bolso camisinha, lenço de papel e Viagra – que, aliás, está bombando! Angustiado? – sua paz cabe no bolso de moeda. Insônia? Há pílulas cronometradas: dorme-se quanto se queira. Sonolento de manhã? Pílulas para reanimar. Acima do peso? Além de spas e zilhões de dietas, o Xenical está bombando – a gordura se esvai em horas e costuma arrastar até a alma. Para prova na faculdade, entrevista profissional, exame de motorista, intimação da Receita Federal, conhecer a pessoa desejada e até medo de avião – há dezenas de bolinhas para cada caso. Há festa à vista e rola um desânimo, os xaropes estimulantes – drogas ilegais são caras! – estão na farmácia! Se o olhar está nublado, colírios fazem deles estrelas cintilantes. Se rolar desgosto, tristeza ou apatia, aos antidepressivos já! – o Prozac está bombando – e você será a própria euforia. Se for o caso, comprimidos abreviam a dor do luto. Se pretender beber na festa, engula um antes de ir; se bebeu demais, outro antes de voltar; e outro se comeu demais – sem se esquecer daquele que evita a ressaca! Se cogita uma esticada, pílula anticoncepcional na barriga e camisinha à mão. Para os satisfeitos e os gulosos, Viagra na carteira! Mas se o interesse for outro esporte, excitantes e anabolizantes garantem recordista em tempo recorde. O remédio pode maquiar tudo: o corpo, a aparência, a personalidade e o humor! Com Prozac, Xenical e Viagra bombando – sem falar nos prodígios que vêm por aí -, não é feliz quem não quer. Acabaram-se os problemas psicológicos, crises do espírito, dramas de consciência, dúvidas da alma: a medicina resolveu tudo! E não só da vida, da morte também: onde admitem a eutanásia, remédios asseguram morte sem dor, aflição nem medo. Realizamos, enfim, o sonho inatingível: a certeza da vida feliz e o conforto extremo da morte também feliz. Após milhões de anos na Terra, o homem, que hesita se é um corpo ou tem um corpo, respondeu a milenar indagação sobre o mistério da felicidade humana: para ter saúde e ser feliz, não podemos viver sem remédios! Com essa revelação voltei para a cama. Bendisse a minha febre, o meu corpo dolorido e a minha gripe – mesmo que ela ameace meus dias de vida. Voltei a gemer e lamuriar como um covarde diante da dor. Mas acho que entendi o que Baudelaire, falando sobre o delírio provocado pelas drogas, chamou de paraísos artificiais.   (Alcione Araújo , Estado de Minas , 15-5-2006)     Assinale a opção em que haja INCORREÇÃO entre o tópico e a exemplificação.

  5. 35

    FCMMG 2007

    Zzzzzzzzzzzzz Os britânicos adoram conselhos. Não desses que as campanhas institucionais divulgam pela televisão (“Cuidado, não beba”), ou os amigos dão no botequim (“Vai, pede mais um chope, rapaz!”), mas aqueles em que vários indivíduos se reúnem, em caráter oficial, ou por aí, a fim de executar ou estudar determinado assunto.   Por aqui, tem conselho de tudo. O Conselho do Sono é um bom exemplo. As regras do cronista medíocre ditam que, a esta altura das ponderações, estando eu na Grã-Bretanha, deveria abrir um parágrafo e citar o Cisne de Avon, o Bardo Imortal e outros lugares-comuns, mais conhecido como Shakespeare: “Dormir, sonhar talvez”. Sem etcéteras.   Tento a originalidade e me agarro a Cervantes: “Bendito aquele que inventou o sono, o manto que cobre todos os pensamentos humanos”.    No que então, finalmente, acordado e aceso, vou ao assunto. O Conselho do Sono (Sleep Council) em pesquisa recente revelou que, entre a população destas ilhas, há profundas diferenças, e dorme-se de acordo com a profissão praticada.   No alto da lista, estão esses magníficos dorminhocos que são os advogados. Dormem uma média de sete horas e quarenta minutos por noite. Vinte por cento deles chegam às dez horas de sono. Deve ser bom, embora cansativo, ser advogado.   No penúltimo lugar da lista, estão – vejam vocês – os ilustres parlamentares. Não vão além das cinco horas e vinte minutos por noite. Quem foi que disse que política não é profissão de sacrifício? O Conselho do Sono, no entanto, não conta as cochiladas tiradas por eles no decorrer de chatíssimos papos ou discussões nas câmaras, tanto a dos Comuns quanto a dos Lordes.   Em último lugar da lista dos que se entregam aos braços de Morfeu (resolvi não poupar lugar-comum ou frase-feita), estão os médicos, cuja vida profissional exige a decantada (olha outro lugar-comum) eterna vigilância na espera da ambulância (só para – quase – rimar).   O Conselho do Sono, de posse desses dados fascinantes, chega à conclusão de que todo mundo, não importa a profissão, precisa de uma boa noite de sono, embora não mencione se com ou sem sonho, já que isso é com outro conselho.   E por falar em conselho, olha a marmelada aí, digo eu, indo agora de gíria antiga. O Conselho do Sono é subsidiado pela Federação Nacional de Camas. Como todos sabem, uma boa noite de sono tem de se passar em cama com colchão, lençol e travesseiro.   Menos no caso excepcional de nossos nordestinos, esses fortes, que preferem uma boa rede. Que, entre outras coisas, tem a vantagem de só ser montada com imensa dificuldade no plenário de uma câmara. (LESSA, Ivan . O luar e a rainha São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p.285)     É CORRETO afirmar que, entre os recursos empregados no desenvolvimento do texto, NÃO se inclui:

  6. 36

    PUC-MG 2014

    “Sentia-se cansada. A barriga, as pernas, a cabeça, o corpo todo era um enorme peso que lhe caía irremediavelmente em cima. Esperava que a qualquer momento o coração lhe perfurasse o peito, lhe rasgasse a blusa. Como seria o coração? Teria mesmo aquela forma bonita dos postais coloridos? Seriam todos os corações do mesmo formato? Será que as dores deformam os corações? [...] Aos vinte e três anos disseram-lhe que tinha o útero descaído. Bom seria que caísse de vez! Estava farta daquele bocado de si que ano após ano, enchia, inchava, desenchia e lhe atirava para os braços e para os cuidados mais um pedacinho de gente. Não. Não voltaria para casa.” (SALÚSTIO, Dina. “Liberdade adiada”. Mornas eram as noites. Praia: ICDL, 1994. p. 5). O trecho acima foi escrito pela escritora cabo-verdiana Dina Salústio. Em relação ao universo feminino representado na narrativa, destaca-se: 

  7. 37

    PUC-MG 2015

    A explosão até acordou os pássaros adormecidos nas árvores e os peixes devagarosos do mar — aconteceram cores de um carnaval nunca visto, amarelo misturado com vermelho a fingir que é laranja num verdeazulado, brilhos a imitar a força das estrelas deitadas no céu e barulho tipo guerra dos aviões Mig. Era afinal uma explosão bonita de ser demorada nos ruídos das cores lindas que os nossos olhos olharam para nunca mais esquecer. Nós, as crianças, ficamos a olhar o céu se encher de umas maravilhas acesas como se todos os arco-íris do mundo tivessem vindo a correr fazer um brinde no teto de nossa cidade escura de Luanda. Uma explosão podia ser tão bonita, e as nossas bocas abertas testemunhavam um silêncio de pessoas perto de um barulho desenhado nas alturas dos pássaros todos que nessa noite aprenderam que o mundo era um lugar muito estranho, com pessoas de tantas nacionalidades e que em Luanda tudo podia mesmo acontecer de repentemente. ONDJAKI. AvóDezanove e o segredo do soviético. Lisboa: Editorial Caminho, 2008 A figura de estilo utilizada está CORRETAMENTE identificada nos parênteses em

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    PUC-MG 2015

    Chão palavras para Manoel de Barros apetece-me des-ser-me; reatribuir-me a átomo. cuspir castanhos grãos mas gargantadentro; isto seja: engolir-me para mim poucochinho a cada vez. um por mais um: areios. assim esculpir-me a barro e re-ser chão. muito chão. apetece-me chãonhe-ser-me. (ONDJAKI. Há prendisajens com o xão. Lisboa: Editorial Caminho, p. 11).   No poema, logo abaixo do título, há uma dedicatória ao poeta brasileiro Manoel de Barros, conhecido por sua escrita peculiar, que, dentre outros fatores, mescla falares e expressões regionais a elementos do universo onírico e infantil. Considerando a presença de tais fatores no poema de Ondjaki, essa referência intertextual caracteriza uma:

  9. 39

    UEMG 2016

    TEXTO I As últimas do mineiro Zuenir Ventura Talvez porque numa das vezes em que alguém bateu com a língua nos dentes um pescoço foi parar na forca, Minas trabalha em silêncio, como se diz. Pode não ser verdade, mas é a versão, que acaba prejudicando mais do que favorecendo a imagem de um estado que, além das riquezas naturais e de uma poderosa tradição política, tem o maior patrimônio histórico-cultural do país. Numa época de predomínio do marketing, em que o importante é mostrar mais do que fazer, ficar calado no seu canto pode não ser um bom negócio. Como afirma um amigo de Belo Horizonte, “temos os melhores grupos de dança do país, cantores e compositores excelentes, artistas plásticos e grupos teatrais de alta qualidade, mas não divulgamos, temos pudor de nos exibir, de mostrar ao país o que somos”. Ele acredita que de fora se tem uma visão regionalista limitada à memória e à questão do patrimônio histórico, à longa tradição de pedra e cal da cultura mineira. Sem descuidar desse acervo (só de barroco estão ali 65% do patrimônio nacional), o desafio dos governantes mineiros é mostrar sem reserva o que Minas tem de mais moderno, cosmopolita e contemporâneo. Mas acho que não será fácil assim. A não ser meu amigo Ziraldo, que adora se mostrar, tendo aliás razão para isso, que outro mineiro vocês imaginam chamando a atenção para o que está fazendo? Num artigo famoso, Guimarães Rosa listou 66 adjetivos com os quais são caracterizados seus conterrâneos. Eles vão de “acanhado, afável, desconfiado” até “sonso, sóbrio, taciturno, tímido”, passando por “precavido, pão-duro, perspicaz, quieto, irônico, meditativo”. Fernando Sabino, que conhece a alma mineira como a dele próprio, tem várias histórias para ilustrar como seus conterrâneos ficam sempre na moita. Mineiro não gosta de revelar nem a identidade. — Qual é o seu nome todo? — pergunta o carioca. — Diz a parte que você sabe — desconversa o mineiro. Nessa aqui o escritor conta o diálogo com um motorista mineiro em Nova York: — Ah, você também é de Minas? — Sou sim sinhô. — De onde? — De Minas mesmo. Se consegue esconder até de onde é, imagina quando lhe pedem uma opinião política. — Que tal o prefeito daqui? — O prefeito? É tal qual eles falam dele. — Que é que falam dele? — Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo que é prefeito. Há quem alegue que o que se diz em forma de anedota está longe de ser a verdade sobre Minas, são apenas versões. Então me lembro do dia em que alguém reclamou de José Maria Alkmim: “Criei a frase ‘o que importa é a versão, não o fato’, e todo mundo atribui ela a você. Ao que ele respondeu: “Isso só confirma a frase.” Portanto, imprima-se a versão.   TEXTO II Os princípios da conversa José Luiz Fiorin As condições gerais de linguagem que permitem fazer inferências na troca verbal Uma anedota conhecida conta que um agente alfandegário pergunta a um passageiro que desembarcara de um voo internacional e passava pela aduana: – Licor, conhaque, grapa...? O passageiro responde: – Para mim, só um cafezinho. A graça da piada reside no fato de que o passageiro fez, propositadamente ou não, uma inferência errada nessa situação de comunicação. Inferiu que o fiscal aduaneiro lhe oferecia um digestivo, como no final de uma refeição num restaurante, quando, na realidade, a inferência correta é se ele trazia alguma bebida alcoólica na bagagem. Ele violou o princípio de pertinência que rege o uso da linguagem. Chama-se inferência pragmática aquela que resulta do uso dos princípios que governam a utilização da linguagem na troca verbal. Paul Grice (1975) postula que um princípio de cooperação preside à comunicação. Ele enuncia-se assim: sua contribuição à comunicação deve, no momento em que ocorre, estar de acordo com o objetivo e a direção em que você está engajado. Categorias Esse princípio é explicitado por quatro categorias gerais – a da quantidade das informações dadas, a de sua verdade, a de sua pertinência e a da maneira como são formuladas, que constituem as máximas conversacionais. (...) Não são regras Pode-se infringir uma máxima para não transgredir outra, cujo respeito é considerado mais importante. No exemplo que segue, a resposta do interlocutor viola a máxima da quantidade para não desobedecer à da qualidade: – Onde João trabalha? Ele saiu daquela firma? – No Rio de Janeiro. Com efeito, quem pergunta quer de fato saber é a firma onde João presta serviços. A resposta mais vaga permite inferir que o interlocutor não sabe exatamente onde João trabalha. Pode-se explorar a infringência de uma máxima com vistas a criar um dado efeito de sentido. Por exemplo, a ironia é a exploração de uma transgressão da máxima da qualidade. O que o texto irônico está dizendo não é verdade. Deve-se entendê-lo pelo avesso. No exemplo que segue, “modesto” quer dizer o oposto: “‘Tenho uma voz conhecida, então não é qualquer narrador, é o Falabella contando a história’, diz o modesto autor-locutor” (+ Miguel Falabella) (Veja, 11/1/2012, p. 109)   MÁXIMAS CONVERSACIONAIS Máximas da quantidade a) Que sua contribuição contenha o tanto de informação exigida; b) Que sua contribuição não contenha mais informação do que é exigido. Máximas da qualidade (da verdade) a) Que sua contribuição seja verídica; b) Não diga o que pensa que é falso; c) Não afirme coisa de que não tem provas. Máxima da relação (da pertinência) Fale o que é concernente ao assunto tratado (seja pertinente). Máximas de maneira Seja claro. a) Evite exprimir-se de modo obscuro; b) Evite ser ambíguo; c) Seja breve (evite a prolixidade inútil); d) Fale de maneira ordenada. http://revistalingua.com.br/textos/100/artigo304577-1.asp. (Adaptado). Em conformidade com a explicação dada pelo texto II, é correto afirmar que os diálogos citados no texto I contêm exemplos de desobediência à máxima da

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    UNICENTRO 2009

    MEU IDEAL SERIA ESCREVER Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse – “ai meu Deus, que história mais engraçada!” E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria – “mas essa história é mesmo muito engraçada!” Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má- vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos. Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera, a minha história chegasse – e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria, que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – “por favor, se comportem, que diabo! eu não gosto de prender ninguém!” E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história. E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago – mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente, e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: “Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la: essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem: foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto: sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento: é divina.” E quando todos me perguntassem – “mas de onde é que você tirou essa história?” – eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi, por acaso, na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: “Ontem ouvi um sujeito contar uma história...” E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro. (Rubem Braga. 200 Crônicas Escolhidas 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 1978, p. 287-8).   Marque a afirmativa FALSA.

  11. 41

    UEMS 2006

    Livro   1- Tropeçavas nos astros desastrada Quase não tínhamos livros em casa E a cidade não tinha livraria Mas os livros que em nossa vida entraram 5-  São como a radiação de um corpo negro Apontando para a expansão do Universo Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso (E, sem dúvida, sobretudo o verso) É o que pode lançar mundos no mundo. 10-Tropeçavas nos astros desastrada Sem saber que a ventura e a desventura Dessa estrada que vai do nada ao nada São livros e o luar contra a cultura.   Os livros são objetos transcendentes 15- Mas podemos amá-los do amor táctil Que votamos aos maços de cigarro Domá-los, cultivá-los em aquários, Em estantes, gaiolas, em fogueiras Ou lançá-los pra fora das janelas 20- (Talvez isso nos livre de lançarmo-nos) Ou, o que é muito pior, por odiarmo-los Podemos simplesmente escrever um:     Encher de vãs palavras muitas páginas E de mais confusão as prateleiras. 25- Tropeçavas nos astros desastrada Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.     Na segunda estrofe, ao aproximar a expressão “nos astros desastrada” da expressão “a ventura e a desventura”, Caetano Veloso acrescenta ao vocábulo “desastrada”, além dos sentidos “deselegante, desajeitado, inábil”, as seguintes acepções: “sem astro, desafortunada”, ou seja, “des-astrada”. Ao terminar o poema com os versos: “Tropeçavas nos astros desastrada / Mas para mim foste a estrela entre as estrelas.”, o autor observa que sua interlocutora transformou-se, de uma menina desajeitada e desafortunada, na maior de todas as estrelas. Para conseguir esses efeitos de sentido, o autor considerou os seguintes aspectos lingüísticos:  

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    UNIR 2011

    A raça humana A raça humana é Uma semana Do trabalho de Deus A raça humana é ferida acesa Uma beleza, uma podridão O fogo eterno e a morte A morte e a ressurreição A raça humana é Uma semana Do trabalho de Deus A raça humana é o cristal de lágrima Da lavra da solidão Da mina, cujo mapa Traz na palma da mão A raça humana é Uma semana Do trabalho de Deus A raça humana risca, rabisca, pinta A tinta, a lápis, a carvão, a giz O rosto da saudade Que traz do Gênesis Dessa semana santa Entre parênteses Desse divino oásis Da grande apoteose Da perfeição divina Na Grande Síntese A raça humana é Uma semana Do trabalho de Deus (GIL, Gilberto. CD Raça Humana.)   Nessa letra, a reflexão se faz sobre um tema que desde sempre inquieta o ser humano. Assinale a alternativa que apresenta tal tema.

  13. 43

    MILTON CAMPOS 2012

    Eu me sinto um dinossauro. Surpreso, mas fascinado com este mundo em turbilhão. Vou fazer 60 anos em dezembro. Quase tudo que me cerca era inimaginável quando eu era criança. O mundo foi reinventado diante de mim, estes anos todos. Na minha infância, em Marília, no interior de São Paulo, não havia televisão. Telefone só para a elite. Era preciso se inscrever e aguardar cinco, seis anos para a instalação de uma linha. Ou comprá-la a peso de ouro, de alguém que a transferisse, manobra impensável para minha família de orçamento limitadíssimo. Hoje o mundo é dos celulares. Recentemente, meu aparelho caiu no chão e quebrou. Entrei em surto até conseguir outro, novinho, em que coloquei o mesmo chip. Aposto que já tem psicólogo tratando crise de abstinência de celular. A primeira televisão de minha família, quando me mudei para São Paulo, aos 15 anos, era em preto e branco. O tempo voou. E com ele as invenções se insinuaram na minha vida: TV colorida, CD, videocassete, DVD e Blu-ray. Quando dou palestras em escolas, tento explicar como era a vida sem e-mail e videogame. Crianças e adolescentes me encaram desconfiados. Devem achar que sou maluco. Estão certos que não havia civilização antes do Google e da Apple. Já pensei em criar um conto de fadas para explicar. Algo assim:  – Há muitos e muitos anos, em um tempo em que não existiam email, Twitter ou Facebook, vivia uma linda princesa...  Decidi ser escritor aos 12 anos, quando descobri os livros de Monteiro Lobato, emprestados por uma vizinha. Sonhava com uma máquina de escrever. Ainda lembro da tarde, aos 13 anos, em que meu pai subiu as escadas de nosso sobradinho e anunciou o presente: uma Olivetti portátil, comprada à prestação. Papai era ferroviário, e a máquina pesou nas contas. Mas eu queria ser escritor, o que fazer? Em seguida me inscreveu num curso de datilografia, em que aprendi a batucar o teclado com todos os dedos. (Os cursos de datilografia também sumiram, junto com as máquinas de escrever, é claro.)  Agradeço papai para sempre. Hoje sou autor da Rede Globo. Escrevo os capítulos das novelas com muita velocidade. Sorte minha ser datilógrafo formado.  Comprei meu primeiro computador pessoal com pouco mais de 30 anos. O protecionismo nacional na área de informática era absurdo. O tal computador parecia movido a lenha. Mas adorei. Principalmente porque acabou a guerra com os vizinhos do prédio que não suportavam o plec, plec, plec da máquina, pois sempre escrevi de madrugada. Na ocasião, eu trabalhava como editor em uma grande revista. Um colega torceu o nariz. Achava o computador algo muito esquisito. Mostrei a enorme redação repleta de máquinas de escrever. Banquei o futurólogo:  – Um dia todas serão trocadas por computadores.  – Duvido!  Não demorou cinco anos. Assisti à informatização do jornalismo. Foi cruel, como em outras áreas. Muitos ganharam estágios para absorver a nova tecnologia. Outros não. E acabaram expelidos do mercado de trabalho. Cheguei a ajudar um ex-diretor de arte a arrumar vaga de zelador de prédio. Há uma necessidade constante de me manter atualizado. Sempre existe um novo programa, aparelho, invenção à espera. Sou autor de livros, novelas de televisão, peças de teatro, crônicas e inumeráveis artigos. Ganhei prêmios. Mas acabo derrotado por qualquer garoto de 8 anos, capaz de, diante de um modelo novo de celular, desvendar no ato programas que incineram meus neurônios.  Cursei alguns anos de faculdade de história, na Universidade de São Paulo. Tento me distanciar e entender o que se passa. Creio que, daqui a 100, 200 anos, um historiador vai olhar para a minha, a sua vida e teorizar que vivemos no bojo de uma mudança de Era. Tão profunda quanto a da Antiga para a Média e desta para a Moderna e a Contemporânea. Qual será o fato que determinou a passagem? A invenção do iPad? Steve Jobs terá a mesma importância de Colombo? Seremos, eu e você, objetos de estudo. Até neurológico.  – Como os cérebros se adaptaram a tantas mudanças?  As invenções são o aspecto mais visível de roupas, restaurantes, livros, viagens, teorias, jeitos de ser e de amar. Vou escrever sobre a realidade em contínuo movimento. Sobre nossa época, desafiadora e fascinante. E contar como meus miolos fervem ao descobrir que alguma coisa inexistente até ontem se tornou absolutamente essencial, e já não posso viver sem ela. Nos anos 1960, os hippies anunciavam o advento da Era de Aquário. Pois é. Seja qual for o nome, a Nova Era já chegou. (Walcir Carrasco – http://revistaepoca.globo.com/vida/noticia/2011/09 - acessado em fevereiro de 2012)     Em todas as passagens, podem ser evidenciadas críticas realizadas pelo autor com humor e/ou ironia, EXCETO em:

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    UFJF 2012

    O texto a seguir é a letra de uma canção de autoria do compositor Caetano Veloso, gravada pela cantora Gal Costa, num CD lançado em 2011. Leia-o atentamente e responda.     Sexo e Dinheiro   Sexo e dinheiro são Metros do nosso egoísmo Embora os dois tenham Bem pouco mais em comum Veja os que dizem ser Guias espirituais Usam nosso temor Para ter um ou outro ou os dois Dinheiro e sexo são Mera ilusão para tais Cães   Dinheiro e sexo são Espíritos desiguais Mas desempenham funções Nos limites finais No meio a vida se dá Entre as coisas reais Dinheiro e sexo não Podem cruzar-se jamais Sexo e dinheiro são Formas de libertação Mas...   Dinheiro é uma abstração Sexo é uma concreção: luz Instância díspar sem Denominador comum Mas ambos fazem-nos ser Seres de base igual Um no começo E outro no fim: ninguém é normal Cantemos seus nomes E nos livremos do seu Mal   (VELOSO, Caetano. In: COSTA, Gal. Recanto . CD . Universal Music , 2011)     Releia a segunda estrofe e indique qual é a antítese que melhor apresenta o sentido da expressão “limites finais”:

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    PUC-GO 2015

    I Corre em mim (devastado) um rio de revolta e cicio. Por nada deste mundo há de saber-se afogado, senão por sua sede e seu desvio!   II Tudo que edifico na origem milenar da espera é poder do que não pode e se revela   ad mensuram. (VIEIRA, Delermando. Os tambores da tempestade. Goiânia: Poligráfica, 2010. p. 23-24.)     A fala da lírica de Delermando Vieira, na sua maneira enigmática e obscura, exprime as perspectivas da lírica contemporânea, que não pode ser colocada em dúvida quanto à sua significação. Nesse sentido, sua obra poética tem como prioridade a polissemia da linguagem com seus mistérios e matizes, mesmo que esse poeta seja acusado muitas vezes de enigmático. No entanto, a poesia é mesmo um enigma e um ouriço não muito acessível. Considerando a poesia de Delermando Vieira e tendo como exemplo o texto selecionado, marque a alternativa verdadeira:

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    UNIR 2010

    Na obra Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum, a discórdia entre pai e filho – Amando e Arminto – inicia-se com a morte da mãe do menino no parto e intensifica-se porque

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    UFRR 2016

    Eu não sabia nada de mim, como vim ao mundo, de onde tinha vindo. A origem: as origens. Meu passado, de alguma forma palpitando na vida dos meus antepassados, nada disso eu sabia. Minha infância, sem nenhum sinal da origem. É como esquecer uma criança dentro de um barco num rio deserto, até que uma das margens a acolhe. Anos depois, desconfiei: um dos gêmeos era meu pai. Domingas disfarçava quando eu tocava no assunto; deixava-me cheio de dúvida, talvez pensando que um dia eu pudesse descobrir a verdade. Eu sofria com o silêncio dela; nos nossos passeios, quando me acompanhava até o aviário da Matriz ou a beira do rio, começava uma frase mas logo interrompia e me olhava, aflita, vencida por uma fraqueza que coíbe a sinceridade. Muitas vezes ela ensaiou, mas titubeava, hesitava e acabava não dizendo. Quando eu fazia a pergunta, seu olhar logo me silenciava, e eram olhos tristes. (...)     A área que contorna o porto estava silenciosa. Na calçada da rua dos Barés dormiam famílias do interior. Vi a loja fechada e apontei o depósito, onde Halim, encostado à janelinha, contara trechos de sua vida. Minha mãe quis sentar na mureta que dá para o rio escuro. Ficou calada por uns minutos, até a claridade sumir de vez. "Quando tu nasceste", ela disse, "seu Halim me ajudou, não quis me tirar da casa... Me prometeu que ias estudar. Tu eras neto dele, não ia te deixar na rua. Ele foi ao teu batismo, só ele me acompanhou. E ainda me pediu para escolher teu nome. Nael, ele me disse, o nome do pai dele. Eu achava um nome estranho, mas ele queria muito, eu deixei... Seu Halim. Parece que a vida se entortou também para ele... Eu sentia que o velho gostava muito de ti. Acho que gostava até dos filhos. Mas reclamava do Omar, dizia que o filho tinha sufocado a Zana." Senti suas mãos no meu braço; estavam suadas, frias. Ela me enlaçou, beijou meu rosto e abaixou a cabeça. Murmurou que gostava tanto de Yaqub... Desde o tempo em que brincavam, passeavam. Omar ficava enciumado quando via os dois juntos, no quarto, logo que o irmão voltou do Líbano." Com o Omar eu não queria... Uma noite ele entrou no meu quarto, fazendo aquela algazarra, bêbado, abrutalhado... Ele me agarrou com força de homem. Nunca me pediu perdão". HATOUM, Milton. Dois Irmãos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 54, 183-184.     Observando-se o texto no contexto do romance de Hatoum, pode-se afirmar que: 

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    UNESPAR 2011

    Principal best-seller da Flip, Isabel Allende defende qualidade de sua obra Fabio Victor, SP – Ilustrada, 31/07/2010 (Excerto adaptado)   Em entrevista à Folha, Isabel Allende, 56 milhões de livros vendidos pelo mundo, rejeita a humildade quando provocada a comentar a motivação do convite a Flip, na próxima quinta, em Paraty, um evento que não costuma mirar autores best-sellers, mas mais aqueles com boa reputação na crítica.   “Perdoe-me a falta de modéstia, mas devo mencionar que tenho mais de 50 prêmios em mais de 16 países e 13 doutorados honoris causa pela qualidade dos meus livros, não pelo número de exemplares vendidos”, afirma a autora, que faz 68 anos na segunda-feira.   “Há uma tendência de considerar que, quando um livro tem êxito de vendas, necessariamente a qualidade é inferior. Isso é subestimar os leitores, não acha?”   Na entrevista, por e-mail, Allende – que não conhece a obra do homenageado da Flip, Gilberto Freyre – aborda os efeitos positivos da escravidão, fala do marido escritor e comenta o esgotamento do realismo mágico.   O realismo mágico que se desenvolveu fortemente nas décadas de 60 e 70 como produto de duas visões que conviviam na América hispânica e também no Brasil: a cultura da tecnologia e a cultura da superstição, surgiu também como forma de reagir, através das palavras, contra as ditaduras da região. Ele pode ser definido como a preocupação estilística e o interesse de mostrar o irreal ou estranho como algo cotidiano e comum. Apesar de aparentemente desatento à realidade, o realismo mágico tem a pretensão de dar verossimilhança interna ao fantástico e ao irreal, diferenciando-se assim da atitude niilista assumida originalmente pelas vanguardas do início do século XX, como o surrealismo. O realismo mágico está morto? Ainda há espaço para este estilo na literatura contemporânea? Por quê?   Talvez tenha se abusado do realismo mágico nos anos 1980. Os escritores e os leitores se cansaram de algo que se tornou um truque literário sem sentido. No entanto, acredito que na vida e na literatura há muito espaço para o mistério, o inexplicável. Eu não tenho medo de usar o realismo mágico quando enriquece uma história.   Uma das obras representativas deste estilo literário na Literatura Brasileira é:

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    UFJF 2016

    TEXTO 1 Terça-feira gorda Para Luiz Carlos Góes   De repente ele começou a sambar bonito e veio vindo para mim. Me olhava nos olhos quase sorrindo, uma ruga tensa entre as sobrancelhas, pedindo confirmação. Confirmei, quase sorrindo também, a boca gosmenta de tanta cerveja morna, vodca com coca-cola, uísque nacional, gostos que eu nem identificava mais, passando de mão em mão dentro dos copos de plástico. Usava uma tanga vermelha e branca, Xangô, pensei, Iansã com purpurina na cara, Oxaguiã segurando a espada no braço levantado, Ogum Beira-Mar sambando bonito e bandido. Um movimento que descia feito onda dos quadris pelas coxas, até os pés, ondulado, então olhava para baixo e o movimento subia outra vez, onda ao contrário, voltando pela cintura até os ombros. Era então que sacudia a cabeça olhando para mim, cada vez mais perto.   Eu estava todo suado. Todos estavam suados, mas eu não via mais ninguém além dele. Eu já o tinha visto antes, não ali. Fazia tempo, não sabia onde. Eu tinha andado por muitos lugares. Ele tinha um jeito de quem também tinha andado por muitos lugares. Num desses lugares, quem sabe. Aqui, ali. Mas não lembraríamos antes de falar, talvez também nem depois. Só que não havia palavras. Havia o movimento, a dança, o suor, os corpos meu e dele se aproximando mornos, sem querer mais nada além daquele chegar cada vez mais perto.   Na minha frente, ficamos nos olhando. Eu também dançava agora, acompanhando o movimento dele. Assim: quadris, coxas, pés, onda que desce, olhar para baixo, voltando pela cintura até os ombros, onda que sobe, então sacudir os cabelos molhados, levantar a cabeça e encarar sorrindo. Ele encostou o peito suado no meu. Tínhamos pêlos, os dois. Os pêlos molhados se misturavam. Ele estendeu a mão aberta, passou no meu rosto, falou qualquer coisa. O que, perguntei. Você é gostoso, ele disse. [...]   Entreaberta, a boca dele veio se aproximando da minha. Parecia um figo maduro quando a gente faz com a ponta da faca uma cruz na extremidade mais redonda e rasga devagar a polpa, revelando o interior rosado cheio de grãos. Você sabia, eu falei, que o figo não é uma fruta, mas uma flor que abre para dentro. O que, ele gritou. O figo, repeti, o figo é uma flor. Mas não tinha importância. [...]   Veados, a gente ainda ouviu, recebendo na cara o vento frio do mar. A música era só um tumtumtum de pés e tambores batendo. Eu olhei para cima e mostrei olha lá as Plêiades, só o que eu sabia ver, que nem raquete de tênis suspensa no céu. Você vai pegar um resfriado, ele falou com a mão no meu ombro. Foi então que percebi que não usávamos máscara. Lembrei que tinha lido em algum lugar que a dor é a única emoção que não usa máscara. Não sentíamos dor, mas aquela emoção daquela hora ali sobre nós, e eu nem sei se era alegria, também não usava máscara. Então pensei devagar que era proibido ou perigoso não usar máscara, ainda mais no Carnaval. [...]   Mas vieram vindo, então, e eram muitos. Foge, gritei, estendendo o braço. Minha mão agarrou um espaço vazio. O pontapé nas costas fez com que me levantasse. Ele ficou no chão. Estavam todos em volta. Ai-ai, gritavam, olha as loucas. Olhando para baixo, vi os olhos dele muito abertos e sem nenhuma culpa entre as outras caras dos homens. A boca molhada afundando no meio duma massa escura, o brilho de um dente caído na areia. Quis tomá-lo pela mão, protegê-lo com meu corpo, mas sem querer estava sozinho e nu correndo pela areia molhada, os outros todos em volta, muito próximos.   Fechando os olhos então, como um filme contra as pálpebras, eu conseguia ver três imagens se sobrepondo. Primeiro o corpo suado dele, sambando, vindo em minha direção. Depois as Plêiades, feito uma raquete de tênis suspensa no céu lá em cima. E finalmente a queda lenta de um figo muito maduro, até esborrachar-se contra o chão em mil pedaços sangrentos. (ABREU, Caio Fernando. Morangos Mofados. 12 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. p. 73-78.)     No conto de Caio Fernando Abreu (texto I), os personagens centrais são

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    UFJF 2016

    Texto 2 Beijo sem Eu não sou mais quem Você deixou, amor Vou à Lapa Decotada Viro todas Beijo bem Madrugada Sou da lira Manhãzinha De ninguém Noite alta é meu dia E a orgia é meu bem Eu não sou mais quem Você deixou de ver Vou à Lapa Perfumada Viro outras Beijo sem Madrugada Sou da lira Manhãzinha De ninguém Noite alta é meu dia E a orgia é meu bem [...] (CALCANHOTO, Adriana. Beijo sem. In: O micróbio do samba. Sony Music, 2011.)   No poema de Adriana Calcanhoto (texto II), a personagem em primeira pessoa se compraz em relações

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    UFJF 2016

    Texto III: Eu só peço a Deus Deixa eu te falar, vim te confessar Acho que eu também sou poeta e não aprendi a amar Cruzes que eu já carreguei, cada um com a sua é a lei Ontem mesmo eu perguntei: "Por que que eu nunca parei? Ein? " Quer saber o que me move? Quer saber o que me prende? São correntes sanguíneas, não contas correntes Não conta com a gente pra assinar seu jornal Vocês descobriram o Brasil, né? Conta outra Cabral É um país cordial, carnaval, tudo igual Preconceito racial mais profundo que o Pré-Sal Tira os pobre do centro, faz um cartão postal É o governo trampando, Photoshop social Bandeirantes, Anhanguera, Raposo, Castelo São heróis ou algoz? Vai ver o que eles fizeram Botar o nome desses cara nas estrada é cruel É o mesmo que Rodovia Hitler em Israel Também quero a revolução, mas não sou imbecil Quem não sabe usar um lápis, não vai saber usar um fuzil (...) Nosso esporte predileto ainda é lotar os bares Esvaziar os lares, mano, nós somos milhares Miseráveis na arquibancada se matando E os 22 milionários se divertindo em campo (Haha...) Violência vicia soldado e eu sei bem (Bem!) A guerra não é santa nem aqui e nem em Jerusalém É o Brasil da mistura, miscigenação Quem não tem sangue de preto na veia deve ter na mão (INQUÉRITO. “Eu só peço a Deus”, in: CD Corpo e alma, faixa 5, 2014. Disponível em http://www.grupoinquerito.com.br, acessado em 08/10/2015.)    O uso da expressão “photoshop social” indica que a ação do governo é:

  22. 52

    UFAM 2010

    Aproximando Fogo Morto e A cidade ilhada 

  23. 53

    UFAM 2009

    Assinale a opção que NÃO apresenta de modo correto a relação entre a obra e seu autor:

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    UFAM 2009

    As afirmativas abaixo, feitas a propósito de acontecimentos e personagens do romance Lealdade, de Márcio Souza, estão corretas, EXCETO:

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    UFAM 2009

    Ainda sobre Lealdade, assinale a afirmativa que NÃO se refere de modo correto ao enredo ou aos personagens:

  26. 56

    UEL 2012

    Imagine uma cidade sem cinema, biblioteca ou livraria. Não é difícil, esta é mais ou menos a regra. Bem, se tal cidade existe, também não terá um teatro e, muito menos, um museu. Talvez nem mesmo um jornal, semanal que seja. Muitas não têm nada disso e, apesar de todo o prestígio da música popular, também não contam com uma casa de shows – loja de discos, nem pensar.   Donde essas cidades são habitadas por pessoas que nunca assistiram a um filme ou peça de teatro. Espetáculo de dança, esqueça. Nunca ouviram um concerto, nunca viram um quadro ou escultura importante e, bem provável, nunca leram um livro que não fosse o da lição. Da mesma forma, nunca recitaram ou ouviram um poema, não sabem o que é ópera e os cantores que conhecem é por ouvir falar.   Há muitas cidades assim no Brasil. E não pense que sejam burgos perdidos no sertão ou no meio da selva amazônica. Algumas são bem conhecidas pelo nome e ficam em estados prósperos e orgulhosos, mais perto de nós do que imaginamos. São dados do IBGE, colhidos no último recenseamento, não muito difíceis de consultar.   O que não falta nessas cidades é televisão – porque 95% dos lares brasileiros têm pelo menos um aparelho. Mas não é bom para ninguém, nem para a televisão, que ela seja o único contato das pessoas com o mundo. Claro que, não demora muito, todas terão internet e, quando isso acontecer, dar-se-á o fenômeno de cidades que passaram da cultura zero para o universo digital, onde supostamente cabe tudo, sem o estágio intermediário, milenar da cultura analógica.   Essas cidades podem ser zero em cultura, mas têm Prefeitura e Câmara Municipal. E, em época de eleição, candidatos a deputado, senador, governador, talvez até presidente, devem aparecer por lá, com grande cara de pau. Interessante país, este que estamos formando. CASTRO, Ruy. Cultura Zero. Folha de São Paulo. São Paulo, 29 jun. 2011. Caderno Opinião, p.2   A última frase do texto – “Interessante país, este que estamos formando” – mostra que

  27. 57

    UFMG 2008

    Assinale a alternativa em que, no fragmento transcrito de Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo, se identifica uma atitude típica e caracterizadora da personagem Ponciá.

  28. 58

    UNEMAT 2008

    Os poemas da obra Livro sobre nada, de Manoel de Barros, podem causar estranhamento porque:

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    UNESP 2013

    A questão toma por base um fragmento de uma peça do teatrólogo Guilherme Figueiredo (1915-1997).     A raposa e as uvas   (Casa de Xantós, em Samos. Entradas à D., E., e F. Um gongo. Uma mesa. Cadeiras. Um “clismos*”. Pelo pórtico, ao fundo, vê-se o jardim. Estão em cena Cleia, esposa de Xantós, e Melita, escrava. Melita penteia os cabelos de Cleia.)   MELITA: — (Penteando os cabelos de Cleia.) Então Rodópis contou que Crisipo reuniu os discípulos na praça, apontou para o teu marido e exclamou: “Tens o que não perdeste”. Xantós respondeu: “É certo”. Crisipo continuou: “Não perdeste chifres”. Xantós concordou: “Sim”. Crisipo finalizou: “Tens o que não perdeste; não perdeste chifres, logo os tens”. (Cleia ri.) Todos riram a valer.   CLEIA: — É engenhoso. É o que eles chamam sofisma. Meu marido vai à praça para ser insultado pelos outros filó- sofos?   MELITA: — Não; Xantós é extraordinariamente inteligente... No meio do riso geral, disse a Crisipo: “Crisipo, tua mulher te engana, e no entanto não tens chifres: o que perdeste foi a vergonha!” E aí os discípulos de Crisipo e os de Xantós atiraram-se uns contra os outros...   CLEIA: — Brigaram? (Assentimento de Melita.) Como é que Rodópis soube disto?   MELITA: — Ela estava na praça. CLEIA: — Vocês, escravas, sabem mais do que se passa em Samos do que nós, mulheres livres...   MELITA: — As mulheres livres ficam em casa. De certo modo são mais escravas do que nós.   CLEIA: — É verdade. Gostarias de ser livre?   MELITA: — Não, Cleia. Tenho conforto aqui, e todos me consideram. É bom ser escrava de um homem ilustre como teu marido. Eu poderia ter sido comprada por algum mercador, ou algum soldado, e no entanto tive a sorte de vir a pertencer a Xantós.   CLEIA: — Achas isto um consolo?   MELITA: — Uma honra. Um filósofo, Cleia!   CLEIA: — Eu preferia que ele fosse menos filósofo e mais marido. Para mim os filósofos são pessoas que se encarregam de aumentar o número dos substantivos abstratos.   MELITA: — Xantós inventa muitos?   CLEIA: — Nem ao menos isto. E aí é que está o trágico: é um filósofo que não aumenta o vocabulário das controvérsias. Já terminaste?   MELITA: — Quase. É bom pentear teus cabelos: meus dedos adquirem o som e a luz que eles têm. Xantós beija os teus cabelos? (Muxoxo de Cleia.) Eu admiro teu marido.   CLEIA: — Por que não dizes logo que o amas? Gostarias bastante se ele me repudiasse, te tornasse livre e se casasse contigo...   MELITA: — Não digas isto... Além do mais, Xantós te ama...   CLEIA: — À sua maneira. Faço parte dos bens dele, como tu, as outras escravas, esta casa...   MELITA: — Sempre que viaja te traz presentes.   CLEIA: — Não é o amor que leva os homens a dar presentes às esposas: é a vaidade; ou o remorso.   MELITA: — Xantós é um homem ilustre.   CLEIA: — É o filósofo da propriedade: “Os homens são desiguais: a cada um toca uma dádiva ou um castigo”. É isto democracia grega... É o direito que o povo tem de escolher o seu tirano: é o direito que o tirano tem de determinar: deixo-te pobre; faço-te rico; deixo-te livre; faço-te escravo. É o direito que todos têm de ouvir Xantós dizer que a injustiça é justa, que o sofrimento é alegria, e que este mundo foi organizado de modo a que ele possa beber bom vinho, ter uma bela casa, amar uma bela mulher. Já terminaste?   MELITA: — Um pouco mais, e ainda estarás mais bela para o teu filósofo.   CLEIA: — O meu filósofo... Os filósofos são sempre criaturas cheias demais de palavras... (*) Espécie de cama para recostar-se. (Guilherme Figueiredo. Um deus dormiu lá em casa, 1964.)     Entre as frases extraídas do texto, aponte a que consiste num raciocínio fundamentado na percepção de uma contradição:

  30. 60

    ENEM - 3 APLICACAO 2014

    A literatura de cordel é ainda considerada, por muitos, uma literatura menor. A alma do homem não é mensurável e — desde que o cordel possa exprimir a  história, a ideologia e os sentimentos de qualquer homem —  vai ser sempre o gênero literário preferido de quem procura apreender o espírito nordestino. Os costumes, a língua, os sonhos, os medos e as alegrias do povo estão no cordel. Na nossa época, apesar dos jornais e da TV —  que poderiam ter feito diminuir o interesse neste tipo de literatura — e da falta de apoio econômico, o cordel continua vivo no interior e em cenáculos acadêmicos.  A literatura de cordel, as xilogravuras e o repente não foram apenas um divertimento do povo. Cordéis e  cantorias foram o professor que ensinava as primeiras letras e o médico que falava para inculcar comportamentos  sanitários. O cordel e o repente fazem, muitas vezes, de um candidato o ganhador da banca de deputado. E assim, lendo e ouvindo, foi-se formando a memória coletiva desse povo alegre e trabalhador, que embora calmo, enfrenta o mar e o sertão com a mesma valentia. BRICKMANN, L. B. E  de repente foi o cordel. Disponível em:  http://pt.scribd.com. Acesso em: 29 fev. 2012 (fragmento). O gênero textual cordel, também conhecido como folheto,  tem origem em relatos orais e constitui uma forma literária popular no Brasil. A leitura do texto sobre a literatura de cordel permite 

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