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  1. 91

    UNEMAT 2015

    TEXTO I A menina de lá Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – “Ninguém entende muita coisa que ela fala...” – dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só raro ela perguntava, por exemplo: - “Ele xurugou?” – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - “Tatu não vê a lua...” – ela falasse. Ou referia estórias, absurdas, vagas, tudo muito curto: da abelha que se voou para uma nuvem; de uma porção de meninas e meninos sentados a uma mesa de doces, comprida, comprida, por tempo que nem se acabava; ou da precisão de se fazer lista das coisas todas que no dia por dia a gente vem perdendo. Só a pura vida. [...] Dizia que o ar estava com cheiro de lembrança. – “A gente não vê quando o vento se acaba...” Estava no quintal, vestidinha de amarelo. O que falava, às vezes era comum, a gente é que ouvia exagerado: - “Alturas de urubuir...” Não, dissera só: - “altura de urubu não ir”. O Dedinho chegava quase no céu. Lembrouse de: - “Jabuticaba de vem-me-ver...” Suspirava, depois: - “Eu quero ir pra lá”. – Aonde? – “Não sei”. Aí observou: - “O passarinho desapareceu de cantar...” (ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001)   TEXTO II [...] A gente não gostava de explicar as imagens porque explicar afasta as falas da imaginação. A gente gostava dos sentidos desarticulados como a conversa dos passarinhos no chão a comer pedaços de mosca. Certas visões não significavam nada, mas eram passeios verbais. A gente sempre queria dar brazão às borboletas. A gente gostava bem das vadiações com as palavras do que das prisões gramaticais. Quando o menino disse que queria passar para as palavras suas peraltagens até os caracóis apoiaram. A gente se encostava na tarde como se a tarde fosse um poste. A gente gostava das palavras quando elas perturbavam os sentidos normais da fala. Esses meninos faziam parte do arrebol como os passarinhos. (BARROS, Manoel de. Menino do mato. Leya: São Paulo, 2010) Observando-se os textos, percebe-se o uso diferenciado da linguagem verbal, que se deve ao fato de que:    

  2. 92

    ITA 2016

    O poema abaixo é de Ivan Junqueira.   Flor amarela   Atrás daquela montanha tem uma flor amarela; dentro da flor amarela, o menino que você era. Porém, se atrás daquela montanha não houver a tal flor amarela, o importante é acreditar que atrás de outra montanha tenha uma flor amarela com o menino que você era guardado dentro dela. (Em: Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Record, 1999.)   O texto,   I. na 1ª estrofe, trata da infância por meio de metáforas construídas com elementos naturais (“montanha” e “flor amarela”). II. na 2ª estrofe, por meio da conjunção “porém”, rompe com a representação metafórica presente na 1ª estrofe. III. na sequência da 1ª para a 2ª estrofe, faz com que as metáforas apontem mais para a interioridade do sujeito que para a exterioridade da natureza.   Está(ão) correta(s) apenas

  3. 93

    ACAFE 2015

    Correlacione a primeira coluna com a segunda coluna, considerando os fragmentos de texto retirados das obras relacionadas para o Concurso Vestibular ACAFE 2015 e os respectivos autores. COLUNA 1 ( 1 ) “O feio apaixonado não pensava em outra coisa a não ser na Maria. No trabalho, nas refeições, no sono, enfim estava preso na gaiola de cana da Maria. Pensou em remeter-lhe uma carta, depois um bilhete, em ir na casa dela e apresentar-se como namorado. E assim pensando, veio-lhe a ideia de mandar o coração de Pãopor-Deus para ela.” ( 2 ) “– Seu José, mestre carpina, / que habita este lamaçal, / sabe me dizer se o rio / a esta altura dá vau? / Sabe me dizer se é funda / esta água grossa e carnal?” ( 3 ) “Sobre a cama estava um exemplar de Última Hora, o único jornal importante que defendia o presidente. Na primeira página, uma caricatura de Carlos Lacerda. O artista, acentuando os óculos de aros escuros e o nariz aquilino do jornalista, desenhara um corvo sinistro trepado num poleiro.” ( 4 ) “Era assim, com essa melodia do velho drama de Judá, que procuravam um ao outro na cabeça do Cônego Matias um substantivo e um adjetivo... Não me interrompas, leitor precipitado; sei que não acreditas em nada do que vou dizer. Di-lo-ei, contudo, a despeito da tua pouca fé, porque o dia da conversão pública há de chegar.” COLUNA 2 ( ) João Cabral de Melo Neto ( ) Machado de Assis ( ) Franklin Cascaes. ( ) Rubem Fonseca A sequência correta, de cima para baixo, é: 

  4. 94

    ENEM PPL 2015

    Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo.  Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo: "Coitado, até essa hora no serviço pesado". Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo. PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.     Um dos procedimentos consagrados pelo Modernismo foi a percepção de um lirismo presente nas cenas e fatos do cotidiano. No poema de Adélia Prado, o eu lírico resgata a poesia desses elementos a partir do(a)

  5. 95

    UEG 2004

    A respeito da obra Contos, de Machado de Assis, é possível dizer que ela

  6. 96

    UNEMAT 2010

    Assinale a alternativa em que as palavras completam corretamente as lacunas.  Era um burrinho__________, miúdo e resignado, vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no sertão. (p. 3) É aqui, perto do vau da _________: tem uma fazenda, denegrida e desmantelada; uma cerca de pedra-seca, do tempo de escravos. (p. 118) Cassiano escolhera mal o lugar onde se derrear: no ________ era tudo gente miúda, amarelenta ou amaleitada, esmolambada, escabreada, que não conhecia o trem-de-ferro, mui pacata e sem ação. (p. 158) Uma barbaridade! Até os meninos faziam feitiço, no ___________. O mestre dava muito coque, e batia de régua, também. (p. 225) E começou o caso, na encruzilhada da _______, logo após a cava do Mata-quatro, onde com a palhada do milho e o algodoal de pompons frouxos, se truncam as derradeiras roças da Fazenda dos Caetanos e o mato de terra ruim começa dos dois lados. (p. 283)

  7. 97

    UNEMAT 2011

     Leia o poema extraído do livro Menino do Mato (2010), de Manoel de Barros. “Eu queria usar palavras de ave para escrever Onde a gente morava era um lugar  imensamente e sem nomeação Ali a gente brincava de brincar com as palavras Tipo assim: hoje eu vi uma formiga ajoelhada  na pedra! Já vem você com as sua visões! Porque formigas não tem joelhos ajoelháveis E nem há pedras de sacristia por aqui Isto é traquinagem de sua imaginação”. Assinale a alternativa correta.

  8. 98

    UFES 2000

    Texto I Destes penhascos fez a natureza O berço, em que nasci! oh queima cuidara, Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza!   Amor , que vence os tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra o meu coração guerra tão rara, Que não me foi bastante a fortaleza.   Pois mais que eu mesmo conhecesse o dano, A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano:   Vós, que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas, temei; que Amor tirano, Onde há mais resistência, mas se apura.             (Cláudio Manuel da Costa) Texto II ruaruaruasol ruaruasolrua ruasolruarua solruaruarua ruaruaruas             (Ronaldo Azeredo)   Considerando as obras supracitadas como ilustrativas da poesia árcade e da poesia concreta, assinale a opção cuja ordem preenche CORRETAMENTE  as afirmativas seguintes:   1 - "O __________ é, pois, consciência de integração: de ajustamento a uma ordem natural, social e literária, decorrendo disso a estética da imitação, por meio da qual o espírito reproduz as formas naturais, não apenas como elas aparecem à razão, mas como as conceberam e recriaram os bons autores da Antiguidade."   2 - "Os elementos de composição característicos da poesia _________ são a organização geométrica do espaço e o jogo de semelhanças de significantes."   3 - "Os ___________ se recusavam a uma exploração mais completa da psicologia humana, assim como se tinham negado a uma concepção mais imaginativa da linguagem."   4 - "Talvez se pudesse concluir que um poema __________ seja definido mais ou menos assim: um tipo de composição poética centrada na utilização de poucos elementos dispostos no papel de modo a valorizar a distribuição espacial, o tamanho e a forma dos caracteres tipográficos e as semelhanças fônicas entre as palavras."   5 - A poesia __________ significou o reconhecimento do poema como objeto também espacial, e da necessidade de procedimentos composicionais compatíveis com essa realidade."

  9. 99

    UERJ 2009

    Ideologia   Meu partido É um coração partido E as ilusões estão todas perdidas Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Eu nem acredito Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Freqüenta agora as festas do “Grand Monde”   Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver   Ideologia Eu quero uma pra viver O meu prazer Agora é risco de vida Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll Eu vou pagar a conta do analista Pra nunca mais ter que saber quem eu sou Pois aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Agora assiste a tudo em cima do muro   Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver CAZUZA e ROBERTO FREJAT - 1988 www.cazuza.com.br   Nos dois primeiros versos, a palavra partido é empregada com significados diferentes.   Esta repetição produz, no texto, o seguinte sentido:

  10. 100

    PUC-SP 2017

    “Virou-se para Teoria. Este ainda não dormia. Sem Medo segredou-lhe: — O que conta é a ação. Os problemas do Movimento resolvem-se, fazendo a ação armada. A mobilização do povo de Cabinda faz-se desenvolvendo a ação. Os problemas pessoais resolvem-se na ação. Não uma ação à toa, uma ação por si. Mas a ação revolucionária. O que interessa é fazer a Revolução, mesmo que ela venha a ser traída.” Pepetela. Mayombe. São Paulo: Leya, 2013, p. 237. O trecho, extraído de um romance angolano, refere-se à luta do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), na década de 1970, pela independência de Angola. Nessa obra de ficção, aparecem diversos temas presentes nesse conflito. Entre eles,

  11. 101

    UEL 2014

    – Sou playboy! – dizia Pardalzinho a todos que comentavam sua nova indumentária. Tatuou no braço um enorme dragão soltando labaredas amarelas e vermelhas pelo focinho, o cabelo ligeiramente crespo foi encaracolado por Mosca. Sentia-se agora definitivamente rico, pois se vestia como eles. O cocota pediu a Mosca que comprasse uma bicicleta Caloi 10 para que pudesse ir à praia todas as manhãs. Rico também anda de bicicleta. Iria frequentar a praia do Pepino assim que aprendesse o palavreado deles. Na moral, na moral, na vida tudo é uma questão de linguagem. Alguns bandidos tentaram fazer chacota do seu novo visual. O traficante meteu a mão no revólver dizendo que não tinha cara de palhaço. Até mesmo Miúdo prendeu o riso quando o viu dentro daquela roupa de garotão da Zona Sul. (LINS, P.Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p.261.)     A partir da leitura desse trecho, considere as afirmativas a seguir.   I. Pardalzinho, apesar de ter dinheiro e roupas de ricos e sentir-se como rico, ainda precisava adequar sua linguagem ao padrão desejado.   II. Roupas, dinheiro, tatuagem e cabelo encaracolado eram suficientes para Pardalzinho sentir-se incluído no “mundo dos ricos”.   III. Pardalzinho sentia-se como palhaço, mas não admitia que rissem dele.   IV. Pardalzinho tatuou o dragão soltando labaredas amarelas e vermelhas pelo focinho e encaracolou os cabelos porque achou que, assim, ficaria parecido com os ricos.   Assinale a alternativa correta.

  12. 102

    CEFET-MG 2010

    “[...] E a mesma dança na sala No Canecão na TV  E quem não dança não fala  Assiste a tudo e se cala Não vê no meio da sala As relíquias do Brasil:   Doce mulata malvada Um elepê de Sinatra Maracujá mês de abril Santo barroco baiano Superpoder de paisano Formiplac e céu de anil Três destaques da Portela Carne-seca na janela Alguém que chora por mim Um carnaval de verdade Hospitaleira amizade Brutalidade jardim   Ê bumba iê, iê, boi Ano que vem mês que foi Ê bumba iê, iê, i É a mesma dança, meu boi [...]” NETO, Torquato. Geleia Geral (1968). In Destino: poesia, p. 109.   No fragmento do poema acima, observam-se as seguintes características do Tropicalismo, EXCETO:

  13. 103

    UEG 2003

    Sobre o pano de fundo político-ideológico que orienta o romance Pessach: a travessia, de Carlos Heitor Cony, é CORRETO afirmar:

  14. 104

    UEG 2004

    O Enterrado Vivo   É sempre no passado aquele orgasmo, é sempre no presente aquele duplo, é sempre no futuro aquele pânico.     É sempre no meu peito aquela garra. É sempre no meu tédio aquele aceno. É sempre no meu sono aquela guerra.     É sempre no meu trato o amplo distrato. Sempre na minha firma a antiga fúria. Sempre no mesmo engano o outro retrato.     É sempre nos meus pulos o limite. É sempre nos meus lábios a estampilha. É sempre no meu não aquele trauma.   Sempre no meu amor a noite rompe. Sempre dentro de mim meu inimigo. E sempre no meu sempre a mesma ausência.   ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. 48 ed. Rio de Janeiro: Record. 2001. p. 59.     Assinale a alternativa INCORRETA:    

  15. 105

    UEL 2016

    estupor   esse súbito não ter esse estúpido querer que me leva a duvidar quando eu devia crer   esse sentir-se cair quando não existe lugar aonde se possa ir   esse pegar ou largar essa poesia vulgar que não me deixa mentir (LEMINSKI, P. Toda Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.249.)     Considerando o poema no conjunto da obra Toda Poesia, de Paulo Leminski, é correto afirmar que

  16. 106

    UEG 2003

    ― “Mãe, que é que fizeram com o resto da roupinha do Dito?” ― agora ele queria saber. ― “Está guardada, Miguilim. Depois ela ainda vai servir para Tomezinho.” “― Mãe, e as alpercatinhas do Dito?” “― Também, Miguilim. Agora descansa.” Miguilim tinha mesmo que descansar, perdera a força de aluir com um dedo. Suava. Suava. ROSA, Guimarães. Manuelzão e Miguilim: (Corpo de baile). 11 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 143.    A respeito da prosa de Guimarães Rosa, na obra Manuelzão e Miguilim, exemplificada pelo trecho citado de “Campo geral”, assinale a alternativa INCORRETA:

  17. 107

    UEL 2015

    Momento   Enquanto eu fiquei alegre, permaneceram um bule azul com um descascado no bico, uma garrafa de pimenta pelo meio, um latido e um céu limpidíssimo com recém-feitas estrelas. Resistiram nos seus lugares, em seus ofícios, constituindo o mundo pra mim, anteparo para o que foi um acometimento: súbito é bom ter um corpo pra rir e sacudir a cabeça. A vida é mais tempo alegre do que triste. Melhor é ser. (PRADO, A. Bagagem. 31.ed. Rio de Janeiro: Record, 2011. p.46.)     Sobre os versos “Resistiram nos seus lugares, em seus ofícios, / constituindo o mundo pra mim, anteparo / para o que foi um acometimento:”, considere as afirmativas a seguir.   I. O trecho “Resistiram nos seus lugares” tem como referentes “bule”, “garrafa”, “latido” e “céu”.   II. Em “o mundo pra mim”, o eu lírico expressa a sua confiança na sensação de conforto que lhe dão as coisas simples.   III. O trecho “para o que foi um acometimento” se refere à tristeza como coisa passageira.   IV. A palavra “anteparo” é metáfora para a vida parada e sem graça experimentada pelo eu lírico todo o tempo.   Assinale a alternativa correta.

  18. 108

    PUC-CAMPINAS 2016

    A década de 1950 foi marcada pelo anseio de modernização do país, cujos reflexos se fazem sentir também no plano da cultura. É de se notar o amadurecimento da poesia de João Cabral, poeta que se rebelou contra o que considerava nosso sentimentalismo, nosso “tradicional lirismo lusitano”, bem como o surgimento de novas tendências experimentalistas, observáveis na linguagem renovadora de Ferreira Gullar e na radicalização dos poetas do Concretismo. As linhas geométricas da arquitetura de Brasília e o apego ao construtivismo que marca a criação poética parecem, de fato, tendências próximas e interligadas. (MOUTINHO, Felipe, inédito)   Constituem exemplo do construtivismo e do rigor da poesia de João Cabral os seguintes versos:

  19. 109

    UEG 2004

    Leia atentamente o trecho abaixo.   A pedra grande é meu ninho. Nele teço sonhos, tramo ideais. Com os olhos fechados, acompanho a música das águas. Na orquestra dos pássaros, isolo o canto eterno da juriti. A maciez da minha pele vai, aos poucos, fundindo-se à rigidez da matéria condensada. Eu, líquida, derretida em emoções, caldeirão de sentimentos redemoinhando águas – eternas águas presentes e passadas – vou explorando a solidez de corpos petrificados. De outros corpos. Ontem: gente, flores, peixes, folhas, flores, borboletas, baratas. Matéria. Tudo isso e mais, muito mais, outras vidas aprisionadas na inocência da rocha. Cristalizada na eternidade da pedra. Cedo ou tarde acabamos todos. Não posso ser simplesmente isso, ainda não: um ser desassisado, descerebrado de vontade, engastado na concha de preceitos de um povo. Livre-líquida, desejo navegar profundezas de águas, mares abertos, voar ondas, outros céus. Sólida nunca. BARROS, Adelice da Silveira. Um jeito torto de vir ao mundo. Goiânia: Kelps, 2003. p. 105.   Com base no fragmento acima, marque a alternativa INCORRETA:

  20. 110

    UNAMA 2007

    “O ditador caiu duma cadeira, os árabes deixaram de vender petróleo, o morto é o melhor amigo do vivo, as coisas nunca são o que parecem, quando vires um centauro acredita nos teus olhos, se uma rã escarnecer de ti atravessa o rio. Tudo são objectos. Quase.” SARAMAGO, José. Objecto Quase. São Paulo, Companhia das Letras, 1994.   Nessa passagem do conto "O ditador" in Objecto Quase, o escritor português José Saramago valeu-se, principalmente, das seguintes funções da linguagem:

  21. 111

    UFU 2016

    Texto I Logo descobriu que não podia absolutamente mais se mexer. Não se admirou com esse fato, pareceu-lhe antes um pouco natural que até agora tivesse conseguido se movimentar com aquelas perninhas finas. No restante sentia-se relativamente confortável. Na realidade tinha dores no corpo, mas para ele era como se elas fossem ficar cada vez mais fracas e finalmente desaparecer por completo. A maçã apodrecida nas suas costas e a região inflamada em volta, inteiramente cobertas por uma poeira mole, quase não o incomodavam. Recordava-se da família com emoção e amor. Sua opinião de que precisava desaparecer era, se possível, ainda mais decidida que a da irmã. Permaneceu nesse estado de meditação vazia e pacífica até que o relógio da torre bateu a terceira hora da manhã. Ele vivenciou o início do clarear geral do dia lá do lado de fora da janela. Depois, sem intervenção da sua vontade, a cabeça afundou completamente e das suas ventas fluiu fraco o último fôlego. KAFKA, Franz. A metamorfose. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Cia das Letras, 1997. p. 78. Texto II  Saciada, espantada, continuou a passear com os olhos mais abertos, em atenção às voltas violentas que a água pesada dava no estômago, acordando pequenos reflexos pelo resto do corpo como luzes. A estrada subia muito. A estrada era mais bonita que o Rio de Janeiro, e subia muito. Mocinha sentou-se numa pedra que havia junto de uma árvore, para poder apreciar. O céu estava altíssimo, sem nenhuma nuvem. E tinha muito passarinho que voava do abismo para a estrada. A estrada branca de sol estendia sobre um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco da árvore e morreu. LISPECTOR, Clarice. O grande passeio. In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 37-38 Embora de épocas e nacionalidades distintas, os protagonistas de A metamorfose e do conto “O grande passeio” têm em comum a 

  22. 112

    UEG 2005

    Analise o poema a seguir e assinale, abaixo, a alternativa CORRETA. XLV Que no poema ao menos Viscosidade e luz De nós dois, criaturas, Recriem seu momento.   Que da desordem De dois encantamentos do visgo, do vidro De palavras duras   Coabitem O tosco e o transparente.   E desconforto e gosto Disciplina e paixão Discursivo e ciência   Construam pelo menos no poema A vizinhança dessas aparências. HILST, Hilda. Cantares. São Paulo: Globo, 2002. p. 81   A leitura do texto permite afirmar que

  23. 113

    UEL 2014

    Leia o fragmento a seguir.     O marido reclamão comeu cinco pedaços de torresmo, bebeu mais três doses de traçado, uma cerveja para lavar o estômago e caminhou cambaleante para casa. Abriu o portão com certa dificuldade, a vontade de urinar era sincera, apertou o passo para o banheiro, mas a urina desceu calça abaixo molhando o tapete da sala. Tomou banho sem tirar a roupa, estranhando a esposa quieta na cozinha. Pensou em falar alguma coisa, preferiu não puxar conversa para não desencadear uma briga, arrancou e entulhou a roupa suja e encharcada sob a pia do banheiro e deitou-se, depois de vestir uma cueca. Em poucos minutos roncava alto. A mulher arrastou-o para a cozinha e despejou a água fervendo sobre a sua cabeça. Foi presa por homicídio premeditado e não recebeu a quantia que esperava do seguro. (LINS, P. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p.271.)     Com base na leitura prévia desse romance e do fragmento, considere as afirmativas a seguir.   I. Os verbos de ação provocam o efeito dinâmico e ampliam a tensão narrativa.   II. O fragmento retrata uma história de tragédia familiar como outras que são contadas no romance.   III. O crime fica subentendido pela caracterização do marido e suas ações agressivas.   IV. A escolha do foco narrativo centrado na esposa antecipa seus planos de matar o marido.   Assinale a alternativa correta.

  24. 114

    ENEM PPL 2010

    Texto I XLI Ouvia: Que não podia odiar E nem temer Porque tu eras eu. E como seria Odiar a mim mesma E a mim mesma temer.  HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento).      Texto II Transforma-se o amador na cousa amada   Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Camões. Sonetos. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br. Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento).   Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é 

  25. 115

    UPF 2014

    Só se espiaram realmente quando as malas foram dispostas no trem, depois de trocados os beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela. Catarina viu então que sua mãe estava envelhecida e tinha os olhos brilhantes. O trem não partia e ambas esperavam sem ter o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e examinou-se no seu chapéu novo, comprado no mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração por si mesma. A filha observava divertida. Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo. O rosto usado e ainda bem esperto parecia esforçar-se por dar aos outros alguma impressão da qual o chapéu faria parte. A campainha da Estação tocou de súbito, houve um movimento geral de ansiedade, várias pessoas correram pensando que o trem já partia: mamãe! disse a mulher. Catarina! disse a velha. Ambas se olhavam espantadas, a mala na cabeça de um carregador interrompeu-lhes a visão e um rapaz correndo segurou de passagem o braço de Catarina, deslocandolhe a gola do vestido. Quando puderam ver-se de novo, Catarina estava sob a iminência de lhe perguntar se não esquecera de nada... – ...Não esqueci de nada? perguntou a mãe. CLARICE LISPECTOR – Laços de família   No texto acima, a autora:

  26. 116

    UFG 2009

    Parque Industrial É somente requentar/E usar É somente requentar/E usar Porque é made, made, made, made in Brasil. Porque é made, made, made, made in Brasil. Retocai o céu de anil/Bandeirolas no cordão Grande festa em toda a nação Despertai com orações/O avanço industrial Vem trazer nossa redenção Tem garota propaganda/Aeromoça e ternura no cartaz Basta olhar na parede/Minha alegria num instante se refaz Pois temos o sorriso engarrafado Já vem pronto e tabelado/É somente requentar [...] A revista moralista/Traz uma lista dos pecados da vedete E tem jornal popular que/Nunca se espreme Porque pode derramar É um banco de sangue encadernado Já vem pronto e tabelado É somente folhear e usar É somente folhear e usar ZÉ, Tom. Tropicália: ou Panis et Circenses. São Paulo: Philips. 1968. 1Disco. Faixa 5. O movimento tropicalista caracterizou-se por incorporar elementos universais da cultura jovem mundial, bem como por fazer crítica ao comportamento da sociedade brasileira, tanto em relação ao consumo da cultura importada dos EUA e da Europa como aos excessos do discurso nacionalista. Tendo como base o trecho da letra, o período em que ela foi escrita e a reflexão sobre indústria cultural, verifica-se a

  27. 117

    ENEM 2009

    Texto I [...] já foi o tempo em que via a convivência como viável, só exigindo deste bem comum, piedosamente, o meu quinhão, já foi o tempo em que consentia num contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder contudo no que me era vital, já foi o tempo em que reconhecia a existência escandalosa de imaginados valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’; mas não tive sequer o sopro necessário, e, negado o respiro, me foi imposto o sufoco; é esta consciência que me libera, é ela hoje que me empurra, são outras agora minhas preocupações, é hoje outro o meu universo de problemas; num mundo estapafúrdio — definitivamente fora de foco — cedo ou tarde tudo acaba se reduzindo a um ponto de vista, e você que vive paparicando as ciências humanas, nem suspeita que paparica uma piada: impossível ordenar o mundo dos valores, ninguém arruma a casa do capeta; me recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito, seja o amor, a amizade, a família, a igreja, a humanidade; me lixo com tudo isso! me apavora ainda a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi conscientemente que escolhi o exílio, me bastando hoje o cinismo dos grandes indiferentes [...]. NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.    Na novela Um Copo de Cólera, o autor lança mão de recursos estilísticos e expressivos típicos da literatura produzida na década de 70 do século passado no Brasil, que, nas palavras do crítico Antonio Candido, aliam “vanguarda estética e amargura política”. Com relação à temática abordada e à concepção narrativa da novela, o texto I

  28. 118

    UFRGS 2016

    Leia os trechos abaixo, retirados do capítulo Ana Terra, de O continente, da trilogia O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Maneco Terra era um homem que falava pouco e trabalhava demais. Severo e sério, exigia dos outros muito respeito e obediência, e não admitia que ninguém em casa discutisse com ele. (...) D. Henriqueta respeitava o marido, nunca ousava contrariá-lo. A verdade era que, afora aquela coisa de terem vindo para o Rio Grande e umas certas casmurrices, não tinha queixa dele. Maneco era um homem direito, um homem de bem, e nunca a tratara com brutalidade. (...) Mas havia épocas em que não aparecia ninguém. E Ana só via a seu redor quatro pessoas: o pai, a mãe e os irmãos. Quanto ao resto, eram sempre aqueles coxilhões a perder de vista, a solidão e o vento. Não havia outro remédio — achava ela — senão trabalhar para esquecer o medo, a tristeza, a aflição... Acordava e pulava da cama, mal raiava o dia. Ia aquentar a água para o chimarrão dos homens, depois começava a faina diária: ajudar a mãe na cozinha, fazer pão, cuidar dos bichos do quintal, lavar a roupa. Por ocasião das colheitas ia com o resto da família para a lavoura e lá ficava mourejando de sol a sol.   Comparando os trechos acima com o conto "Dois guaxos", de Sergio Faraco, considere as seguintes afirmações.   I - Há confluências entre os dois textos, como as condições precárias de vida em um rancho isolado no interior do Rio Grande do Sul, o nome da irmã de Maninho e seu envolvimento com um agregado da família. II - Há semelhanças nas considerações sobre os maridos, feitas pela mãe de Maninho e por D. Henriqueta, mãe de Ana Terra. III- Há o contraste em relação à estrutura familiar: no romance, pai, mãe e filhos; no conto, uma família marcada pela ausência da mãe e pela figura paterna degradada. Quais estão corretas?  

  29. 119

    UERJ 2009

    Ideologia   Meu partido É um coração partido E as ilusões estão todas perdidas Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Eu nem acredito Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Freqüenta agora as festas do “Grand Monde”   Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver   O meu prazer Agora é risco de vida Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll Eu vou pagar a conta do analista Pra nunca mais ter que saber quem eu sou Pois aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Agora assiste a tudo em cima do muro   Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver CAZUZA e ROBERTO FREJAT - 1988 www.cazuza.com.br   A palavra “ideologia” é dicionarizada ora como “conjunto de idéias, pensamentos, doutrinas e visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo”, ora como “conjunto de idéias que visa à manipulação e à alienação das pessoas”.   Os versos que melhor se relacionam à primeira e à segunda acepções, respectivamente, são:

  30. 120

    PUC-PR 2004

    No poema e nas nuvens, Cada qual descobre o que deseja ver. Helena Kolody   Nuvens brancas passam em brancas nuvens Paulo Leminski   A partir da leitura dos dois poemetos, verifica-se que

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