FGV-SP 2010

Documento
Encontro um caderno antigo, de adolescente. E, em vez das simples anotações que seriam preciosas como documento, descubro que eu só fazia  literatura. Afinal, quando é que um adolescente já foi natural? E, folheando aquelas velhas páginas, vejo, compungido, como as comparações caducam. Até as imagens morrem, dizia Brás Cubas. Quero crer que caduquem apenas. Eis aqui uma amostra daquele “diário”:


“Era tal qual uma noite de tela cinematográfica. Silenciosa, parada, de um suave azul de tinta de escrever. O perfil escuro das árvores recortava-se  cuidadosamente naquela imprimadura* unida, igual, que estrelinhas azuis picotavam. Os bangalôs dormiam. Uma? Duas? Três horas da madrugada? Nem a lua sequer o sabia. A lua, relógio parado...”

 

Pois vocês já viram que mundo de coisas perdidas?! O cinema não é mais silencioso. Não se usa mais tinta de escrever. Não se usam mais bangalôs.

 


E ninguém mais se atreve a invocar a lua depois que os astronautas se invocaram com ela.

*imprimadura: s.f. art. plást. 1  ato ou efeito de imprimar 1.1  primeira demão de tinta em tela, madeira etc.


Ao parafrasear Brás Cubas, que afirmou que “Até as  instituições morrem”, o autor alude a uma característica da personagem machadiana, que pode ser mais bem definida como
 

Escolha uma das alternativas.