UPE 2016

Há textos literários que se aproximam pelos conteúdos tratados, tal como ocorre com o tema da distância da pátria, cujo início remonta Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias. Contudo, nem sempre um ratifica, de modo claro, a ideia do outro. Muitas vezes, a retomada se realiza de maneira irônica, em que o texto mais recente assume uma dimensão crítica inovadora, em relação ao texto anterior. Outras vezes, dá-se a retomada por uma paráfrase, pois se mantém o sentido do texto original.

 

Considerando o exposto, analise os poemas a seguir:

 

Poema 1

Canção do Exílio

 

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

 

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

 

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho, à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

(Gonçalves Dias)

 

 

Poema 2

Canto de regresso à pátria

 

Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o mar

Os passarinhos daqui

Não cantam como os de lá

 

Minha terra tem mais rosas

E quase que mais amores

Minha terra tem mais ouro

Minha terra tem mais terra

 

Ouro terra amor e rosas

Eu quero tudo de lá

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte para lá

 

Não permita Deus que eu morra

Sem que volte pra São Paulo

Sem que veja a Rua 15

E o progresso de São Paulo

(Oswald de Andrade)

 

 

Poema 3

Canção do Exílio

 

Minha terra tem macieiras da Califórnia

onde cantam gaturamos de Veneza.

Os poetas da minha terra

são pretos que vivem em torres de ametista,

os sargentos do exército são monistas, cubistas,

os filósofos são polacos vendendo a prestações.

A gente não pode dormir

com os oradores e os pernilongos.

Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.

Eu morro sufocado

em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas

mas custam cem mil réis a dúzia.

 

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

e ouvir um sabiá com certidão de idade!

(Murilo Mendes)

 

Poema 4

Minha terra

 

Minha terra não tem terremotos...

nem ciclones... nem vulcões...

As suas aragens são mansas e as suas chuvas esperadas:

chuvas de janeiro... chuvas de caju... chuvas-de-santa-luzia...

 

Que viço mulato na luz do seu dia!

Que amena poesia, de noite, no céu:

 

– Lá vai São Jorge esquipando em seu cavalo na lua!

– Olha o Carreiro-de-São-Tiago!

– Eu vou cortar a minha língua na Papa-Ceia!

 

O homem de minha terra, para viver, basta pescar!

e se estiver enfarado de peixe, arma o mondé

e vai dormir e sonhar...

que pela manhã

tem paca louçã,

tatu-verdadeiro

ou jurupará...

pra assá-lo no espeto

e depois comê-lo

com farinha de mandioca

ou com fubá.

 

[...]

 

O homem de minha terra tem um deus de carne e osso!

– Um deus verdadeiro,

que tudo pode, tudo manda e tudo quer...

E pode mesmo de verdade.

Sabe disso o mundo inteiro:

 

– Meu Padinho Pade Ciço do Joazero!

 

[...]

 

Os guerreiros de minha terra já nascem feitos.

Não aprenderam esgrima nem tiveram instrução...

Brigar é do seu destino:

– Cabeleira!

– Conselheiro

– Tempestade!

– Lampião!

 

Os guerreiros de minha terra já nascem feitos:

– Cabeleira!

– Conselheiro

– Tempestade!

– Lampião!

(Ascenso Ferreira)

 

Analise as afirmativas a seguir e coloque V nas Verdadeiras e F nas Falsas.

 

(     ) A Canção do Exílio,escrita por Gonçalves Dias, poema do período romântico, exalta a natureza brasileira. Possui versos em que o eu poético, ausente da pátria, traça as diferenças existentes entre o lugar onde se encontra, denominando-o de cá, e a pátria, da qual está distante, de lá, criando assim uma relação antitética e metonímica.

(     ) Os três outros poemas pertencem à primeira e à segunda fase do Modernismo. Caracterizam-se por um discurso irônico, que se contrapõe ao tom de exaltação presente no poema 1, contrariando uma máxima da geração de 1922, cuja retomada do passado ocorre sempre de modo ratificador.

(     ) O poema 4, ao contrário do 1, pertence à geração de 1922 e resgata temas que integram a cultura brasileira quando traz à tona aspectos do folclore do Nordeste. Além disso, por meio de expressões negativas, tais como: “Não tem terremotos... nem ciclones... nem vulcões..”./exalta a pátria, mas o faz respeitando a linguagem oral nordestina, aspecto comum na primeira fase do Modernismo Brasileiro.

(     ) Os poemas 2 e 3 apresentam pontos em comum quanto à linguagem, pois, em ambos, predomina a crítica ao derramamento sentimental do Romantismo. Isso se justifica porque eles trazem uma imagem crítica da sociedade brasileira bem diferente daquela contida no poema 1. Desse modo, eles se relacionam como retomada intertextual e parodística.

(     ) Os quatro poemas integram a literatura da terceira fase do Modernismo Brasileiro, pois obedecem à métrica rígida e apresentam uma secura de linguagem que se aproxima daquela utilizada por Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Ambos, em sua produção poética, se aproximam do antilirismo.

 

Assinale a alternativa que contém a sequência CORRETA.

Escolha uma das alternativas.