PUC-CAMPINAS 2015

Ideias do canário

 

Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a alguns amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns chegam a supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração.

 

No princípio do mês passado, − disse ele −, indo por uma rua, sucedeu que um tílburi, à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de uma loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa cadeira de abrir. Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça enfiada em um gorro esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não se adivinhava nele nenhuma história, como podiam ter alguns objetos que vendia, nem se lhe sentia a tristeza austera e desenganada das vidas que foram vidas.

 

A loja era escura, atulhada das cousas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante. [...]

 

Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada na porta. [...] Não estava vazia. Dentro pulava um canário.

 

Obs.: tílburi = carro de duas rodas e dois assentos, com capota e sem lugar para o cocheiro, puxado por um só animal.

belchior = negociante de roupas e objetos usados.

(ASSIS, Machado de. In: A linguagem dos animais: contos e crônicas sobre bichos. 1 ed. São Paulo: Boa Companhia, 2012. p. 47-48)

 

 

É correto afirmar:

Escolha uma das alternativas.