PUC-CAMPINAS 2016

Considere o trecho abaixo, do romance Dois irmãos, do escritor amazonense Milton Hatoum.

Cresci vendo as fotos de Yaqub e ouvindo a mãe dele ler suas cartas. Numa das fotos, posou com a farda do Exército; outra vez uma espada, só que agora a arma de dois gumes dava mais poder ao corpo do oficial da reserva. Durante anos, essa imagem do galã fardado me impressionou. Um oficial do Exército, e futuro engenheiro da Escola Politécnica...

Já Omar era presente demais: seu corpo estava ali, dormindo no alpendre. O corpo participava de um jogo entre a inércia da ressaca e a euforia da farra noturna. Durante a manhã, ele se esquecia do mundo, era um ser imóvel, embrulhado na rede. No começo da tarde, rugia, faminto,bon vivantem tempo de penúria. Era, na aparência, indiferente ao êxito do irmão. Não participava da leitura das cartas, ignorava o oficial da reserva e futuro politécnico. No entanto, mangava das fotografias expostas na sala. “Um lesão com pinta de importante”, dizia, e com uma voz tão parecida com a do irmão que Domingas, assustada, procurava na sala um Yaqub de carne e osso. A mesma voz, a mesma inflexão. Na minha mente, a imagem de Yaqub era desenhada pelo corpo e pela voz de Omar. Neste habitavam os gêmeos, porque Omar sempre esteve por ali, expandindo sua presença para apagar a existência de Yaqub.

Obs. bon vivant:homem alegre, que valoriza os prazeres da vida.

mangar: caçoar, expor ao ridículo.

É afirmação correta acerca desse trecho transcrito:

Escolha uma das alternativas.