UEL 2011

Pau de Dois Bicos

 

        Um morcego estonteado pousou certa vez no ninho da coruja, e ali ficaria de dentro se a coruja ao regressar não investisse contra ele.

        – Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha casa, sabendo que odeio a família dos ratos?

        – Achas então que sou rato? Não tenho asas e não voo como tu? Rato, eu? Essa é boa!...

        A coruja não sabia discutir e, vencida de tais razões, poupou-lhe a pele.

        Dias depois, o finório morcego planta-se no casebre do gato-do-mato. O gato entra, dá com ele e chia de cólera.

        – Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha toca, sabendo que detesto as aves?

        – E quem te disse que sou ave? - retruca o cínico - sou muito bom bicho de pelo, como tu, não vês?

        – Mas voas!...

        – Voo de mentira, por fingimento...

        – Mas tem asas!

        – Asas? Que tolice! O que faz a asa são as penas e quem já viu penas em morcego? Sou animal de pelo, dos legítimos, e inimigo das aves como tu. Ave, eu? É boa...

        O gato embasbacou, e o morcego conseguiu retirar-se dali são e salvo.

       

Moral da Estória:

O segredo de certos homens está nesta política do morcego. É vermelho? Tome vermelho. É branco? Viva o branco!

 

(LOBATO, José Bento Monteiro. Fábulas. 45. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 49.)

A hesitação do gato, na fábula, e do caçador, na charge, deve-se

 

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