UEL 2012

QUEIXA-SE O POETA EM QUE O MUNDO VAY ERRADO, E QUERENDO EMENDÂLO O TEM POR EMPREZA DIFFICULTOSA.

 

Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

 

O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ornadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.

 

 

Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir, que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.

 

O prudente varão há-de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos,
Ser louco cos demais que ser sisudo.

MATOS, Gregório de. Poesias selecionadas. 3. ed. São Paulo: FTD, 1998. p.70.

 

 

A respeito do poema, considere as afirmativas a seguir.


I. O eu-lírico se identifica com os intelectuais parnasianos, cujo engenho lhe inspira admiração, em oposição aos insanos de quem se distancia, associados a “bestas”, numa referência indireta à liberdade artística do movimento romântico.
II. O caminho a que se refere o eu-lírico ao longo do poema é uma metáfora da vida do próprio poeta, que se vale de dados concretos e fatos autobiográficos a fim de conferir maior verossimilhança à comparação entre vida e caminho.
III. O soneto de Gregório de Matos demonstra nítida inspiração petrarquiana, de modo que o equilíbrio formal do poema é alcançado pelo uso de versos decassílabos e de rimas interpoladas nos quartetos e intercaladas nos tercetos.
IV. Característica da lírica de Camões, o desconcerto do mundo aparece no soneto de Gregório de Matos na voz do eu-lírico que reconhece a insuficiência do intelecto diante da complexidade do universo.

 


Assinale a alternativa correta.

Escolha uma das alternativas.