UEMG 2016

Os princípios da conversa

 

José Luiz Fiorin

 

As condições gerais de linguagem que permitem fazer inferências na troca verbal

 

 

Uma anedota conhecida conta que um agente alfandegário pergunta a um passageiro que desembarcara de um voo internacional e passava pela aduana:

 

– Licor, conhaque, grapa...?

 

O passageiro responde:

 

– Para mim, só um cafezinho.

 

A graça da piada reside no fato de que o passageiro fez, propositadamente ou não, uma inferência errada nessa situação de comunicação. Inferiu que o fiscal aduaneiro lhe oferecia um digestivo, como no final de uma refeição num restaurante, quando, na realidade, a inferência correta é se ele trazia alguma bebida alcoólica na bagagem. Ele violou o princípio de pertinência que rege o uso da linguagem.

 

Chama-se inferência pragmática aquela que resulta do uso dos princípios que governam a utilização da linguagem na troca verbal. Paul Grice (1975) postula que um princípio de cooperação preside à comunicação. Ele enuncia-se assim: sua contribuição à comunicação deve, no momento em que ocorre, estar de acordo com o objetivo e a direção em que você está engajado.

 

Categorias

 

Esse princípio é explicitado por quatro categorias gerais – a da quantidade das informações dadas, a de sua verdade, a de sua pertinência e a da maneira como são formuladas, que constituem as máximas conversacionais. (...)

 

Não são regras

 

Pode-se infringir uma máxima para não transgredir outra, cujo respeito é considerado mais importante.

 

No exemplo que segue, a resposta do interlocutor viola a máxima da quantidade para não desobedecer à da qualidade:

 

– Onde João trabalha? Ele saiu daquela firma?

 

– No Rio de Janeiro.

 

Com efeito, quem pergunta quer de fato saber é a firma onde João presta serviços. A resposta mais vaga permite inferir que o interlocutor não sabe exatamente onde João trabalha.

 

Pode-se explorar a infringência de uma máxima com vistas a criar um dado efeito de sentido. Por exemplo, a ironia é a exploração de uma transgressão da máxima da qualidade. O que o texto irônico está dizendo não é verdade. Deve-se entendê-lo pelo avesso. No exemplo que segue, “modesto” quer dizer o oposto:

 

“‘Tenho uma voz conhecida, então não é qualquer narrador, é o Falabella contando a história’, diz o modesto autor-locutor” (+ Miguel Falabella) (Veja, 11/1/2012, p. 109)

 

MÁXIMAS CONVERSACIONAIS

 

Máximas da quantidade

 

a)Que sua contribuição contenha o tanto de informação exigida;

 

b) Que sua contribuição não contenha mais informação do que é exigido.

 

Máximas da qualidade (da verdade)

 

a) Que sua contribuição seja verídica;

 

b) Não diga o que pensa que é falso;

 

c)Não afirme coisa de que não tem provas.

 

Máxima da relação (da pertinência)

 

Fale o que é concernente ao assunto tratado (seja pertinente).

 

Máximas de maneira

 

Seja claro.

 

a)Evite exprimir-se de modo obscuro;

 

b)Evite ser ambíguo;

 

c) Seja breve (evite a prolixidade inútil);

 

d) Fale de maneira ordenada.

http://revistalingua.com.br/textos/100/artigo304577-1.asp. (Adaptado).

 

 

A textualidade tem a referenciação como um de seus princípios. Trata-se de um processo pelo qual introduzimos ideias no texto e as recuperamos, por meio de recursos diversos. Um dos recursos muito utilizados é a sinonímia, que consiste no emprego de palavras com sentidos semelhantes, de modo a evitar a repetição desnecessária. Em relação aos pares de palavras a seguir, marque V (verdadeiro) para os pares de sinônimos corretos e F (falso) para os pares de sinônimos incorretos, de acordo com o texto.

 

( ) anedota – piada

 

( ) agente alfandegário – fiscal aduaneiro

 

( ) infringência – transgressão

 

( ) máxima – regra

 

( ) interlocutor – narrador

 

 

A sequência CORRETA é:

Escolha uma das alternativas.