UFAM 2010

EPITÁFIO
Perdão, meu Deus, se a túnica da vida,
Insano, profanei-a nos amores!
Se da c’roa dos sonhos perfumados
Eu próprio desfolhei as róseas flores!


No vaso impuro corrompeu-se o néctar,
A argila da existência desbotou-me...
O sol de tua glória abriu-me as pálpebras,
Da nódoa das paixões purificou-me!


E quantos sonhos na ilusão da vida!
Quanta esperança no futuro ainda!
Tudo calou-se pela noite eterna...
E eu vago errante e só na treva infinda...


Alma em fogo, sedenta de infinito,
Num mundo de visões o voo abrindo,
Como o vento do mar no céu noturno
Entre as nuvens de Deus, passei dormindo!


A vida é noite! o sol tem véu de sangue...
Tateia a sombra a geração descrida!...
Acorda-te, mortal! é no sepulcro
Que a larva humana se desperta à vida!


Quando as harpas do peito a morte estala,
Um treno* de pavor soluça e voa...
E a nota divinal que rompe as fibras
Nas dulias* angélicas ecoa!


* Treno - canto lacrimoso, lamento fúnebre.
* Dulia - veneração aos santos e anjos.

 

Sobre o poema de Álvares de Azevedo é incorreto afirmar que:

Escolha uma das alternativas.