UFF 2010

TEXTO  VIII


UM LUGAR COMUM, O EUFEMISMO E A FAVELA


Uma valorização do eufemismo parece importante na dinâmica das relações sociais. Seu emprego permitiria, em parte, contornar o valor negativo que certas expressões espelham. O eufemismo, no entanto, não afronta o estigma. Seu uso indica uma relação de cortesia, necessária, no curso das trocas sociais que se passam com aqueles que não podem se desfazer de suas marcas.

 

Observamos que este uso é generalizado entre diferentes grupos sociais – a mesma preocupação pode levar a substituir o termo comunidade por outro equivalente, como morro ou bairro.  Sabemos todos que nas trocas sociais o mais importante é o sentido que se elabora no interior das suas dinâmicas. O esforço continuado para não ferir as pessoas que acompanham as trocas sociais correntes motiva o uso do termo comunidade em muitos momentos, inclusive por aqueles diretamente concernidos – as pessoas que moram em favelas –, quando se referem a seus locais de moradia. Empregado pela mídia, pelo governo, pelas associações locais, pelas ONGs, o termo comunidade muitas vezes explicita a dificuldade dessa operação de levar em conta o que pensam os que se veem nomeados de uma forma negativa.

 

Se este uso eufemístico é recorrente, vale observar que, em muitas circunstâncias, do ponto de vista dos moradores, o que é mais reivindicado é a não identificação, ou seja, preferencialmente, a anulação de qualquer referência à identidade territorial em trocas sociais diversas.

 

O termo “comunidade” em seus usos eufemísticos não é capaz de impedir a associação da pessoa com os traços negativos provenientes dessa identificação; somente indica a suspensão destes pelo uso momentâneo de aspas que podem ser retiradas quando for preciso.


BIRMAN, Patrícia. Favela é comunidade? In SILVA, L.A.(org) Vida sob cerco. Violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio  de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, p.106-7. Adaptação.

 

Do Texto VIII, destaca-se o seguinte trecho:

 

“Observamos que este uso (do eufemismo) é generalizado entre diferentes grupos sociais – a mesma preocupação pode levar a substituir o termo comunidade por outro equivalente, como morro ou bairro”. 


A substituição apontada no trecho acima pode ser encontrada em letras de algumas canções, como no exemplo abaixo.
 

Endereço dos Bailes

 

“(...)

Ê  ê ê ê! Se liga que eu quero ver

O endereço dos bailes eu vou falar pra você

É que de sexta a domingo na Rocinha o morroenche de gatinha

Que vem pro baile curtir

Ouvindo charme, rap, melody ou montagem,

É funk em cima, é funk embaixo,

Que eu não sei pra onde ir


(...) Tem outro baile que a galera toda treme

É lá no baile do Leme lá no Morrodo Chapéu

Tem na Tijuca um baile que é sem bagunça

A galera fica maluca lá no Morro do Borel

(...)”
MC Júnior e MC Leonardo
 


Essa associação entre favela e morro pode ser explicada pela combinação dos seguintes aspectos:

 

Escolha uma das alternativas.