UFJF 2013
Texto I
O seu amor
O seu amor
Ame-o e deixe-o livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o ser o que ele é
Ser o que ele é
GIL, Gilberto. “O seu amor”. In: Doces Bárbaros, PolyGram, 1976.
Texto II
Os meses se aligeiravam e evitávamos sair de casa. (Não desejava que outros presenciassem a nossa intimidade, os meus cuidados com ela.)
Loquaz, alegre, eu agora gostava de vê-la comer aos bocadinhos, mastigando demoradamente os alimentos. Às vezes me interrompia com uma observação ingênua:
- Se a Terra roda, por que não ficamos tontos?
Longe de me impacientar, dizia-lhe, em resposta, uma porção de coisas graves, que Geralda ouvia com os olhos arregalados. No final, me lisonjeava com um descabido elogio aos meus conhecimentos.
Não tardaram a se encompridar os dias, tornando rotineiros os meus carinhos, criando o vácuo entre nós, até que me calei. Ela também emudeceu.
Restava-nos o restaurante. Para lá nos dirigimos, guardando um silêncio condenado a dolorosa permanência.
O rosto dela passou a aborrecer-me, bem como o reflexo do meu tédio no seu olhar. Enquanto isso, despontava em mim a necessidade de ficar só, sem que Geralda jamais me largasse, seguindo-me para onde eu fosse. Nervoso, a implorar piedade com os olhos, não tinha suficiente coragem de lhe declarar o que passava no meu íntimo.
Uma tarde, olhava para as paredes sem nenhuma intenção aparente e enxerguei uma corda dependurada num prego. Agarrei-a e disse para Geralda, que se mantinha abstrata, distante:
- Ela lhe servirá de colar.
Nada objetou. Apresentou-me o pescoço, no qual, com delicadeza, passei a corda. Em seguida puxei as pontas. Minha mulher fechou os olhos como se estivesse recebendo uma carícia. Apertei com força o nó e a vi tombar no assoalho.
Como se fosse hora de jantar, maquinalmente, rumei para o restaurante, onde procurei a mesa habitual. Sentei-me distraído, sem que nada me preocupasse. Pelo contrário, envolvia-me doce sensação de liberdade.
RUBIÃO, Murilo. “Os três nomes de Godofredo”. Obra completa. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. pp. 115-116.
Os dois textos (Texto I e Texto II) elaboram diferentes percepções do amor. A ideia que orienta tais percepções em cada um dos textos é, respectivamente:
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