UFJF 2014

(...)

  O brasileiro tinha já recebido pauladas na testa, no pescoço, nos ombros, nos braços, no peito, nos rins e nas pernas. O sangue inundava-o inteiro; ele rugia e arfava, iroso e cansado, investindo ora com os pés, ora com a cabeça, e livrando-se daqui, livrando-se dali, aos pulos e às cambalhotas.

  A vitória pendia para o lado do português. Os espectadores aclamavam-no já com entusiasmo; mas, de súbito, o capoeira mergulhou, num relance, até as canelas do adversário e surgiu-lhe rente dos pés, grupado nele, rasgando-lhe o ventre com uma navalhada.  

  Jerônimo soltou um mugido e caiu de borco, segurando os intestinos.  

  — Matou! Matou! Matou! exclamaram todos com assombro.

  Os apitos esfuziaram mais assanhados.

  Firmo varou pelos fundos do cortiço e desapareceu no capinzal.

  — Pega! Pega!

  — Ai, o meu rico homem! ululou Piedade, atirando-se de joelhos sobre o corpo ensanguentado do marido. Rita viera também de carreira lançar-se ao chão junto dele, para lhe afagar as barbas e os cabelos.

  — É preciso o doutor! suplicou aquela, olhando para os lados à procura de uma alma caridosa que lhe valesse.

  Mas nisto um estardalhaço de formidáveis pranchadas estrugiu no portão da estalagem. O portão abalou com estrondo e gemeu.

  — Abre! Abre! reclamavam de fora.

  João Romão atravessou o pátio, como um general em perigo, gritando a todos:

  — Não entra a polícia! Não deixa entrar! Aguenta! Aguenta!

  (...)

  A polícia era o grande terror daquela gente, porque, sempre que penetrava em qualquer estalagem, havia grande estropício; à capa de evitar e punir o jogo e a bebedeira, os urbanos invadiam os quartos, quebravam o que lá estava, punham tudo em polvorosa. Era uma questão de ódio velho.

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 1990, p. 87-88.

 

 

Nas opções abaixo, todos os textos são de autoria de Oswald de Andrade, autor modernista, que criou uma ampla interpretação da cultura brasileira em poemas curtos e humorados. Assinale a opção em que o poema de Oswald de Andrade descreve uma situação similar àquela narrada no fragmento do romance O cortiço.

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