UFLA 2014

PELO DIREITO DE TER ORGULHO DE SER BRASILEIRO
Rafael Jardim
Essa moda pseudo-intelectual e elitista de falar mal dos brasileiros é passageira e representa a minoria da minoria.
Temos muitas virtudes, e precisamos valorizá-las.

 

 

Tem crescido bastante, nos últimos anos, a parcela de brasileiros que adotaram como hobby falar mal do Brasil e do seu povo. Muitos começam a pensar que sair falando negativamente sobre o brasileiro é chique, um sinal de inteligência e senso crítico. Felizmente, apesar desse crescimento, essa parcela é ainda pouquíssimo representativa, sendo minoritária até mesmo entre a elite econômica, em que se concentra a maior parte dessas pessoas.

 

Essa parcela de brasileiros esperneia em relação a tudo que identifica o Brasil. Critica o carnaval, embora conte os dias para ele chegar e, se não viaja, assiste aos desfiles das escolas de samba. Critica o futebol, como se fosse um mal em si, ou como se a maioria dos outros países do mundo não tivesse, também, uma preferência nacional por determinado esporte, ou um conjunto deles. Ademais, essa parcela morre de raiva quando vê filmes que mostram a realidade das favelas ganhando prêmios internacionais. Mesmo reconhecendo, por outro lado, que o gênero comédia romântica não é o nosso forte. No fundo, eles têm medo de que o resto do mundo passe a achar que somos uma grande favela, e que não temos pessoas chiques e “bem vestidas”, que andam em carrões e moram em mansões.

 

Ter estereótipos é normal, incontrolável. No mundo todo, muita gente acha que todo francês cheira mal e é grosso, todo britânico é educado e polido, todo oriental é centrado e paciente e todo muçulmano é um terrorista em potencial. Identificamos (nós, a comunidade mundial) países com pequenas coisas: a Suíça com chocolate, a Itália com massas, a Rússia com vodka, a Argentina com tango, o México com novelas e sombreiros, a Austrália com cangurus. Por que então incomoda tanto a alguns que sejamos identificados pelo samba, carnaval e futebol? Claro que temos muito mais. Assim como todos esses outros países. 

 

Vários estrangeiros que conheci no Brasil já comentaram ter se espantado em como alguns brasileiros insistem em dizer que têm vergonha disso e daquilo, que o brasileiro não presta e por aí vai. E todos os estrangeiros que conheci aqui voltaram para seus países completamente encantados. Latinos, europeus, asiáticos, africanos e norte-americanos. Todos. 

 

Pesquisas comprovam isso. Recentemente, a CNN fez uma enquete em que as pessoas que votaram elegeram o Brasil como o lugar mais interessante e com o povo mais “cool” (legal) do mundo. Há alguns anos, a Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) fez uma pesquisa com turistas que mostrou que, para 52% deles, o que o Brasil tem de melhor é o seu povo. E 94% disseram que somos tolerantes a todas as religiões e culturas. Às vezes, não parece. Mas a maioria de nós é tolerante, sim. Não fosse assim, nós não teríamos sobrevivido enquanto nação. Outro dado da pesquisa: para 70%, ninguém de fora nos ameaçará com guerras ou ataques terroristas. Em resumo, a pesquisa comprovou o que muitos já sabiam – os estrangeiros enxergam o brasileiro como sendo feliz, tolerante, pacífico, simpático, cordial, hospitaleiro, prestativo e “alto-astral”. Para que contestá-los?

 

Um equívoco comum que alguns cometem é o de pensar que o brasileiro é corrupto, algo como se fosse “por natureza”. Parece que o Brasil inventou a corrupção, ou que apenas aqui existem políticos corruptos. Na verdade, não há país no mundo em que o povo goste de seus políticos, e o que difere o Brasil dos países com índices menores de corrupção é uma coisa chamada impunidade. A ideia de que o problema é cultural é tosca e não tem respaldo em nada concreto. Tudo passa por instituições sólidas, mecanismos de transparência (dois fatores em que temos avançado bastante desde a redemocratização) e uma justiça que funcione.

 

É irônico ver que, à medida que o Brasil começa a realmente enfrentar e resolver os seus problemas, mais pessoas começam a achar legal criticar o país e o seu povo. Mas isso não deve ter nenhuma relação com o fato de que muita gente tem perdido o tal do status quo, já que cada vez mais brasileiros entram nas classes A e B... 

 

De fato, nosso país tem melhorado muito. Um artigo publicado pela Revista de Economia Política há um ano mostra dados impressionantes sobre o ritmo de queda da nossa desigualdade. [...] a pobreza diminuiu muito, e a taxa de desemprego é melhor do que a de vários países europeus, sendo que a maioria dos economistas já considera que estamos em situação de pleno emprego.

 

Temos muito que nos orgulhar. Somos, sim, um povo alegre, que insiste em ser feliz. Somos persistentes, sim, e trabalhamos muito (nossa carga de trabalho está entre as mais altas do mundo). O resto do mundo gosta do brasileiro e respeita e admira o Brasil, sobretudo porque ele está resolvendo os seus problemas, passo a passo, mas de maneira consistente. O sentimento de patriotismo não é uma coisa brega. Não temos de ter vergonha do samba, do carnaval ou do futebol. Temos que valorizar nossas virtudes, sem esperar que os estrangeiros nos lembrem quais são. Temos o direito de ter orgulho de ser brasileiro.

Disponível em: http://jornalopcao.com.br/colunas/contradicao/pelo-direito-de-ser-brasileiro
Acesso em: 21/5/2013.

 

 

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