UFRN 2001

1            Ouço muito: um bom texto deve ser claro e conciso.
              Não há dúvida de que a clareza é a principal qualidade do texto. Ser conciso, entretanto, é uma luta muito árdua.
2            Ser conciso é dizer o necessário com o mínimo de palavras, sem prejudicar a clareza da frase. É ser objetivo e direto.
3            E aqui está a nossa dificuldade. Nós, brasileiros, estamos habituados a falar muito e dizer pouco, a escrever mais que o necessário, a discursar mais para impressionar do que comunicar.
4            Para muitos, esse hábito começa na escola. É só fazer uma "sessão nostalgia" e voltarmos aos bons tempos de colégio, às gloriosas aulas em que o professor anunciava: "Hoje é dia de redação." Você se lembra da "alegria" que contagiava a turma? Você se lembra de algum coleguinha que dizia estar "inspirado"? Você se lembra de algum tema para a redação que tenha deixado toda a turma satisfeita? A verdade é que não aceitávamos tema algum. Pedíamos outro tema. Se o professor apresentasse vários temas, pedíamos "tema livre". E se fosse tema livre, exigíamos um. Era uma insatisfação total. Depois de muita briga, o tema era "democraticamente imposto". E aí vinha aquela tradicional pergunta: "Quantas linhas?" A resposta era 1original: "No mínimo 25 linhas." Eu costumo dizer que 25 é um número traumático na vida do aluno. 2A partir daquele instante, começava um verdadeiro drama na sua vida: "Meu reino pela 25a linha." Valia tudo para se 3chegar lá. Desde as ridículas letras que "engordavam" repentinamente até a famosa "encheção de linguiça".
5            E aqui pode estar a origem de tudo. Nós nos habituamos a "encher linguiça". Pelo visto, há políticos que fizeram "pós-graduação" no assunto. São os mestres da prolixidade. Falam, falam e não dizem nada. Em algumas situações não têm o que dizer, às vezes não sabem explicar e muitas vezes precisam "enrolar".
6            O problema maior, entretanto, é que a doença atinge também outras categorias profissionais.
7            Vejamos três exemplos retirados de bons jornais:
            1. "A largada será no Leme. A chegada acontecerá no mesmo local da partida."
            Cá entre nós, bastava ter escrito: "A largada e a chegada serão no Leme."
            2. "O procurador encaminhou ofício à área criminal da Procuradoria determinando que seja investigado..."
            Sendo direto: "O procurador mandou investigar."
            3. "A posição do Governo brasileiro é de que esgotem todas as possibilidades de negociação para que se alcance uma solução pacífica."
            Enxugando a frase: "O Brasil é a favor de uma solução pacífica."
            Exemplos não faltam, mas espaço sim. Por hoje é só. Prometo voltar ao assunto.

(DUARTE, Sérgio Nogueira. O Caso. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 jan. 2000. cad. BRASIL, p. 14. [coluna LÍNGUA VIVA])


A palavra QUE exerce função sintática de sujeito em:

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