UNAMA 2007

Texto 1

 

A terceira margem do rio

 

[...]
“Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e   rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo develhice – esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo,cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento   morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse – se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.”[...]
(Guimarães Rosa –fragmento)

 

Texto 2

 

A terceira margem do rio

 

Oco de pau que diz: eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz, risca certeira
Meio a meio o rio ri, silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz: risca terceira
Água da palavra, água calada, pura
Água da palavra, água de rosa dura
Proa da palavra, duro silêncio, nosso pai,
Margem da palavra entre as escuras duas
Margens da palavra, clareira, luz madura
Rosa da palavra, puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri por entre as árvores da vida
O rio riu, ri por sob a risca da canoa
O rio riu, ri o que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi a voz das águas
Asa da palavra, asa parada agora
Casa da palavra, onde o silêncio mora
Brasa da palavra, a hora clara, nosso pai
Hora da palavra, quando não se diz nada
Fora da palavra, quando mais dentro aflora
Tora da palavra, rio, pau enorme, nosso pai
(Milton Nascimento e Caetano Veloso)

 

No texto 2, Caetano Veloso e Milton Nascimento fazem uma releitura do conto de Guimarães Rosa, cujo fragmento é o texto I. Nessa releitura Caetano e Milton valem-se, principalmente, do (a):

 

I. musicalidade do texto rosiano, Narrador contando em voz alta a sua história, ou seja, há sempre um tom de oralidade no seu texto, o que o aproxima da palavra cantada.
II. narrativa basicamente num mesmo espaço geográfico, com os mesmo elementos da natureza, o que resume a obra de Rosa ao regionalismo do tipo “pitoresco”, longe do conceito de universalidade, como na música de Caetano e Milton.
III. ideal de linguagem e fuga do lugar comum, a fim de conseguir riqueza estilística, resultado de elaboração lingüística, como fazem Caetano e Milton, por exemplo, ao acariciar a sonoridade das palavras: “Asa da palavra... proa da palavra... água da palavra... casa da palavra... brasa da palavra... hora da palavra... fora da palavra... tora da palavra...”

 

O correto está nas afirmativas :

Escolha uma das alternativas.