UNEMAT 2015

[...] Grave, grave, o caso. Premia-nos a multidão, e estava-se na área de baixa pressão do ciclone. – “Disse que era são, mas que, vendo a humanidade já enlouquecida, e em véspera de mais tresloucar-se, inventara a decisão de se internar, voluntário: assim, quando a coisa se varresse de infernal a pior, estaria já garantido ali, com lugar, tratamento e defesa, que, à maioria, cá fora, viriam a fazer falta...” – e o Adalgiso, a seguir, nem se culpava de venial descuido, quando no ir querer preencher-lhe a ficha.

– “Você se espanta?” – esquivei-me. De fato, o homem exagerara somente uma teoria antiga: a do professor Dartanhã, que, mesmo a nós, seus alunos, declarava-nos em quarentapor-cento casos típicos, larvados; e, ainda, dos restantes, outra boa parte, apenas de mais puxado diagnóstico.

[...]

Reaparecendo o humano e o estranho. O homem. Vejo que ele se vê, tive de notá-lo. E algo de terrível de repente se passava. Ele queria falar, mas a voz esmorecida; e embrulhou-se-lhe a fala. Estava em equilíbrio de razão: isto é, lúcido, nu, pendurado. Pior que lúcido, relucidado; com a cabeça comportada. Acordava! Seu acesso, pois, tivera termo, e, da ideia delirante, via-se dessonambulizado. Desintuído, desinfluído – se não se quando – soprado. Em doente consciência, apenas, detumescera-se, recuando ao real e autônomo, a seu mau pedaço de espaço e tempo, ao sem-fim do comedido.

Aquele pobre homem descoroçoava. E tinha medo e tinha horror – de tão novamente humano. [...] Desprojetava-se, coitado, e tentava agarrar-se, inapto, à Razão Absoluta? Adivinhava isso o desvairar da multidão espaventosa – enlouquecida. Contra ele, que, de algum modo, de alguma maravilhosa continuação, de repente nos frustrava. Portanto, em baixo, alto bramiam. Feros, ferozes. Ele estava são. Versânicos, queriam linchá-lo.[...]

(ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001)

O conto Darandina, de João Guimarães Rosa, narra o episódio de um homem que, após escapar de um instituto onde havia se internado e tentar alguns pequenos furtos, sobe em uma palmeira no meio de uma praça para escapar à perseguição das pessoas, tirando a própria roupa e provocando aglomeração e desordem. A partir dos trechos acima, que se situam próximos ao início e ao fim do conto, respectivamente, percebe-se que:

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