UPE 2011

A morte do livro

A morte do livro como veículo da literatura já foi profetizada várias vezes na chamada Época Moderna. E não por inimigos da literatura, mas pelos próprios escritores. Até onde me lembro, o primeiro a fazer essa profecia foi nada menos que o poeta Guillaume Apollinaire, no começo do século XX.

Entusiasmado com a invenção do gramofone (ou vitrola), acreditou que os poetas em breve deixariam de imprimir poemas em livros para gravá-los em discos, com a vantagem – segundo ele, indiscutível! – de o antigo leitor, tornado ouvinte, ouvi-los na voz do próprio poeta. A profecia estava equivocada, mas o erro do poeta é compreensível, já que, com o gramofone, os poetas modernos estariam mais próximos dos antigos aedos (Na Grécia Antiga, assim se chamava o cantor que apresentava suas composições religiosas ou épicas, acompanhando-se ao som da cítara.)

De qualquer modo, Apollinaire, que foi um bom poeta, revelara-se um mau profeta, já que os poetas continuaram a se valer do livro para difundir seus poemas, enquanto o disco veio servir mesmo foi aos cantores e compositores de canções populares, que são de fato os aedos modernos. E a tal ponto que houve quem afirmasse a substituição do poema pela canção popular: a poesia teria, assim, por morte do poema, se transferido do livro para o disco.

Mas ainda desta vez os propagadores de maus presságios pisaram na bola, uma vez que, décadas depois dessa profecia, os livros de poemas continuaram a ser editados, com a ajuda, hoje – vejam vocês! – da revolucionária tecnologia da informática. (Mas já há quem garanta que o livro – e não só o de literatura – vai morrer agora, substituído pelo computador. Mal sabe essa gente que há 40 anos inventei o livro-poema, que o computador não pode substituir.) (...)

Não concordo com essas previsões da morte do livro e da literatura quando mais não seja porque me parecem simplificadoras da questão. Se é verdade que, só em estado de delírio, alguém afirmaria que mais gente lê livros do que vê televisão, também se equivocaria quem visse nessa diferença de interesses um indício de que em breve ninguém mais lerá livros.

(Ferreira Gullar. Folha de São Paulo. Março de 2006. Adaptado.)

 

 

Com base no material linguístico com que o Texto em análise está construído, analise as seguintes considerações:

 

I. No texto, lê-se que: “os poetas em breve deixariam de imprimir poemas em livros para gravá-los em discos, com a vantagem – segundo ele, indiscutível! – de o antigo leitor, tornado ouvinte, ouvi-los na voz do próprio poeta.” Com o segmento sublinhado, o autor prefere atribuir a outro a responsabilidade da avaliação feita.

II. Em: “De qualquer modo, Apollinaire, que foi um bom poeta, revelara-se um mau profeta”, o segmento sublinhado funciona como uma explicação e não, como uma restrição. Por isso, é adequado o uso das vírgulas.

III. Em: “Até onde me lembro, o primeiro a fazer essa profecia foi nada menos que o poeta Guillaume Apollinaire”, o trecho em destaque funciona como uma ressalva do autor frente ao que é afirmado a seguir.

IV. Em: “houvequem afirmasse a substituição do poema pela canção popular”, o verbo sublinhado ficaria no plural, caso o sujeito não fosse o pronome ‘quem’, mas um substantivo comum flexionado no plural.

V. Em: “os propagadores de maus presságiospisaram na bola”, o segmento em destaque – uma espécie de metáfora – remete para contextos informais de uso da língua.

 

Estão CORRETAS as afirmações que constam apenas nos itens

Escolha uma das alternativas.