UPE 2014

Iracema

 

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.

 

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.

 

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

 

Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

 

Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.

 

Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.

 

A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.
(...)
José de Alencar

 

O texto acima, um fragmento de um dos romances mais célebres da literatura brasileira, está inserido no Romantismo, na sua vertente indianista. Sobre o contexto histórico em que essa escola literária se desenvolveu no Brasil, analise as afirmativas a seguir.

 

I. Nas primeiras décadas após o descobrimento do Brasil, o país inspirava romancistas e poetas, em razão de sua natureza selvagem e do exotismo dos seus nativos, fatores que facilitaram uma produção literária em que o indígena era o protagonista.
II. Os ideais libertários da Inconfidência Mineira favoreceram uma produção literária, tanto em prosa como em verso, que incorporou essa temática ao ideário romântico brasileiro e em que o índio surgiu como símbolo de liberdade e integração à natureza.
III. A chegada da corte portuguesa ao Brasil favoreceu a divulgação dos novos ideais europeus e, ao mesmo tempo, fez surgir uma burguesia que se tornou personagem e público leitor de uma literatura que também adotaria o índio como força identitária da jovem nação.
IV. Enquanto o país vivia o processo de independência política, o Romantismo se desenvolveu numa atmosfera em que o nacionalismo, a exaltação à natureza e a valorização das lutas sociais influenciaram romancistas e poetas que elevaram o índio a herói e símbolo do nosso passado histórico.

 

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