UFABC 2007

A temática da fome está presente em um dos mais expressivos romances de Graciliano Ramos,  Vidas Secas. Leia um trecho dessa obra.

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Entrava dia e saía dia. As noites cobriam a terra de chofre.
A tampa anilada baixava, escurecia, quebrada apenas pelas vermelhidões do poente.

 

Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de Fabiano bateu junto do coração de Sinhá Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de
perder a esperança que os alentava.

 


Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá. Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras, afastando pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava ensangüentado, lambia o sangue e tirava proveito do beijo.

 

Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do grupo. E Fabiano queria viver. Olhou o céu com resolução. A nuvem tinha crescido, agora cobria o morro inteiro. Fabiano pisou com segurança, esquecendo as rachaduras que lhe estragavam os dedos e os calcanhares.

 

(Ilustração de Aldemir Martins, para a 27.ª edição de Vidas Secas, São Paulo, Martins Fontes, 1970).

 

A respeito do trecho, observa-se que:

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