FGV-SP 2012

Leia o seguinte texto, que é parte de uma entrevista concedida por Érico Veríssimo a Clarice Lispector:


– Érico, por que você acha que não agrada aos críticos e aos intelectuais?
– Para começo de conversa, devo confessar que não me considero um escritor importante. Não sou um inovador. Nem mesmo um homem inteligente. Acho que tenho alguns talentos que uso bem... mas que acontece serem os talentos menos apreciados pela chamada “critica séria”, como, por exemplo, o de contador de histórias. Os livros que me deram opularidade, como  Olhai os lírios do campo, são romances medíocres. Nessa altura me pespegaram* no  lombo literário vários rótulos: escritor para mocinhas, superficial etc... O que vem depois dessa primeira fase é bastante melhor mas, que diabo! pouca gente (refiro-me aos críticos apressados) se dá ao trabalho de revisar opiniões antigas e alheias. Por outro lado, existem os “grupos”. Os esquerdistas sempre me acharam “acomodado”. Os direitistas me consideram comunista. Os moralistas e reacionários me acusam de imoral e subversivo. Havia ainda essa história cretina de “norte contra sul”.  E ainda essa natural má vontade que cerca todo escritor que vende livro, a ideia de que best-seller tem de ser necessariamente um livro inferior.  Some tudo isto, Clarice, e você não terá ainda uma resposta satisfatória à sua pergunta. Mas devo acrescenta que há no Brasil vários críticos que agora me levam a sério, principalmente depois que publiquei O tempo e o vento. (Bons sujeitos!)
Clarice Lispector. Entrevistas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
 

* “pespegaram”: aplicaram.

 

O acirramento dos conflitos de “esquerdistas” versus “direitistas”, de “moralistas e reacionários” versus liberais e de “norte contra sul”, característico da época em que surgiu o autor, marca de modo acentuado o ambiente no qual evoluiu a literatura brasileira, no período 

 

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