FCMMG 2015

• Neologismo e intertextualidade
  A ideia de Deus e dos santos torna-se jéco-cêntrica. São os santos os grandes lá de cima, os coronéis celestes, debruçados no azul para espreitar-lhes a vidinha e intervir nela ajudando-os ou castigando-os, como os metediços deuses de Homero.(M.L.)/ Graças a Deus encontrei um Cisalpino meio bêbado que me jogou generosamente a cervejamiga. Outra? Outra geladíssima. Outra. Mais outra. Enfim dezenas de pombas ... (P.N.)

• Ironia e discurso direto
  O cargo mais modesto da administração, uma simples vereança, requer na cara a imobilidade da idiotia que não ri. Não se concebe vereador risonho. Falta ao dito de Rabelais uma exclusão: o riso é próprio à espécie humana, fora o vereador. (M.L.)/ Sempre aborreci dois ovos de uma vez e pedi ao garçom que o meu prato viesse com um só. Ele varou a cervejaria cheia de conversas e do barulhinho seco dos dados do leg-leg com um grito de clarim. Salta três a cavalo, dois sangrentos e um Camões bem passado. Sim, Camões: ovo só - olho só.(P.N.)

• Linguagem chula e metáforas
  Nesse ponto armou um pincho de gato e despejou-se pela janela fora. Apanharam-no morto, de crânio rachado, a escorrer a couve-flor dos miolos perto da árvore fatal. (M.L.)/ A minhoca gigantesca dos intestinos cheios de merda. Os feijões dos rins, com o fiapo dos ureteres e a bexiga parecendo rã, aplastada e ainda com restos de urina; úteros abrindo trompas para dois ovários franjados. (P.N.)

• Cologuialismo e metalinguagem
  A democracia opera com manha de Tartufo, arma arapucas, mete dentro rodelas de laranja e espera aleivosamente que, "sponte sua", caia no laço o passarinho. (M.L.)/ Para mim, esse ano foi o das leituras também de Lobato e Leo Vaz; de Ramalho, Fialho e sempre Eça - que eu lia escondido, dado sua passageira fase de descrédito durante e logo depois do Modernismo e dos anos vinte. (P.N.)