UECE 2014

O texto a seguir foi extraído de uma crônica de Affonso Romano de Sant’Anna, cronista e poeta mineiro. Professor universitário e jornalista, escreveu para os maiores jornais do País. “Com uma produção diversificada e consistente, pensa o Brasil e a cultura do seu tempo, e se destaca como teórico, como poeta, como cronista, como professor, como administrador cultural e como jornalista.”

Porta de colégio

   Passando pela porta de um colégio, me veio a sensação nítida de que aquilo era a porta da própria vida. Banal, direis. Mas a sensação era tocante. Por isso, parei, como se precisasse ver melhor o que via e previa.
   Primeiro há uma diferença de 1clima entre 6aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refrigerantes, e aqueles que transitam pela rua. Não é só o uniforme. Não é só a idade. É toda uma ainda dentro de uma 8redoma ou aquário, numa bolha, resguardados do mundo. Talvez não estejam. Vários já sofreram a pancada da separação dos pais. 7Aprenderam que a vida é também um exercício de separação. 9Um ou outro já transou droga, e com isso deve ter se sentido (equivocadamente) muito adulto. Mas há uma sensação de pureza angelical misturada com palpitação sexual, que se exibe nos gestos sedutores dos adolescentes.
   Onde estarão 4esses meninos e meninas dentro de dez ou vinte anos?
   5Aquele ali, moreno, de cabelos longos corridos, que parece gostar de esporte, vai se interessar pela informática ou economia; 5aquela de cabelos louros e crespos vai ser dona de boutique; 5aquela morena de cabelos lisos quer ser médica; a gorduchinha vai acabar casando com um gerente de multinacional; 5aquela esguia, meio bailarina, achará um diplomata. Algumas estudarão Letras, se casarão, largarão tudo e passarão parte do dia levando filhos à praia e à praça e pegando­os de novo à tardinha no colégio. [...]
   Estou olhando aquele bando de adolescentes com evidente ternura. Pudesse passava a mão nos seus cabelos e contava­lhes as últimas histórias da carochinha antes que o 3lobo feroz as assaltasse na esquina. Pudesse lhes diria daqui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma, enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino também passa por aí. E a gente pode às vezes modificá-­lo.

SANT’ANNA, Affonso Romano de. Affonso Romano de Sant’Anna: seleção e prefácio de Letícia Malard. Coleção Melhores Crônicas. p. 64­66.

Atente para o que se diz a respeito da preposição de que entra na composição do título da crônica: “Porta de colégio”.

I. A preposição de, sozinha, sem contração, como é usada nesse título, generaliza o substantivo, no caso do texto, colégio.
II. A contração da preposição de com o pronome demonstrativo aquele, que resultaria em daquele, manteria inalterado o sentido do título.
III. A introdução, no título do texto, do artigo definido o, que resultaria em do, alteraria o sentido do título.

Está correto o que se diz apenas em

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