FCMMG 2005

“FILHO DE PRETO MORRE MUITO”


Nos países subdesenvolvidos, que constituem três quartos da população do globo, a criança paga, realmente, o maior tributo. Paga com a morte, uma vida que foi curta e dolorosa. Paga nascendo mal, vivendo mal e, finalmente, morrendo antes de viver.

No fulcro de toda esta esteira de vida curta e dolorosa está a fome, como o grande fantasma que dirige as asperezas de um destino de tortura. 

Os meninos de Brodowsky são meninos do mundo, são meninos do pauperismo, filhos de mamas ressequidas, de panelas vazias, de telhados de zinco, de paredes de caixotes, de casas de capim, de colchas de remendos, de pés descalços. Quando vem o verão, perdem a água que era pouca, perdem os sais que guardam avaramente no inverno e morrem secos e insossos. 

Numa noite cálida de janeiro, num plantão de prontosocorro, um homem pobre, diante de um filho morto, ungido de um estoicismo cético, disse-nos conformado: “Doutor, filho de preto morre muito”. 

É uma observação de um pai preto que deve ser respeitada pela pureza de sua essência. 

A interpretação cabe aos médicos, não ao pai.
(SANDERSON, Dr. Júlio. A morte é notícia - a cura é anônima. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 2001, p.138.)

 

 

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