PUC-MG 2012

INTRODUÇÃO


Folheando os livros de antigos assentamentos, no cartório das cadeias da Relação do Porto, li,
no das entradas dos presos desde 1803 a 1805, a folhas 232, o seguinte: 

 

Simão Antônio Botelho, que assim disse chamar-se, ser solteiro, e estudante na Universidade de Coimbra, natural da cidade de Lisboa, e assistente na ocasião de sua prisão na cidade de Viseu, idade de dezoito anos, filho de Domingos José Correia Botelho e de D. Rita Preciosa Caldeirão Castelo Branco; estatura ordinária, cara redonda, olhos castanhos, cabelo e barba preta, vestido com jaqueta de baetão azul, colete de fustão pintado e calça de pano pedrês. E fiz este assento, que assinei - Filipe Moreira Dias.


À margem esquerda deste assento está escrito:

 

Foi para a Índia em 17 de março de 1807.

 

Não seria fiar demasiadamente na sensibilidade do leitor, se cuido que o degredo de um moço
de dezoito anos lhe há de fazer dó.

 

Dezoito anos! O arrebol dourado e escarlate da manhã da vida! As louçanias do coração que ainda não sonha em frutos, e todo se embalsama no perfume das flores! Dezoito anos! O amor daquela idade! A passagem do seio da família, dos braços de mãe, dos beijos das irmãs para as carícias mais doces da virgem, que se lhe abre ao lado como flor da mesma sazão e dos mesmos aromas, e à mesma hora da vida! Dezoito anos!... E degredado da pátria, do amor e da família! Nunca mais o céu de Portugal, nem liberdade, nem irmãos, nem mãe, nem reabilitação, nem dignidade, nem um amigo!... É triste!

 

O leitor decerto se compungiria; e a leitora, se lhe dissessem em menos de uma linha a história daqueles dezoito anos, choraria!

 

Amou, perdeu-se, e morreu amando.

 

É a história. E história assim poderá ouvi-la a olhos enxutos a mulher, a criatura mais bem formada das branduras da piedade, a que por vezes traz consigo do céu um reflexo da divina misericórdia?! Essa, a minha leitora, a carinhosa amiga de todos os infelizes, não choraria se lhe dissessem que o pobre moço perdera honra, reabilitação, pátria, liberdade, irmãs, mãe, vida, tudo, por  amor da primeira mulher que o despertou do seu dormir de inocentes desejos?!
(BRANCO, CAMILO CASTELO. Amor de perdição. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=7521>. Acesso em 20 ago. 2011.)

 

NÃO se identificou corretamente o sentido do termo em destaque em:

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