UFV 2012

O NOVO JEITO DE VER TV

Pesquisa do Ibope mostra que 43% dos internautas do Brasil navegam na rede ao mesmo tempo em que assistem a programas

 

 O roteirista Bruno Rocha, mais conhecido por sua alcunha virtual, Hugo Gloss, fez fama na rede ao interagir com celebridades e, principalmente, comentar a programação televisiva em tempo real no Twitter. O psiquiatra e ex-BBB Marcelo Arantes passa boa parte do seu tempo livre em frente à TV com iPad na mão, twittando freneticamente suas observações sobre novelas, reality shows e telejornais. Os dois são parte dos 43% dos usuários de internet que assistem à TV ao mesmo tempo em que navegam na rede, segundo a pesquisa Social TV, divulgada pelo Ibope Nielsen Online ente mês. É a primeira vez que o instituto se debruça sobre a relação entre televisão e internet e, em meio às conclusões, estão a de que, destes consumidores simultâneos, 70% navegam influenciados pela televisão e 80% mudam de canal ou assistem a determinados programas motivados pela rede.

 

Há ainda outros números e pesquisas comprovando que a internet definitivamente mudou a forma como os espectadores assistem à TV, e eles vêm pipocando no Brasil nos últimos anos. Um estudo da E.life, realizado no Rio e em São Paulo nos dois primeiros meses de 2012, concluiu que assuntos relacionados à televisão são os mais comentados no Twitter nas duas cidades brasileiras. Além disso, uma outra pesquisa do Ibope, de 2011, apontava que a maioria das hashtags mais populares do microblog vinham de atrações televisivas. Com o aumento crescente da penetração dos meios digitais ― hoje já são quase 80 milhões os internautas no Brasil ―, já é possível dizer que, diferentemente do que muitos alarmistas acreditavam, a internet não tem qualquer intenção de destruir a TV.

 

― Tem uma frase de que eu gosto muito: “As mídias tradicionais não vão morrer. O que vai morrer é a nossa forma de lidar com elas”. Isso sintetiza esse fenômeno. O nosso jeito de interagir com a TV está passando por uma evolução. Esse é o grande achado da pesquisa, comprovar que as pessoas estão mesmo mais multimídia, abertas a consumir mais de um meio por vez ― explica Juliana Sawaia, gerente de Consumer Insight do Ibope Media.

 

Falando de forma mais técnica, o fenômeno apontado pela pesquisa do Ibope já tem nome: segunda tela. A second screen (o termo foi cunhado em inglês) seria um aparelho eletrônico móvel, como um smartphone, notebook ou tablet, pelo qual o telespectador consiga interagir com o conteúdo da TV e compartilhá-lo com outras pessoas. E a relação vem dando certo: um estudo da Cable & Telecommunications Association for Marketing mostrou, em 2011, que a segunda tela faz com que o telespectador se envolva e preste mais atenção ao conteúdo da televisão. E está todo mundo de olho neste conceito [...].

 

Apesar dos esforços das emissoras brasileiras para se adaptar a esse novo comportamento do espectador, ainda há muito o que caminhar, na opinião da especialista Daniele Rodrigues. Ela acabou de começar sua pesquisa sobre “produção de sentido na conversão televisão/second screen”, dentro do programa de mestrado em Comunicação Digital na USP, em São Paulo. Segundo ela, ainda há poucos estudos aprofundados e iniciativas realmente eficazes por parte dos canais no que diz respeito à segunda tela no Brasil:

 

― A maioria das pesquisas que existem acaba falando muito da tecnologia e do aumento do número das pessoas que têm acesso, mas pouco sobre a forma de absorver a informação e o significado que ela passa a ter. Isso é meio ignorado pela academia e pelo mercado. Não se usa aqui ainda a plataforma como ela poderia ser usada, para ser uma ramificação da TV. Nos EUA, por exemplo, eles já fazem isso muito bem. Há um aplicativo da série “Grey’s anatomy” que dá mais informação sobre aquele episódio enquanto você o está assistindo. Quer dizer, a leitura do espectador que não tem o aplicativo, como eu, é completamente diferente.

 

Com a tecnologia se desenvolvendo a passos largos, as próximas rotas devem chegar em breve, com, por exemplo, a popularização das smart TVs, aparelhos de televisão com acesso direto à internet. Segundo Orlando Lopes, o Ibope já vem desenvolvendo ferramentas para medir a audiência em três telas: TV, computador e celular.

 

― o Advento da smart TV vai ser uma nova revolução. Antes, previa-se que o consumo de TV iria cair por causa da internet. Agora já se espera um crescimento tanto da audiência da televisão quanto da internet. Os televisores do futuro serão uma plataforma de convergência, uma central de entretenimento, ao levar a internet para dentro deles ― acredita o executivo.

(ABOS, Márcia; BRITTO, Thaís. O novo jeito de ver TV. Revista da TV. O Globo. 29 jul. 2012, p.12-15. Adaptado.)

 

“E a relação vem dando certo: um estudo da Cable & Telecommunications Association for Marketing mostrou, em 2011, que a segunda tela faz com que o telespectador se envolva e preste mais atenção ao conteúdo da televisão. E está todo mundo de olho neste conceito [...].”

 

Os dois pontos foram utilizados no início do trecho acima para:

Escolha uma das alternativas.