URCA 2015

“Então se despediu da Rainha, e tomou o Conde pela mão, e saíram ambos da câmara a uma grande casa que era diante, e os do Mestre todos com ele, e Rui Pereira e Lourenço Martins mais acerca. E chegando-se o Mestre com o Conde acerca duma fresta, sentiram os seus que o Mestre lhe começava a falar passo, e estiveram todos quedos. E as palavras foram entre eles tão poucas, e tão baixo ditas, que nenhum por então entendeu quejandas eram. Porém afirmam que foram desta guisa:
- Conde, eu me maravilho muito de vós serdes homem a que eu bem queira, e trabalhardes-vos de minha desonra e morte!
- Eu, Senhor? Quem vos tal coisa disse, mentiu-vos mui grande mentira.

    O Mestre, que mais tinha vontade de o matar, que de estar com ele em razões, tirou logo um cutelo comprido e enviou-lhe um golpe à cabeça; porém não foi a ferida tamanha que dela morrera, se mais não houvera. Os outros todos, que estavam de arredor, quando viram isto, lançaram logo as espadas fora, para lhe dar; e ele movendo para se acolher à câmara da Rainha, com aquela ferida; e Rui Pereira, que era mais acerca, meteu um estoque de armas por ele. De que logo caiu em terra, morto.
    Os outros quiseram-lhe dar mais feridas, e o Mestre disse que estivessem quedos, e nenhum foi ousado em mais dar.”

O texto transcrito é de Fernão Lopes e pertence à Crônica de D. João I. As crônicas de Fernão Lopes caracterizam-se por tentarem reproduzir a verdade histórica como se esta tivesse sido testemunha. Por outro lado, é com este cronista que a língua portuguesa inicia o percurso de sua modernidade. Nestes termos, assinale a opção que melhor caracteriza a crônica acima transcrita:

Escolha uma das alternativas.