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  1. 121

    UNIFESP 2008

    Que se chama solidão Chão da infância. Algumas lembranças me parecem fixadas nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha mãe fazendo seus cálculos na ponta do lápis ou mexendo o tacho de goiabada ou ao piano; tocando suas valsas. E tia Laura, a viúva eterna que foi morar na nossa casa e que repetia que meu pai era um homem instável. Eu não sabia o que queria dizer instável mas sabia que ele gostava de fumar charutos e gostava de jogar. A tia um dia explicou, esse tipo de homem não consegue parar muito tempo no mesmo lugar e por isso estava sempre sendo removido de uma cidade para outra como promotor. Ou delegado. Então minha mãe fazia os tais cálculos de futuro, dava aquele suspiro e ia tocar piano. E depois, arrumar as malas. — Escutei que a gente vai se mudar outra vez, vai mesmo? perguntou minha pajem Maricota. Estávamos no quintal chupando os gomos de cana que ela ia descascando. Não respondi e ela fez outra pergunta: Sua tia vive falando que agora é tarde porque a Inês é morta, quem é essa tal de Inês? Sacudi a cabeça, não sabia. Você é burra, Maricota resmungou cuspinhando o bagaço. (...) — Corta mais cana, pedi e ela levantou-se enfurecida: Pensa que sou sua escrava, pensa? A escravidão já acabou!, ficou resmungando enquanto começou a procurar em redor, estava sempre procurando alguma coisa e eu saía atrás procurando também, a diferença é que ela sabia o que estava procurando, uma manga madura? Jabuticaba? Eu já tinha perguntado ao meu pai o que era isso, escravidão. Mas ele soprou a fumaça para o céu (dessa vez fumava um cigarro de palha) e começou a recitar uma poesia que falava num navio cheio de negros presos em correntes e que ficavam chamando por Deus. Deus, eu repeti quando ele parou de recitar. Fiz que sim com a cabeça e fui saindo, Agora já sei. (Lygia Fagundes Telles, Invenção e Memória.) O texto de Lygia Fagundes Telles apresenta marcas características do projeto literário da autora, ligado à ficção  

  2. 122

    UNESPAR 2010

    A Bienal de São Paulo é uma mostra de arte, criada em 1951, que se transformou em um evento reconhecido internacionalmente. A exposição é organizada por um conselho e dirigida por diferentes curadores a cada edição. A I Bienal reuniu e premiou “artistas concretos suíços que tiveram grande influência no Concretismo brasileiro”, conforme afirmação de Santos (2002, p. 249). Quais são as referências e artistas do movimento Concreto e do Concretismo brasileiro? Identifique e correlacione referências, artistas e cada movimento.   Referências   1) O termo arte concreta foi redefinido, em 1936, por Max Bill, como uma expressão artística construída objetivamente a partir de informações matemáticas e geométricas. 2) O Concretismo foi formado por artistas integrantes de dois grupos, localizados nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Diferenciados quanto ao entendimento da arte concreta, cada grupo desenvolveu uma produção. 3) O Grupo do Rio de Janeiro ampliou o entendimento da linguagem geométrica do concretismo. 4) O Grupo de São Paulo pregava maior rigor quanto ao entendimento das propostas do concretismo.   Artistas   I) Ivan Serpa, Lygia Clark e Helio Oiticica pertenciam ao Grupo do Rio de Janeiro. II) Max Bill, artista suíço, foi premiado na I Bienal de São Paulo com a obra Unidade Tripartida. III) Os artistas Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Lothar Charoux eram partidários e seguiam os princípios matemáticos da arte concreta. IV) O concretismo brasileiro foi um movimento artístico integrado por Ivan Serpa, Lygia Clark, Helio Oiticica, Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Lothar Charoux, entre outros participantes.   Movimento   i) Movimento Concreto. ii) Movimento Concretismo, Grupo de São Paulo. iii) Movimento Concretismo, Grupo do Rio de Janeiro. iv) Concretismo brasileiro.     A alternativa que apresenta a sequência correta é:  

  3. 123

    UFU 2007

    Leia o poema seguinte e assinale a alternativa correta.   "Filhos               A meu filho Marcos   Daqui escutei quando eles chegaram rindo e correndo entraram na sala e logo invadiram também o escritório (onde eu trabalhava) num alvoroço e rindo e correndo se foram com sua alegria   se foram   Só então me perguntei por que não lhes dera maior atenção se há tantos e tantos anos não os via crianças já que agora estão os três com mais de trinta anos."             Ferreira Gullar. "Melhores poemas".

  4. 124

    UEG 2003

    O livro A viagem das chuvas e outros contos, de Jesus de Aquino Jaime, retoma um veio tradicional da literatura realizada em Goiás, o regionalismo. Desse modo, é CORRETO afirmar que seus contos

  5. 125

    PUC-RS 2014

    Leia o trecho extraído do romance Terra Sonâmbula, de Mia Couto, e responda à questão. De imediato, centenas de pessoas se lançaram em todo tipo de embarcações, das pequenas às mais mínimas, para assaltarem o navio malfragado, a fim de se servirem das ditas xicalamidades. [...] Desde então, a situação só piorou pois, consoante o secretário do administrador, a população não se comporta civilmente na presença da fome. Muita gente insistia agora em voltar ao tal navio pois lá sobrava comida que daria para salvar filhos, mães e uma africanidade de parentes. [...] Assame foi preso, sujado por mil bocas. Na prisão lhe bateram, chambocado nas costas até que as pernas se exilaram daquele sofrimento que lhe era infligido. Perdeu o sentimento da cintura para baixo. Assane passou as palmas das mãos pelas desempregadas coxas. Tinha sido apenas há dias que lhe abriram a porta da prisão. Ainda nem sabia bem se arrastar de mão pelo chão. Por isso as sacudia, limpando essas mãos que ele sempre aplicara nos documentos.   Com base no trecho e em seu contexto, leia as seguintes afirmativas. I. As obras de Mia Couto exploram, de modo geral, o mundo simbólico moçambicano, a guerra e as tensas relações entre o africano e o europeu. II. O trabalho com a linguagem literária torna-se evidente a partir da criação de novos vocábulos e da utilização de outros com diferentes sentidos. III. Para narrar a violência sofrida pelo personagem, o autor vale-se de eufemismos como “sujado por mil bocas”, “as pernas se exilaram daquele sofrimento”, “perdeu o sentimento da cintura”.   A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são

  6. 126

    ENEM - 3 APLICACAO 2014

    Resumo Gerou os filhos, os netos, Deu à casa o ar de sua graça e vai morrer de câncer. O modo como pousa a cabeça para um retrato é o da que, afinal, aceitou ser dispensável. Espera, sem uivos, a campa, a tampa, a inscrição: 1906-1970. SAUDADE DOS SEUS, LEONORA. PRADO, A. Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2007. O texto de Adélia Prado apresenta uma mulher cuja vida se "resume". Sua expressão poética revela 

  7. 127

    UNIFESP 2008

    Que se chama solidão Chão da infância. Algumas lembranças me parecem fixadas nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha mãe fazendo seus cálculos na ponta do lápis ou mexendo o tacho de goiabada ou ao piano; tocando suas valsas. E tia Laura, a viúva eterna que foi morar na nossa casa e que repetia que meu pai era um homem instável. Eu não sabia o que queria dizer instável mas sabia que ele gostava de fumar charutos e gostava de jogar. A tia um dia explicou, esse tipo de homem não consegue parar muito tempo no mesmo lugar e por isso estava sempre sendo removido de uma cidade para outra como promotor. Ou delegado. Então minha mãe fazia os tais cálculos de futuro, dava aquele suspiro e ia tocar piano. E depois, arrumar as malas. — Escutei que a gente vai se mudar outra vez, vai mesmo? perguntou minha pajem Maricota. Estávamos no quintal chupando os gomos de cana que ela ia descascando. Não respondi e ela fez outra pergunta: Sua tia vive falando que agora é tarde porque a Inês é morta, quem é essa tal de Inês?   Sacudi a cabeça, não sabia. Você é burra, Maricota resmungou cuspinhando o bagaço. (...)   — Corta mais cana, pedi e ela levantou-se enfurecida: Pensa que sou sua escrava, pensa? A escravidão já acabou!, ficou resmungando enquanto começou a procurar em redor, estava sempre procurando alguma coisa e eu saía atrás procurando também, a diferença é que ela sabia o que estava procurando, uma manga madura? Jabuticaba? Eu já tinha perguntado ao meu pai o que era isso, escravidão. Mas ele soprou a fumaça para o céu (dessa vez fumava um cigarro de palha) e começou a recitar uma poesia que falava num navio cheio de negros presos em correntes e que ficavam chamando por Deus. Deus, eu repeti quando ele parou de recitar. Fiz que sim com a cabeça e fui saindo, Agora já sei. (Lygia Fagundes Telles, Invenção e Memória.)     De acordo com o texto, entende-se que o chão da infância da narradora é marcado

  8. 128

    UNEMAT 2010

    O poema abaixo foi extraído da obra Livro das ignorãças, de Manoel de Barros (p.89). Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas. Comuniquei ao padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito. Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.  – Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse. Ele fez um limpamento em meus receios. O Padre falou ainda: – Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas... E se riu. Você não é de bugre? – ele continuou. Que sim, eu respondi. Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas Pois é nos desvios que encontra melhores surpresas e os ariticuns maduros. Há que apenas saber errar bem o seu idioma. Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de agramática. Observe que, brincando com a forma, o poeta faz uma reflexão sobre o ato de poetar.   Assinale a alternativa que está em desacordo com o jogo proposto no poema. 

  9. 129

    UFU 2007

    Leia o poema e, em seguida, marque a alternativa correta.   o cão vê a flor a flor é vermelha   anda para a flor a flor é vermelha   passa pela flor a flor é vermelha             Ferreira Gullar. "Melhores poemas".

  10. 130

    UERJ 2009

    Ideologia   Meu partido É um coração partido E as ilusões estão todas perdidas Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Eu nem acredito Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Freqüenta agora as festas do “Grand Monde”   Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver   O meu prazer Agora é risco de vida Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll Eu vou pagar a conta do analista Pra nunca mais ter que saber quem eu sou Pois aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Agora assiste a tudo em cima do muro   Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver CAZUZA e ROBERTO FREJAT - 1988 www.cazuza.com.br   Em duas estrofes, a expressão mudar o mundo é utilizada em um verso e repetida no verso seguinte entre parênteses.   A repetição e o uso dos parênteses, no contexto, sugerem que o eu poético, com o passar do tempo, foi levado a:

  11. 131

    UNESPAR 2011

    Leia atentamente o texto que segue e responda ao que se pede.   Casamento   Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como “este foi difícil” “prateou no ar dando rabanadas” e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: Somos noivo e noiva.   Pode-se afirmar que o poema de Adélia Prado é:   I) da primeira fase modernista. II) da poesia contemporânea (dos anos 80 aos nossos dias). III) da segunda fase modernista. IV) emoção pura, refletindo a vida cotidiana, os medos, as tristezas, a presença do amor e do sonho. V) combativo, preocupado com os problemas da sociedade capitalista, com o desconcerto do mundo, em virtude dos conflitos da época. VI) irreverente, em busca da liberdade formal e temática, da linguagem coloquial, negando o passado e redescobrindo a realidade brasileira.   Está(ão) correta(s):

  12. 132

    PUC-CAMPINAS 2015

    O termo vanguarda designava originalmente a posição dos guerreiros que iam à frente, nas batalhas. Mais tarde, já no campo da arte, passou a identificar a posição de criadores que, preocupados com uma completa inovação estética, buscavam adiantar-se ao seu tempo e propunham, quando não impunham, novos paradigmas para a linguagem artística. No Brasil do século XX há que se destacar o papel de vanguarda cultural e artística do movimento modernista de 22, por sua vez inspirado por vanguardas europeias, e a radical atuação vanguardista dos poetas concretos, cujos manifestos datam da década de 50 − década em que a economia e a política nacional também buscaram modernizar-se. (Alcebíades Valongo, inédito)     A denominação vanguarda, tal como definida no texto, aplica-se a movimentos artísticos tão distintos quanto separados no tempo histórico. É o que se pode comprovar examinando as obras representativas

  13. 133

    PUC-MG 2016

    O espelho Esse que em mim envelhece assomou ao espelho a tentar mostrar que sou eu. Os outros de mim, fingindo desconhecer a imagem, deixaram-me a sós, perplexo, com meu súbito reflexo. A idade é isto: o peso da luz com que nos vemos. COUTO, Mia. Idades Cidades Divindades. Lisboa: Editorial Caminho, 2007. No poema, o eu lírico expressa

  14. 134

    UEMS 2010

    TEXTO 1: Trem do Pantanal Enquanto este velho trem atravessa o pantanal As estrelas do cruzeiro fazem um sinal De que este é o melhor caminho Pra quem é como eu, mais um fugitivo da guerra   Enquanto este velho trem atravessa o pantanal O povo lá em casa espera que eu mande um postal Dizendo que eu estou muito bem vivo Rumo à Santa Cruz de La Sierra   Enquanto este velho trem atravessa o pantanal Só meu coração está batendo desigual Ele agora sabe que o medo viaja também Sobre todos os trilhos da Terra Rumo à Santa Cruz de La Sierra     TEXTO 2:   Lá vem um trem. correndo vem. fazendo curva, jogando apito, cheio de trem.       Em referência aos dois textos, pode-se afirmar que ambos I. aproximam-se da estética modernista pela simplicidade da linguagem, valorização do cotidiano e de temas prosaicos, incorporação do presente, do progresso e da máquina. II. buscam extrair da linguagem efeitos sonoros, o que se verifica no emprego de assonâncias, aliterações, rimas e na repetição de palavras. III. apresentam duas tendências que se manifestam no modernismo brasileiro: uma de caráter introspectivo, de afirmaçãode valores espirituais e, outra, social.   É verdadeiro o que se afirma em

  15. 135

    PUC-MG 2012

    TEXTO 1 LÍNGUA Caetano Veloso Gosto de sentir a minha língua roçar A língua de Luís de Camões Gosto de ser e de estar E quero me dedicar A criar confusões de prosódia E uma profusão de paródias Que encurtem dores E furtem cores como camaleões Gosto do Pessoa na pessoa Da rosa no Rosa E sei que a poesia está para a prosa Assim como o amor está para a amizade E quem há de negar que esta lhe é superior? E deixe os Portugais morrerem à míngua "Minha pátria é minha língua" Fala Mangueira! Fala! Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode Esta língua? [...] A língua é minha pátria E eu não tenho pátria, tenho mátria E quero frátria [...] TEXTO 2 Aula de português Carlos Drummond de Andrade A linguagem na ponta da língua, tão fácil de falar e de entender. A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas, atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a prima. O português são dois; o outro, mistério.   Leia as considerações acerca do emprego da palavra língua nos trechos sublinhados. É INCORRETO afirmar que

  16. 136

    ENEM PPL 2012

    TEXTO I   Poema de sete faces   Mundo mundo vasto mundo, Se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2001 (fragmento).   TEXTO II   CDA (imitado)   Ó vida, triste vida! Se eu me chamasse Aparecida dava na mesma. FONTELA, O. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.   Orides Fontela intitula seu poema CDA, sigla de Carlos Drummond de Andrade, e entre parênteses indica “imitado” porque, como nos versos de Drummond,

  17. 137

    ENEM - 3 APLICACAO 2014

    HA despropósito Olhou para o teto, a telha parecia um quadrado de doce. Ah! — falou sem se dar conta de que descobria, durando desde a infância, aquela hora do dia, mais um galo cantando, um corte de trator, as três camadas de terra, a ocre, a marrom, a roxeada. Um pasto, não tinha certeza se uma vaca e o sarilho da cisterna desembestado, a lata batendo no fundo com estrondo. Quando insistiram, vem jantar, que esfria, ele foi e disse antes de comer: “Qualidade de telha é essas de antigamente”. PRADO, A. Bagagem. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2006. A poesia brasileira sofreu importantes transformações após a Semana de 1922, sendo a aproximação com a prosa uma das mais significativas. O poema da poeta mineira Adélia Prado rompe com a lírica tradicional e se aproxima da prosa por apresentar 

  18. 138

    PUC-MG 2013

    Fragmento do romance Bom dia camaradas, de Ondjaki. “Mas, camarada António, tu não preferes que o país seja assim livre?”, eu gostava de fazer essa pergunta quando entrava na cozinha. [...] – Menino, no tempo do branco isso não era assim... Depois, sorria. Eu mesmo queria era entender aquele sorriso. Tinha ouvido histórias incríveis de maus tratos, de más condições de vida, pagamentos injustos, e tudo mais. Mas o camarada António gostava dessa frase dele a favor dos portugueses, e sorria assim tipo mistério. [...] – Mas, António... Tu não achas que cada um deve mandar no seu país? Os portugueses tavam aqui a fazer o quê? – É!, menino, mas naquele tempo a cidade estava mesmo limpa... tinha tudo, não faltava nada... – Ó António, não vês que não tinha tudo? As pessoas não ganhavam um salário justo, quem fosse negro não podia ser diretor, por exemplo... – Mas tinha sempre pão na loja, menino, os machimbondos [ônibus de transporte público] funcionavam... – ele só sorrindo. – Mas ninguém era livre, António... não vês isso? – Ninguém era livre como assim? Era livre sim, podia andar na rua e tudo... – Não é isso, António – eu levantava-me do banco. – Não eram angolanos que mandavam no país, eram portugueses... E isso não pode ser... O camarada António aí ria só. In: ONDJAKI. Bom dia camarada. Rio de Janeiro: Agir, 2006. p. 17-18. Fragmento do ensaio “Língua que não sabíamos que sabíamos”, de Mia Couto. Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida. — Desconhecida? — pergunta ele. — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada! O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano. Aos poucos, porém, vai ganhando mais à-vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos. [...] Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. In: COUTO, Mia. E se Obama fosse africano? e outras interinvenções. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 11-18. Segundo o texto de Mia Couto, o português falado em Moçambique:

  19. 139

    UPE 2013

    Muito Romântico Não tenho nada com isso nem vem falar Eu não consigo entender sua lógica Minha palavra cantada pode espantar E a seus ouvidos parecer exótica Mas acontece que eu não posso me deixar Levar por um papo que já não deu, não deu Acho que nada restou pra guardar ou lembrar Do muito ou pouco que houve entre você e eu Nenhuma força virá lhe fazer calar Faço no tempo soar minha sílaba Canto somente o que pede pra se cantar Sou o que soa, eu não douro pílula Tudo o que eu quero é um acorde perfeito maior Com todo mundo podendo brilhar num cântico Canto somente o que não pode mais se calar Noutras palavras sou muito romântico. (Caetano Veloso, gravada por Roberto Carlos, Amigo, 1977)    No século XIX, identificamos, na Europa, uma forte tendência ao racionalismo exacerbado, ou seja, a utilização da razão humana como única e legítima forma de compreender e explicar a realidade. De certo modo, a letra da música acima apresentada não se coaduna com essa ideologia. Se observarmos atentamente, o texto propõe uma predominância da subjetividade e do subjetivismo em oposição ao ideário de objetividade e objetivismo dos pensamentos racionalistas do século XIX.   Nesse sentido, refletindo sobre o que se disse acima e sobre o texto em análise, assinale a alternativa CORRETA.

  20. 140

    UNAMA 2007

    “[...] Foste e ainda és tudo no Brasil, Mãe Preta!   Gostosa, contando a história do Saci, ninando murucutu-tu-tu para os teus bisnetos de hoje...   Continuas a ser a mesma virgem de Luanda, cantando e sapateando no batuque, correndo o frasco na macumba, quando chega Ogum, no seu cavalo de vento, varando pelos quilombos. [...]” (Mãe Preta, Bruno de Menezes. Batuque)   Avalie as seguintes afirmações sobre os recursos morfo-sintático-semânticos presentes nos versos do poeta paraense:   I. As expressões “virgem de Luanda” e “cavalo de vento” exemplificam a presença da linguagem conotativa. II. O termo registrado em “Continuas a ser...” corresponde morfo-semanticamente à série gerundiva “cantando”, “sapateando”, “correndo”, “varando”. III. O sintagma “a mesma virgem de Luanda” é o predicado do sujeito desinencial do verbo ser, cujo referente é “Mãe Preta”.   São corretas:

  21. 141

    UEMG 2015

    Luz em resistência     Estou sentada em minha cama, em semiobscuridade e me percebo com a cabeça entre as mãos, tenho a compulsão de me ajoelhar e prostrar-me, é dramático o que faço. Me sento de novo e de novo ponho a cabeça entre as mãos. Será possível que estou representando e representando pra Deus? Quero ficar natural, estou sozinha, não dá pra enganar ninguém, mas tenho um corpo e de algum modo ele se coloca no espaço, impossível não perceber a importância essencial do corpo, preciso da língua pra falar. Mas não é porque estou sozinha que vou dizer olha eu aqui, Deus, baratear o texto. Falo assim: eis-me aqui, dá um jeito do Franz aparecer em nossa casa, enquanto o Miguel estiver viajando. Percebo — ai que nojo, percebo demais — que disse ‘eis-me’ e depois ‘dá’ no lugar de dai, mas não é desrespeito, é fluxo de sentimento que não tolera preocupação com a gramática e — percebo de novo — faço isso desde o primário, se corrigir tira a seiva da coisa. Gosto de pérola barroca e cerâmica torta, só não gosto de ter tomado consciência de meus lapsos gramaticais. “A língua fala dos tesouros do coração?”. Então este é o meu tesouro desejo, vou falar com força e pausadamente: Deus faz eu ficar com o Franz sozinha, por uma hora inteira — uma hora só, não, passa muito depressa —, duas horas, só conversando, só isso que eu quero, me dá esta graça, meu Pai. Acho que hoje escandalizei a Ester, não acontecerá mais. Não sei o que fazer com a Sabina que nos interroga como se fôssemos culpadas das estranhezas da Bíblia. Ninguém sabe que o Franz está em Riachinho e desta vez não é pra fazer ponte nenhuma, veio só pra me ver, eu sei, veio por minha causa, o bacana. Quando as duas chegarem na segundafeira, informo assim bem casual: amigo nosso passou por aqui, etc. e etc., não saberão do que se trata. Ao fim do rosário faço o agradecimento pela enormíssima graça recebida que é esta — sei que falo como se o Senhor fosse se esquecer, mas sou humana — a graça, dada pelo Senhor, de ter tido duas horas inteiras para ficar com o Franz. Mãe de Deus, pede por mim. Perhaps Love, gravar uma fita só com esta música começando e acabando e começando de novo e acabando e começando. Julinha me surpreendeu decorando e falou: tadinha. E eu sei que não foi por causa do meu inglês deficitário, ficou com pena é da minha menopausa em flor. Em qual dos dois espelhos acredito, no que me põe melhor ou no que me dá vontade de nunca mais sair de casa? Mãe de Deus, minha saudade do Franz é no corpo mas é ilocalizável. Ah, estou com saudade dele é na alma, Franz Bota, até o apelido dele é precioso, quero o precioso, meu deus, me ajuda a ver aquele homem. Se isso fosse teatro, acabava com Perhaps Love. PRADO, 2011, 2014, p. 17-19.     Julgue as seguintes afirmações:     I - A pontuação do trecho Estou sentada em minha cama, em semiobscuridade e me percebo com a cabeça entre as mãos, tenho a compulsão de me ajoelhar e prostrar-me, é dramático o que faço está em perfeito acordo com as regras da norma padrão da língua portuguesa.   II - Quanto ao aspecto linguístico formal, a construção constituída da expressão eis-me, seguida da conjugação dá, no lugar de dai, assemelha-se, metaforicamente, às pérolas barrocas, que são pérolas de formato irregular, não totalmente esférico.   III - Na oração Deus faz eu ficar com o Franz sozinha, falta uma vírgula para isolar o vocativo.   IV - Na expressão tesouros do coração, a palavra tesouros designa um objeto simbólico, ao passo que, em o meu tesouro desejo, tesouro é um elemento qualificador.   V - No trecho Mãe de Deus, pede por mim. “Perhaps Love”, gravar uma fita só com esta música começando e acabando e começando de novo e acabando e começando, o recurso sintático que consiste na repetição da conjunção e produz efeito estilístico de ênfase na ação descrita.     Estão CORRETAS apenas

  22. 142

    UEG 2005

    Sobre a obra Dois irmãos, de Milton Hatoum, analise as proposições a seguir:   I. O ponto de vista do narrador é baseado nas suas observações, como também nos relatos de Domingas e Halim. II. Quanto às personagens protagonistas, pode-se afirmar que Yakub tem a personalidade menos complexa, pois apresenta comportamento previsível, ao contrário de Omar. III. O tempo da narrativa coincide com o tempo da narração, visto que a história é narrada diretamente da memória de um narrador, que usa como recurso o tempo psicológico e o discurso indireto livre para conseguir essa coincidência. IV. O episódio do restaurante Biblos, lugar onde nasce o romance de Zana e Halim, é um exemplo de flashback, isto é, rompimento da linearidade que se dá na história dos dois irmãos.   Marque a alternativa CORRETA:

  23. 143

    UERJ 2009

    Ideologia   Meu partido É um coração partido E as ilusões estão todas perdidas Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Eu nem acredito Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Freqüenta agora as festas do “Grand Monde”   Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver   O meu prazer Agora é risco de vida Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll Eu vou pagar a conta do analista Pra nunca mais ter que saber quem eu sou Pois aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo) Agora assiste a tudo em cima do muro   Meus heróis morreram de overdose Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver CAZUZA e ROBERTO FREJAT - 1988 www.cazuza.com.br   O texto apresenta uma visão melancólica em relação à realidade.   Esse tom melancólico, no conjunto do texto, constrói-se principalmente com apoio no seguinte elemento:

  24. 144

    UEL 2014

    Depois entrou em casa: entrou e parece que não gostou ou não entendeu. Foi perguntando onde é que ficava o elevador. E sabendo que não havia elevador, indagou como é que se ia para cima. Nós explicamos que não havia lá em cima. Ele ficou completamente perplexo e quis saber onde é que o povo morava. E não acreditou direito quando lhe afirmamos que não havia mais povo, só nós. Calou-se, percorreu o resto da casa e as dependências, se aprovou, não disse. Mas, à porta da sala de jantar, inesperadamente, deu com o quintal. Perguntou se era o Russell. Perguntou se tinha escorrega, se tinha gangorra. Perguntou onde é que estavam 6 “os outros meninos”. Claro que achava singular e até meio suspeito aquela porção de terra e árvores sem 7 ninguém dentro.   Todas essas observações, fê-las ainda do degrau da sala. Afinal, estirou tentativamente a ponta do pé, tateou o chão, resolveu explorar aquela floresta virgem. Sacudia os galhos baixos das fruteiras, arrancava folhas que mastigava um pouco, depois cuspia. Rodeou o poço, devagarinho, sem saber o que havia por trás daquele muro redondo e branco, coberto de madeira. [...] (QUEIROZ, R. Conversa de menino. São Paulo: Global, 2004. p.114-115. (Coleção Melhores Crônicas).)     Releia o trecho a seguir.   Afinal, estirou tentativamente a ponta do pé, tateou o chão, resolveu explorar aquela floresta virgem.   Quanto ao emprego da expressão sublinhada, assinale a alternativa correta.

  25. 145

    FEI 2016

    Leia os primeiros parágrafos do livro Terra sonâmbula, do escritor moçambicano Mia Couto: “Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte. A estrada que agora se abre a nossos olhos não se entrecruza com outra nenhuma. Está mais deitada que os séculos, suportando sozinha toda a distância. Pelas bermas apodrecem carros incendiados, restos de pilhagens. Na savana em volta, apenas os embondeiros contemplam o mundo a desflorir. Um velho e um miúdo vão seguindo pela estrada. Andam bambolentos como se caminhar fosse seu único serviço desde que nasceram. Vão para lá de nenhuma parte, dando o vindo por não ido, à espera do adiante. Fogem da guerra, dessa guerra que contaminara toda a sua terra. Vão na ilusão de, mais além, haver um refúgio tranquilo. Avançam descalços, suas vestes têm a mesma cor do caminho. O velho se chama Tuahir. É magro, parece ter perdido toda a substância. O jovem se chama Muidinga. Caminha à frente desde que saíra do campo de refugiados. Se nota nele um leve coxear, uma perna demorando mais que o passo. Vestígio da doença que, ainda há pouco, o arrastara quase até à morte. Quem o recolhera fora o velho Tuahir, quando todos outros o haviam abandonado. O menino estava já sem estado, os ranhos lhe saíam não do nariz mas de toda a cabeça. O velho teve que lhe ensinar todos os inícios: andar, falar, pensar. Muidinga se meninou outra vez. Esta segunda infância, porém, fora apressada pelos ditados da sobrevivência. Quando iniciaram a viagem já ele se acostumava de cantar, dando vaga a distraídas brincriações. No convívio com a solidão, porém, o canto acabou por migrar de si. Os dois caminheiros condiziam com a estrada, murchos e desesperançados” (COUTO, M. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 09).  A linguagem, a estrutura e o conteúdo sugerem que se trata de um fragmento de um romance

  26. 146

    UFRGS 2016

    Assinale a alternativa correta sobre O amor de Pedro por João, de Tabajara Ruas.

  27. 147

    UNIR 2011

    A raça humana A raça humana é Uma semana Do trabalho de Deus A raça humana é ferida acesa Uma beleza, uma podridão O fogo eterno e a morte A morte e a ressurreição A raça humana é Uma semana Do trabalho de Deus A raça humana é o cristal de lágrima Da lavra da solidão Da mina, cujo mapa Traz na palma da mão A raça humana é Uma semana Do trabalho de Deus A raça humana risca, rabisca, pinta A tinta, a lápis, a carvão, a giz O rosto da saudade Que traz do Gênesis Dessa semana santa Entre parênteses Desse divino oásis Da grande apoteose Da perfeição divina Na Grande Síntese A raça humana é Uma semana Do trabalho de Deus (GIL, Gilberto. CD Raça Humana.) Sobre os sentidos do texto, analise as afirmativas. I - A expressão Grande Síntese, na sétima estrofe, significa raça humana. II - Na sexta estrofe, a expressão Dessa semana santa refere-se à semana da criação do mundo. III - A metáfora em A raça humana é ferida acesa remete à morte. IV - As expressões trabalho de Deus e traz do Gênesis comprovam a abordagem mítica do tema. Estão corretas as afirmativas

  28. 148

    UEG 2003

    Analise as afirmações acerca das obras indicadas para o vestibular 2003/2 da UEG e assinale a alternativa CORRETA:

  29. 149

    PUC-CAMPINAS 2016

    A década de 1950 foi marcada pelo anseio de modernização do país, cujos reflexos se fazem sentir também no plano da cultura. É de se notar o amadurecimento da poesia de João Cabral, poeta que se rebelou contra o que considerava nosso sentimentalismo, nosso “tradicional lirismo lusitano”, bem como o surgimento de novas tendências experimentalistas, observáveis na linguagem renovadora de Ferreira Gullar e na radicalização dos poetas do Concretismo. As linhas geométricas da arquitetura de Brasília e o apego ao construtivismo que marca a criação poética parecem, de fato, tendências próximas e interligadas. (MOUTINHO, Felipe, inédito)   O anseio pela renovação da linguagem poética ao longo da década de 50, presente tanto na poesia de Ferreira Gullar como na dos poetas concretos, manifestou-se sobretudo como um empenho em

  30. 150

    UFRGS 2012

    O personagem narrador de O Filho Eterno, de Cristovão Tezza,

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