UEMS 2006

Livro

 

1- Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
5-  São como a radiação de um corpo negro
Apontando para a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.


10-Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.

 

Os livros são objetos transcendentes
15- Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
20- (Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou, o que é muito pior, por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:

 

 

Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
25- Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

 

 

Na segunda estrofe, ao aproximar a expressão “nos astros desastrada” da expressão “a ventura e a desventura”, Caetano Veloso acrescenta ao vocábulo “desastrada”, além dos sentidos “deselegante, desajeitado, inábil”, as seguintes acepções: “sem astro, desafortunada”, ou seja, “des-astrada”. Ao terminar o poema com os versos: “Tropeçavas nos astros desastrada / Mas para mim foste a estrela entre as estrelas.”, o autor observa que sua interlocutora transformou-se, de uma menina desajeitada e desafortunada, na maior de todas as estrelas. Para conseguir esses efeitos de sentido, o autor considerou os seguintes aspectos lingüísticos:

 

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