UNB 2015

Oração dos Desesperados

 

Que a pele escura

Não seja escudo para os covardes,

Que habitam na senzala do silêncio,

Porque nascer negro é consequência

Ser

É consciência

 

Dói no povo a dor do universo

Chibata, faca e corte

Miséria, morte

Sob o olhar irônico

De um Deus inverso

Uma dor que tem cor

Escorre na pele e na boca se cala

Uma gente livre para o amor

Mas os pés fincados na senzala.

Dói na gente a dor que mata

Chaga que paralisa o mundo

E sob o olhar de um

Deus de gravata...

Doença, fome, esgoto, inferno profundo.

Dor que humilha, alimenta cegueira

Trevas, violência, tiro no escuro

Pedaço de pau, lar sem muro

Paraíso do mal

Castelo de madeira

Oh! Senhores

Deuses das máquinas,

Das teclas, das perdidas almas

Do destino e do coração!

Escuta o homem que nasce das lágrimas

Da dor, do sangue e do pranto,

Escuta esse pranto

(Que lindo esse povo)

(Quilombo esse povo)

Que vem a galope com voz de trovão

Pois ele se apega nas armas

Quando se cansa das páginas

Do livro de oração!

(Sérgio Vaz)

 

 

A memória da escravização dos povos africanos e afrobrasileiros é parte da matéria poética com a qual o texto de Sérgio Vaz lida. Essa memória surge, entre outros trechos, no verso

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