UNEMAT 2015

TEXTO I

A menina de lá

Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – “Ninguém entende muita coisa que ela fala...” – dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só raro ela perguntava, por exemplo: - “Ele xurugou?” – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - “Tatu não vê a lua...” – ela falasse. Ou referia estórias, absurdas, vagas, tudo muito curto: da abelha que se voou para uma nuvem; de uma porção de meninas e meninos sentados a uma mesa de doces, comprida, comprida, por tempo que nem se acabava; ou da precisão de se fazer lista das coisas todas que no dia por dia a gente vem perdendo. Só a pura vida. [...]

Dizia que o ar estava com cheiro de lembrança. – “A gente não vê quando o vento se acaba...” Estava no quintal, vestidinha de amarelo. O que falava, às vezes era comum, a gente é que ouvia exagerado: - “Alturas de urubuir...” Não, dissera só: - “altura de urubu não ir”. O Dedinho chegava quase no céu. Lembrouse de: - “Jabuticaba de vem-me-ver...” Suspirava, depois: - “Eu quero ir pra lá”. – Aonde? – “Não sei”. Aí observou: - “O passarinho desapareceu de cantar...”

(ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001)

 

TEXTO II

[...]

A gente não gostava de explicar as imagens porque explicar afasta as falas da imaginação.

A gente gostava dos sentidos desarticulados como a conversa dos passarinhos no chão a comer pedaços de mosca.

Certas visões não significavam nada, mas eram passeios verbais.

A gente sempre queria dar brazão às borboletas.

A gente gostava bem das vadiações com as palavras do que das prisões gramaticais.

Quando o menino disse que queria passar para as palavras suas peraltagens até os caracóis apoiaram.

A gente se encostava na tarde como se a tarde fosse um poste.

A gente gostava das palavras quando elas perturbavam os sentidos normais da fala.

Esses meninos faziam parte do arrebol como os passarinhos.

(BARROS, Manoel de. Menino do mato. Leya: São Paulo, 2010)

Observando-se os textos, percebe-se o uso diferenciado da linguagem verbal, que se deve ao fato de que:

 

 

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