FGV-SP 2012

Reconheço que  [Cotrim] era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que  tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o  deficit. Como era muito seco de maneiras tinha inimigos, que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais.

ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento).


Considere as seguintes afirmações:

 

I. A defesa de Cotrim, feita nesse trecho pelo narrador, resulta em um grande ataque a essa personagem. O meio utilizado para se obter essa inversão de sentido é o da ironia.
II. No texto, já são mencionados os escravos, que virão a figurar entre as personagens centrais da obra.
III. Deduz-se do texto que, para a sociedade figurada na obra, contrabandear escravos não era atividade que manchasse a dignidade dos que a praticavam.

 


Está correto apenas o que se afirma em 

Escolha uma das alternativas.