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Quer colocar o estudo em prática? O Stoodi tem exercícios de Modernismo no Brasil - 2ª Fase dos maiores vestibulares do Brasil.

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  1. 31

    UFABC 2007

    A temática da fome está presente em um dos mais expressivos romances de Graciliano Ramos,  Vidas Secas. Leia um trecho dessa obra. -- Entrava dia e saía dia. As noites cobriam a terra de chofre. A tampa anilada baixava, escurecia, quebrada apenas pelas vermelhidões do poente.   Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de Fabiano bateu junto do coração de Sinhá Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de perder a esperança que os alentava.   Iam-se amodorrando e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá. Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras, afastando pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava ensangüentado, lambia o sangue e tirava proveito do beijo.   Aquilo era caça bem mesquinha, mas adiaria a morte do grupo. E Fabiano queria viver. Olhou o céu com resolução. A nuvem tinha crescido, agora cobria o morro inteiro. Fabiano pisou com segurança, esquecendo as rachaduras que lhe estragavam os dedos e os calcanhares.   (Ilustração de Aldemir Martins, para a 27.ª edição de Vidas Secas, São Paulo, Martins Fontes, 1970).   A respeito do trecho, observa-se que:

  2. 32

    FUVEST 2016

    Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o lazareto*. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:   Ele é mesmo nosso pai e é quem pode nos ajudar... Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida: Ora, adeus, ó meus filhinhos, Qu’eu vou e torno a vortá...   E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele. Jorge Amado, Capitães da Areia.   *lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.   Considere as seguintes afirmações referentes ao texto de Jorge Amado:   I. Do ponto de vista do excerto, considerado no contexto da obra a que pertence, a religião de origem africana comporta um aspecto de resistência cultural e política. II. Fica pressuposta no texto a ideia de que, na época em que se passa a história nele narrada, o Brasil ainda conservava formas de privação de direitos e de exclusão social advindas do período colonial. III. Os contrastes de natureza social, cultural e regional que o texto registra permitem concluir corretamente que o Brasil passou por processos de modernização descompassados e desiguais.   Está correto o que se afirma em

  3. 33

    ENEM 1999

    Quem não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os textos conversam entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos: I. Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida (ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)   II. Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim. (BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia das Letras, 1989)   III. Quando nasci um anjo esbelto Desses que tocam trombeta, anunciou: Vai carregar bandeira. Carga muito pesada pra mulher Esta espécie ainda envergonhada. (PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986)   Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de Andrade, por  

  4. 34

    ENEM PPL 2009

    Linhas tortas   Há uma literatura antipática e insincera que só usa expressões corretas, só se ocupa de coisas agradáveis, não se molha em dias de inverno e por isso ignora que há pessoas que não podem comprar capas de borracha. Quando a chuva aparece, essa literatura fica em casa, bem aquecida, com as portas fechadas. [...] Acha que tudo está direito, que o Brasil é um mundo e que somos felizes. [...] Ora, não é verdade que tudo vá tão bem [...]. Nos algodoais e nos canaviais do Nordeste, nas plantações de cacau e de café, nas cidadezinhas decadentes do interior, nas fábricas, nas casas de cômodos, nos prostíbulos, há milhões de criaturas que andam aperreadas.   [...] Os escritores atuais foram estudar o subúrbio, a fábrica, o engenho, a prisão da roça, o colégio do professor mambembe.   Para isso resignaram-se a abandonar o asfalto e o café, [...] tiveram a coragem de falar errado como toda gente, sem dicionário, sem gramáticas, sem manual de retórica. Ouviram gritos, palavrões e meteram tudo nos livros que escreveram. RAMOS, Graciliano. Linhas tortas. 8.ª ed. São Paulo: Record, 1980, p. 92/3.   O ponto de vista defendido por Graciliano Ramos 

  5. 35

    PUC-CAMPINAS 2016

    No fim de 1944 estávamos em regime de ditadura no Brasil, como todos sabem. Uma ditadura que já se ia dissolvendo, porque o ditador de então começara a acertar o passo com as chamadas Potências do Eixo; mas quando os Estados Unidos entraram na guerra e pressionaram no mesmo sentido os seus dependentes, ele não só passou para o outro lado, como teve de concordar que o país interviesse efetivamente na luta, como aliás pedia a opinião pública, às vezes em manifestações de massa que foram as primeiras a quebrar a rotina disciplinada de tranquilidade aparente nas grandes cidades. (CÂNDIDO, Antonio. Teresina etc. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980, p. 107-108)   O tema da II Guerra esteve presente na obra de alguns poetas brasileiros. Em alguns casos, a tendência política ou mesmo partidária do autor se deixava mostrar, tal como nestes versos de Carlos Drummond de Andrade:

  6. 36

    ENEM - 3 APLICACAO 2014

    O telefone tocou. — Alô? Quem fala?  — Como? Com quem deseja falar? — Quero falar com o sr. Samuel Cardoso. —  É ele mesmo. Quem fala, por obséquio? —  Não se lembra mais da minha voz, seu Samuel? Faça um esforço. —  Lamento muito, minha senhora, mas não me  lembro. Pode dizer-me de quem se trata? ANDRADE, C. D. Contos de aprendiz. Rio de Janeiro: José  Olympyo, 1958 (fragmento). Pela insistência em manter o contato entre o emissor e o  receptor, predomina no texto a função 

  7. 37

    UNISINOS 2016

    Essa negra Fulô  Jorge de Lima Ora, se deu que chegou (isso já faz muito tempo)  no banguê dum meu avô  uma negra bonitinha,  chamada negra Fulô.  Essa negra Fulô!  Essa negra Fulô!  Ó Fulô! Ó Fulô!  (Era a fala da Sinhá)  – Vai forrar a minha cama  pentear os meus cabelos,  vem ajudar a tirar  a minha roupa, Fulô!  Essa negra Fulô!  Essa negrinha Fulô!  ficou logo pra mucama  pra vigiar a Sinhá,  pra engomar pro Sinhô!  Essa negra Fulô!  Essa negra Fulô!  Ó Fulô! Ó Fulô!  (Era a fala da Sinhá)  vem me ajudar, ó Fulô,  vem abanar o meu corpo  que eu estou suada, Fulô!  vem coçar minha coceira,  vem me catar cafuné,  vem balançar minha rede,  vem me contar uma história,  que eu estou com sono, Fulô!  Essa negra Fulô!  “Era um dia uma princesa que vivia num castelo  que possuía um vestido  com os peixinhos do mar.  Entrou na perna dum pato  saiu na perna dum pinto  o Rei-Sinhô me mandou  que vos contasse mais cinco”.  Essa negra Fulô!  Essa negra Fulô!  Ó Fulô! Ó Fulô!  Vai botar para dormir  esses meninos, Fulô!  “minha mãe me penteou  minha madrasta me enterrou  pelos figos da figueira  que o Sabiá beliscou”.  Essa negra Fulô!  Essa negra Fulô!  Ó Fulô! Ó Fulô!  (Era a fala da Sinhá  Chamando a negra Fulô!)  Cadê meu frasco de cheiro  Que teu Sinhô me mandou?  – Ah! Foi você que roubou!  Ah! Foi você que roubou!  Essa negra Fulô!  Essa negra Fulô!  O Sinhô foi ver a negra  levar couro do feitor.  A negra tirou a roupa,  O Sinhô disse: Fulô! (A vista se escureceu  que nem a negra Fulô).  Essa negra Fulô!  Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô!  Cadê meu lenço de rendas,  Cadê meu cinto, meu broche,  Cadê o meu terço de ouro  que teu Sinhô me mandou?  Ah! foi você que roubou!  Ah! foi você que roubou!  Essa negra Fulô!  Essa negra Fulô!  O Sinhô foi açoitar  sozinho a negra Fulô.  A negra tirou a saia  e tirou o cabeção,  de dentro dêle pulou  nuinha a negra Fulô.  Essa negra Fulô!  Essa negra Fulô!  Ó Fulô! Ó Fulô!  Cadê, cadê teu Sinhô  que Nosso Senhor me mandou?  Ah! Foi você que roubou,  foi você, negra Fulô?  Essa negra Fulô! Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br. Acesso em 30 set. 2015.   No que se refere à sonoridade do poema, assinale a alternativa que melhor apresenta o ideário modernista, reafirmado por Jorge de Lima.

  8. 38

    UFF 2015

    Sinha Vitória               Sinha Vitória tinha amanhecido nos seus azeites. Fora de propósito, dissera ao marido umas inconveniências a respeito da cama de varas. Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira: – “Hum! hum!” E amunhecara, porque realmente mulher é bicho difícil de entender, deitara-se na rede e pegara no sono. Sinha Vitória andara para cima e para baixo, procurando em que desabafar. Como achasse tudo em ordem, queixara-se da vida. E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pontapé.             Avizinhou-se da janela baixa da cozinha, viu os meninos entretidos no barreiro, sujos de lama, fabricando bois de barro, que secavam ao sol, sob o pé-de-turco, e 5não encontrou motivo para repreendê-los. Pensou de novo na cama de varas e mentalmente xingou Fabiano. Dormiam naquilo, tinha-se acostumado, mas sena mais agradável dormirem numa cama de lastro de couro, como outras pessoas. Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido. Fabiano a princípio concordara com ela, mastigara cálculos, tudo errado. Tanto para o couro, tanto para a armação. Bem. Poderiam adquirir o móvel necessário economizando na roupa e no querosene. Sinha Vitória respondera que isso era impossível, porque eles vestiam mal, as crianças andavam nuas, e recolhiam-se todos ao anoitecer. Para bem dizer, não se acendiam candeeiros na casa.   RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro; São Paulo: Record; Martins, 1975. p. 42-43.               A partir do texto acima, identifique a alternativa que contém a característica correta em relação à análise da obra de Graciliano Ramos e à sua inclusão na ficção regionalista dos anos 30.  

  9. 39

    UFMS 2008

    Aula de português (Carlos Drummond de Andrade)   A linguagem na ponta da língua, tão fácil de falar e de entender. A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer?   Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o amazonas da minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas, atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a prima.   O português são dois; o outro, mistério.   Em “o amazonas da minha ignorância”, Drummond usa a metáfora para

  10. 40

    UNESPAR 2011

    Analise as afirmações:   I) A literatura quase sempre privilegia o romance quando quer retratar a realidade, analisando ou denunciando-a. O Brasil e o mundo viveram profundas crises nas décadas de 1930 e 40, nesse momento o romance brasileiro se destaca, pois se coloca a serviço da análise crítica da realidade. O quadro social, econômico e político que se verificava no Brasil e no mundo no início da década de 1930 – o nazifascismo, a crise da Bolsa de Nova Iorque, a crise cafeeira, o combate ao socialismo – exigia dos artistas uma nova postura diante da realidade, nova posição ideológica. Na prosa, foi evidente o interesse por temas nacionais, uma linguagem mais brasileira, com um enfoque mais direto dos fatos marcados pelo Realismo – Naturalismo do século XIX. O romance focou o regionalismo, principalmente o nordestino, onde problemas como a seca, a migração, os problemas do trabalhador rural, a miséria, a ignorância foram ressaltados.   II) Os escritores de maior destaque dessa fase defendiam estas propostas: reconstrução da cultura brasileira sobre bases nacionais; promoção de uma revisão crítica de nosso passado histórico e de nossas tradições culturais; eliminação definitiva do nosso complexo de colonizados, apegados a valores estrangeiros. Portanto, todas elas estão relacionadas com a visão nacionalista, porém crítica, da realidade brasileira. (http://www.brasilescola.com/literatura)   As descrições – I e II – caracterizam, respectivamente, as escolas literárias conhecidas como:

  11. 41

    UERJ 2011

    Os poemas   Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... MÁRIO QUINTANA Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005.     Os versos destacados (v. 6-7) podem ser lidos como uma pressuposição do autor sobre o texto literário. Essa pressuposição está ligada ao fato de que a obra literária, como texto público, apresenta o seguinte traço:

  12. 42

    PUC-CAMPINAS 2015

    No famoso poema de Manuel Bandeira “Vou-me embora pra Pasárgada”, leem-se estes versos:   E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d´água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar.   Percebe-se que a Pasárgada do poeta

  13. 43

    UERJ 2010

    Science Fiction   O marciano encontrou-me na rua e teve medo de minha impossibilidade humana. Como pode existir, pensou consigo, um ser que no existir põe tamanha anulação de existência? 5 Afastou-se o marciano, e persegui-o. Precisava dele como de um testemunho. Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se no ar constelado de problemas. E fiquei só em mim, de mim ausente. Carlos Drummond de Andrade Nova reunião. São Paulo: José Olympio, 1983   Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se no ar constelado de problemas. (v. 7-8)   O estranhamento provocado no verso sublinhado constitui um caso de:

  14. 44

    ENEM - 3 APLICACAO 2016

    O adolescente A vida é tão bela que chega a dar medo. Não o medo que paralisa e geIa, estátua súbita, mas esse medo fascinante e fremente de curiosidade que faz  o jovem felino seguir para frente farejando o vento ao sair, a primeira vez, da gruta.  Medo que ofusca: luz!  Cumplicentemente, as folhas contam-te um segredo  velho como o mundo: Adolescente, olha! A vida é nova...  A vida é nova e anda nua — vestida apenas com o teu desejo! QUINTANA, M. Nariz de vidro. São Paulo: Moderna, 1998. Ao abordar uma etapa do desenvolvimento humano, o poema mobiliza diferentes estratégias de composição. O principal recurso expressivo empregado para a construção de uma imagem da adolescência é a

  15. 45

    UNIFESP 2007

    Leia os versos de Cecília Meireles, extraídos do poema Epigrama n.º 8. Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí.   O eu lírico reconhece que a pessoa em quem depôs sua vida representava  

  16. 46

    UERJ 2011

    De repente voltou-me a ideia de construir o livro. (...)   Desde então procuro descascar fatos, aqui sentado à mesa da sala de jantar (...).   Às vezes, entro pela noite, passo tempo sem fim acordando lembranças. Outras vezes não me ajeito com esta ocupação nova.   Anteontem e ontem, por exemplo, foram dias perdidos. Tentei debalde canalizar para termo razoável esta prosa que se derrama como a chuva da serra, e o que me apareceu foi um grande desgosto. Desgosto e a vaga compreensão de muitas coisas que sinto.   Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo perfeita saúde. (...) Não tenho doença nenhuma.   O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada.   Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! Comer e dormir como um porco! Como um porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! (...)   Coloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei bastante. Como lhes disse, fui guia de cego, vendedor de doce e trabalhador alugado. Estou convencido de que nenhum desses ofícios me daria os recursos intelectuais necessários para engendrar esta narrativa. Magra, de acordo, mas em momentos de otimismo suponho que há nela pedaços melhores que a literatura do Gondim. Sou, pois, superior a mestre Caetano e a outros semelhantes. Considerando, porém, que os enfeites do meu espírito se reduzem a farrapos de conhecimentos apanhados sem escolha e mal cosidos, devo confessar que a superioridade que me envaidece é bem mesquinha.   (...)   Quanto às vantagens restantes – casas, terras, móveis, semoventes, consideração de políticos, etc. – é preciso convir em que tudo está fora de mim.   Julgo que me desnorteei numa errada. GRACILIANO RAMOS São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2004.     Na sentença destacada, o processo metafórico se concentra no verbo “descascar”.   No contexto, a metáfora expressa em “descascar” tem o seguinte significado:

  17. 47

    FGV-SP 2012

    Leia o seguinte texto, que é parte de uma entrevista concedida por Érico Veríssimo a Clarice Lispector: – Érico, por que você acha que não agrada aos críticos e aos intelectuais? – Para começo de conversa, devo confessar que não me considero um escritor importante. Não sou um inovador. Nem mesmo um homem inteligente. Acho que tenho alguns talentos que uso bem... mas que acontece serem os talentos menos apreciados pela chamada “critica séria”, como, por exemplo, o de contador de histórias. Os livros que me deram opularidade, como  Olhai os lírios do campo, são romances medíocres. Nessa altura me pespegaram* no  lombo literário vários rótulos: escritor para mocinhas, superficial etc... O que vem depois dessa primeira fase é bastante melhor mas, que diabo! pouca gente (refiro-me aos críticos apressados) se dá ao trabalho de revisar opiniões antigas e alheias. Por outro lado, existem os “grupos”. Os esquerdistas sempre me acharam “acomodado”. Os direitistas me consideram comunista. Os moralistas e reacionários me acusam de imoral e subversivo. Havia ainda essa história cretina de “norte contra sul”.  E ainda essa natural má vontade que cerca todo escritor que vende livro, a ideia de que best-seller tem de ser necessariamente um livro inferior.  Some tudo isto, Clarice, e você não terá ainda uma resposta satisfatória à sua pergunta. Mas devo acrescenta que há no Brasil vários críticos que agora me levam a sério, principalmente depois que publiquei O tempo e o vento. (Bons sujeitos!) Clarice Lispector. Entrevistas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.   * “pespegaram”: aplicaram.   O acirramento dos conflitos de “esquerdistas” versus “direitistas”, de “moralistas e reacionários” versus liberais e de “norte contra sul”, característico da época em que surgiu o autor, marca de modo acentuado o ambiente no qual evoluiu a literatura brasileira, no período   

  18. 48

    UERJ 2011

    Os poemas   Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... MÁRIO QUINTANA Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005.     O texto é todo construído por meio do emprego de uma figura de estilo. Essa figura é denominada de:

  19. 49

    FCMMG 2009

    “Sou poeta da cidade. Meus pulmões viraram máquinas inumanas e aprenderam a                [respirar o gás carbônico das salas de cinema”     Os versos abaixam ratificam a presença do espaço urbano na poesia de Manuel Bandeira, EXCETO em:

  20. 50

    FATEC 2007

    Mãos dadas Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.   Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao amanhecer(*), a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo (1940) (*) no original: anoitecer Considerando o poema “Mãos dadas”, no conjunto da obra a que pertence (Sentimento do mundo), é correto afirmar que Carlos Drummond de Andrade

  21. 51

    UEMA 2016

    Texto V Procura da Poesia [...] Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. [...] Não forces o poema a desprender-se do limbo. Não colhas no chão o poema que se perdeu. Não adules o poema. Aceita-o omo ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço. Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma em mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? Repara: ermas de melodia e conceito, elas se refugiaram na noite, as palavras. Ainda úmidas e impregnadas de sono, rolam num rio difícil e se transformam em desprezo. ANDRADE, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. Texto VI Profissão de fé [...] Invejo o ourives Quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto-relevo Faz de uma flor. Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo: O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro. Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papel A pena, como em prata firme Corre o cinzel. [...] Torce , aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, no verso de ouro engasta a rima como um rubim. Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito. [...] Porque o escrever – tanta perícia, Tanta requer, Que oficio tal... nem há notícia De outro qualquer. BILAC, Olavo. Poesia. Rio de Janeiro: Agir, 2005. Comparando os Textos V e VI sobre aspectos temáticos e organização enunciativa, observa-se que

  22. 52

    PUC-GO 2016

    O acendedor de lampiões Lá vem o acendedor de lampiões da rua! Este mesmo que vem infatigavelmente, Parodiar o sol e associar-se à lua Quando a sombra da noite enegrece o poente! Um, dois, três lampiões, acende e continua Outros mais a acender imperturbavelmente, À medida que a noite aos poucos se acentua E a palidez da lua apenas se pressente. Triste ironia atroz que o senso humano irrita: — Ele que doura a noite e ilumina a cidade, Talvez não tenha luz na choupana em que habita. Tanta gente também nos outros insinua Crenças, religiões, amor, felicidade, Como este acendedor de lampiões da rua! (LIMA, Jorge de. Melhores poemas. 3. ed. São Paulo: Global, 2006. p. 25) No primeiro terceto do poema apresentado no texto, “O acendedor de lampiões”, em que consiste a “triste ironia” a que o enunciador se refere? Assinale a alternativa correta:

  23. 53

    ENEM PPL 2009

    Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos — e, antes de começar, digo os motivos por que silenciei e por que me decido. Não conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas e, assim, com o decorrer do tempo, ia-me parecendo cada dia mais difícil, quase impossível, redigir esta narrativa. Além disso, julgando a matéria superior às minhas forças, esperei que outros mais aptos se ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como adiante se verá. Também me afligiu a idéia de jogar no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de romance; mas teria eu o direito de utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repetindo palavras contestáveis e obliteradas? RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2000, v.1, p. 33.   Em relação ao seu contexto literário e sócio-histórico, esse fragmento da obra Memórias do Cárcere, do escritor Graciliano Ramos, 

  24. 54

    UFABC 2007

    Rosa de Hiroxima Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas, oh, não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada (Vinícius de Moraes)   A respeito do poema de Vinícius de Moraes, é possível afirmar que  

  25. 55

    ENEM - 3 APLICACAO 2016

    Chegou de Montes Claros uma irmã da nora de tia Clarinha e foi visitar tia Agostinha no Jogo da Bola. Ela é bonita, simpática e veste-se muito bem. [...] Ficaram todas as tias admiradas da beleza da moça e de seus modos políticos de conversar. Falava explicado e tudo muito correto. Dizia “você” em vez de “ocê”. Palavra que eu nunca tinha visto ninguém falar tão bem; tudo como se escreve sem engolir um s nem um r. Tia Agostinha mandou vir uma bandeja de uvas e lhe perguntou se ela gostava de uvas. Ela respondeu: “Aprecio sobremaneira um cacho de uvas, Dona Agostinha.” Estas palavras nos fizeram ficar de queixo caído. Depois ela foi passear com outras e Iaiá aproveitou para lhe fazer elogios e comparar conosco. Ela dizia: “Vocês não tiveram inveja de ver uma moça [...] falar tão bonito como ela? Vocês devem aproveitar a companhia dela para aprenderem”. [...] Na hora do jantar eu e as primas começamos a dizer, para enfezar Iaiá: “Aprecio sobremaneira as batatas fritas”, “Aprecio sobremaneira uma coxa de galinha”. MORLEY, H. Minha vida de menina: cadernos de uma menina provinciana nos fins do século XIX. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997. Nesse texto, no que diz respeito ao vocabulário empregado pela moça de Montes Claros, a narradora expõe uma visão indicativa de

  26. 56

    UEM-PR 2017

    Emergência Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo — para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado. QUINTANA, Mário. Disponível em: www.revistabula.com. Acesso em: 5 fev. 2017. Não é rara a coexistência, em um texto, de diferentes funções da linguagem, em razão das intenções autorais, voltadas para o enfoque deste ou daquele elemento da comunicação. No poema Emergência, ainda que se possa reconhecer a preponderância de uma delas sobre as demais, identificam-se as funções

  27. 57

    ENEM 2002

    Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve influência significativa em sua carreira de escritor. “Lembro-me de que certa noite — eu teria uns quatorze anos, quando muito — encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam “carneado”. [...] Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode agüentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? [...] Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.” VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. Porto Alegre: Editora Globo, 1978. Nesse texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo define como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura,

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    UEMA 2016

    Procura da Poesia  [...] Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. [...] Não forces o poema a desprender-se do limbo. Não colhas no chão o poema que se perdeu. Não adules o poema. Aceita-o omo ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço. Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma em mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? Repara: ermas de melodia e conceito, elas se refugiaram na noite, as palavras. Ainda úmidas e impregnadas de sono, rolam num rio difícil e se transformam em desprezo. ANDRADE, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. A Rosa do Povo, de Drummond, foi publicada em 1945, ao final da Segunda Guerra Mundial, e traz alguns poemas que enfocam anseios e questionamentos advindos desse momento histórico. Levando em conta o verso “Trouxeste a chave?”, pode-se inferir uma voz

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    UNIPAM 2012

    Numere a 2ª coluna, composta de fragmentos de textos poéticos, com a 1ª, composta de diferentes modos como a vida pode ser abordada por escritores de épocas distintas. (1) Vida como momento de consciência de efemeridades. (2) Vida como momento de distanciamentos amorosos. (3) Vida como momento de reflexões metafísicas. (4) Vida como momento de refúgios sem destinos.   ( ) Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? sempre, e até de olhos vidrados, amar? [....] Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. [...] (Carlos Drummond de Andrade) ( ) Nise? Nise? onde estás? Aonde espera Achar te uma alma, que por ti suspira, Se quanto a vista se dilata, e gira, Tanto mais de encontrar te desespera! [...] Nem ao menos o eco me responde! Ah como é certa a minha desventura! Nise? Nise? onde estás? aonde? aonde? (Cláudio Manuel da Costa) ( ) Discreta e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo a qualquer hora Em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia: [...] Oh não aguardes, que a madura idade Te converta em flor, essa beleza Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. (Gregório de Matos) ( ) Eu durmo e vivo ao sol como um cigano, Fumando meu cigarro vaporoso; Nas noites de verão namoro estrelas; Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso! [...] Tenho por palácio as longas ruas; Passeio a gosto e durmo sem temores; Quando bebo, sou rei como um poeta, E o vinho faz sonhar com os amores. (Álvares de Azevedo) Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA

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    PUC-CAMPINAS 2015

    Lê-se numa crônica de Manuel Bandeira, escrita em 1934:   Tenho um amigo que andou alguns anos na Alemanha onde gozou, como bom brasileiro, da liberdade de costumes que vai por lá. Mas parece que houve um momento em que se descuidou, e o resultado foi uma paternidade, bravamente aceita. Voltou para o Brasil, veio depois a vitória nazista, e agora chega uma carta em que se lhe pede que prove perante os tribunais alemães a sua qualidade de ariano. (...) A carta acabava como acabam hoje todas as cartas dos alemães que se conformaram com o nazismo – com um “Heil Hitler!”, como quem diz “ciao”. (Crônicas inéditas. São Paulo: Cosac Naify, 2009, p. 160. Org. por Julio Castañon Guimarães)   Soube-se depois que esse “amigo” a que discretamente se referia Manuel Bandeira era Sérgio Buarque de Holanda, autor de Raízes do Brasil, um clássico da época, assim como o foi Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre.     A respeito do texto acima é correto afirmar:

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