Para problematizar o tema com propriedade, é fundamental fazer uma boa interpretação dos textos de apoio, pois é por meio do direcionamento da coletânea que será possível identificar aspectos importantes a serem discutidos. É preciso analisar o que o recorte temático explicita como situação-problema: há termos como desafios, problema? Esse já pode ser um indício do que pode ser discutido.
Algumas perguntas podem auxiliar na problematização:
“Qual é a importância dessa questão para a sociedade atual?”
O tema faz referência a leis ou direitos e os relaciona a problemas atuais?
“Ocorreu algum fato ou evento de grande repercussão relacionado a essa temática que suscitou um debate?”
Observe como debates tendem a surgir (ou ressurgir) depois de algum acontecimento polêmico, por exemplo: um crime bárbaro é cometido por um menor de idade ou com a participação de um menor e a sociedade volta a debater a redução da maioridade penal; uma lei é sancionada e posteriormente se discutem seus efeitos, como no caso da Lei Seca e Lei Maria da Penha.
Também é possível relacionar os termos principais apresentados no recorte temático. Veja, exemplo, o tema da Fuvest 2015:
“Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia
Em primeiro lugar, é importante entender os conceitos apresentados na frase. O que se entende por “camarotização” da sociedade brasileira?
Uma possibilidade de encaminhamento seria questionar: De que maneira esse processo se relaciona com a segregação social? A camarotização provoca segregação social? E esse processo afeta a democracia de alguma forma?
A coletânea vai ajudar a delimitar o contexto em que essa discussão está inserida.
Esses questionamentos servem para compreender, de fato, o que está sendo discutido. Depois que se compreende a problemática envolvida, é preciso refletir sobre qual é a nossa opinião sobre esse quadro. É com base nesse posicionamento que a tese será formulada.
Um encaminhamento possível:
“Camarotização”, segundo consta no enunciado, é o nome dado à tendência de manter segregados os diferentes estratos sociais. Nos textos da coletânea, são abordadas situações em que essa segregação ocorre, quando pessoas mais ricas escolhem serviços diferenciados, em espaços exclusivos. Desse modo, a convivência entre classes diferentes diminui cada vez mais. Quem tem maior poder aquisitivo deixa de usar serviços públicos e, por consequência, exigir maior qualidade deles. Além disso, perde-se a oportunidade de conviver com a diversidade, partilhar uma vida em comum e negociar para resolver diferenças, o que deveria ser pressuposto em uma democracia.
Entretanto, se não há convivência com a diferença, se não há a ideia de se lutar por um bem comum, como se pode construir uma sociedade democrática? Num país como o Brasil, em que os mais ricos pagam por melhores escolas, hospitais, segurança particular e uma infinidade de serviços VIP, os mais pobres submetem-se à ineficiência dos serviços públicos, e as perdas sociais são enormes.
Em decorrência disso, a sociedade se torna cada vez mais cindida e a representatividade popular diminui, uma vez que as classes mais abastadas, sua maior parte, não se mobilizam para exigir serviços públicos de qualidade, por exemplo.
O que se pode avaliar, portanto, é que a camarotização promove uma segregação social maior no Brasil, e esse processo afeta a democracia.
No entanto, para que a problematização de fato sirva para encaminhar a tese, é preciso que a opinião do autor fique explícita na redação, então é preciso pensar: “o que eu penso sobre essa situação?”; “meu ponto de vista tende a ser mais pessimista ou mais otimista nesse caso?”.
Pode-se, por exemplo, avaliar que a democracia no Brasil é afetada negativamente pela segregação social; sendo assim, a “camarotização” se mostra extremamente nociva para a vida em sociedade e a democracia. Essa poderia ser uma tese.
É possível pensar em vários outros pontos de vista sobre o tema; mas é necessário sempre que a opinião do autor (expressões qualificadoras e modificadoras) seja expressa na análise. Com um posicionamento claro sobre o tema, é possível pensar nos argumentos que serão usados para sustentar a tese e planejar o que vai ser apresentado em cada parte do texto.